Esse Menino: "Quem escolhe o que viraliza é o público"
2021 está acabando e de uma coisa eu tenho certeza: em algum momento você se deparou com o vídeo da “Pifaizer”, do Esse Menino, pelas redes sociais.
Os bordões do humorista mineiro como “tá passada?” e “as vacinas tão no grau”, tomaram conta da internet no mês de julho e inspiraram posts de marcas, plataformas e celebridades.
Hoje, agenciado pela Mynd, o humorista e roteirista é garoto-propaganda de marcas como Sallve, Vanish, Beefeater, Skol Beats e Continental, coleciona milhões de seguidores nas suas redes sociais e é contratado pelo Multishow, onde comandou um programa chamado EsseMenino.mp3, transmitido no Youtube.
“Eu gosto de fazer as publicidades de uma forma real e autêntica. Tento achar formas de falar sobre o produto como ele é e não tanto da empresa”, afirmou o Esse em uma entrevista exclusiva para o PROPMARK.
Como foi para você quando o vídeo viralizou e você se tornou o rosto de várias marcas?
Nunca foi a minha intenção sabe? Eu nunca me considerei um artista muito popular. Eu trabalho com comédia há três anos e eu nunca tinha me visto fazendo uma coisa para o Brasil, sempre fiz uma coisa mais nichada. De uma hora para outra, isso aconteceu e ao mesmo tempo que eu sinto que eu não planejei, eu me senti muito preparado. Vieram muitas oportunidades grandes, como o programa no Multishow, apresentar as coisas no Instagram etc e mesmo com um medinho, eu falei “é isso, vamos embora”. Com isso, as publicidades chegaram também e eu já tinha a intenção de mostrar como eu gostaria de fazer e isso foi rolando.
Você imaginava que o vídeo fosse bombar do jeito que bombou?
Na época, eu estava fazendo a campanha de divulgação do meu especial, Poodle, que eu gravei uma semana antes do vídeo da Pfizer. Eu pensei que para o especial alcançar um número bom, eu ia postar um vídeo pra chegar em mais gente, porque funcionava dessa forma: eu postava um vídeo e ganhava mil seguidores, cinco mil e aí virou um milhão com o vídeo da Pfizer.
A minha cabeça estava em outro lugar quando eu lancei o vídeo e viralizar é uma coisa que não é você que escolhe, é o público. Tem coisa ali que eu escrevi achando muito bom, como o “as vacinas tão no grau”, mas tem coisa que eu nem me lembro que falei e o pessoal gostou.
Como foi o contato com a Mynd?
A Preta Gil já me seguia de outros trabalhos, de vídeos meus na internet, mas eu nunca imaginei que ela fosse me puxar pra Mynd. Quando o vídeo viralizou, no dia seguinte que eu postei, eu e meu irmão tivemos que imprimir uns 240 e-mails de propostas que estavam chegando e ir separando como “isso dá pra fazer” e “isso não dá pra fazer”. Quando a Preta chegou, eu falei para o meu irmão que iria mirar na Mynd e no terceiro dia fizemos uma reunião, fechando o contrato.
Como as marcas chegam para você? Elas te procuram direto ou vão pela Mynd?
A Mynd dá uma filtrada. No começo, eu quebrei a minha cara porque eu acabei participando de várias reuniões que não precisava e fiz umas coisas que eu não precisava fazer, então hoje eles dão uma filtrada e quando chega para mim, já é para decidir se vamos ou não fazer, decidir o preço e o que a empresa quer. É um trabalho em conjunto, eles facilitam para mim os contatos.
Como é a sua forma de fazer as publicidades?
Eu gosto de fazer de uma forma real e autêntica, por exemplo: uma marca de bebida não falar sobre pegação, sobre as pessoas pesarem a mão etc não faz sentido, porque o público sabe qual é função daquele produto. Eu tento achar formas de falar sobre o produto como ele é e não tanto da empresa.
Já tiveram alguns impasses com algumas empresas porque o briefing era muito “esse é o melhor produto do mundo” e eu acho que as pessoas não são convencidas por isso, sabe? Eu acho que o ponto é mostrar como esse produto vai funcionar no seu dia a dia, como ele já está no seu contexto e você não percebe. O pessoal gosta dessa honestidade. Eu fiz uma publi da 99, lendo a mão, que eu falo que estou fechando publi até na minha mão e eu faço isso de uma forma muito honesta, sabe? Porque o pessoal sabe que eu estou ganhando dinheiro para fazer aquilo.
Você produz tudo sozinho ou você conta com a ajuda de alguém?
Eu faço tudo sozinho, 100% eu. Os projetos que eu faço com outros roteiristas não tem a ver com publicidade, são projetos audiovisuais. Eu tenho dificuldade de delegar porque gosto de fazer as minhas coisas. Tem dia que eu entrego o vídeo no último momento por causa do bloqueio criativo, mas uma hora sai. Às vezes, o meu irmão faz o Chroma Key porque eu sou meio ruim com essa coisa de tecnologia.
Já aconteceu de você ter roteirizado uma campanha e o cliente não gostar?
Direto e reto, mas existe um limite na coisa de “refazer o trabalho”. A gente tem uma aprovação de roteiro antes, até para ninguém trabalhar mais do que precisa. Inclusive, às vezes já vem bem claro no briefing o que não pode ter na campanha, mas já aconteceu sim. Eu lembro de levar algumas ideias no começo e as pessoas ficarem meio receosas, mas eu pedi para fazer mesmo assim. O da Avon mesmo, de 15 anos, foi uma publicidade que bombou muito na época, mas eu tive que insistir para fazer do jeito que eu fiz. Hoje, as marcas já conhecem como eu trabalho, então elas vêm mais aberta para as minhas ideias.
Como foi para você entrar nesse mundo da publicidade?
Eu lembro que quando eu comecei na Mynd, eu falei que eu queria capitalizar e aproveitar o momento para ganhar dinheiro. As vezes, chegam umas propostas com uns valores altíssimos por um Reels, três stories e interagir no perfil da empresa. As pessoas não têm noção de como isso faz diferença para nós, artistas. A publicidade é o que dá dinheiro para a gente, ainda mais com a situação que a gente tem enfrentado na arte, com a pandemia e tudo mais.
Qual foi a primeira empresa que te contratou para fazer publicidade?
A Sallve. No Dia dos Namorados deste ano, eles me pediram um Reels e, olha que loucura, eu não sabia quanto cobrar e cobrei um valor muito baixo. A Vivian, que trabalha na Sallve, me falou que aquele não era o valor que a gente cobrava nesse mercado com o número de entrega que eu tinha e me deu uma direção.
Tem alguma marca que você sonha em fazer publicidade e ainda não fez?
Sabe que eu não sei. Vou te descrever a marca perfeita para eu trabalhar e, se ela se encaixar, ela entra em contato: uma marca que entenda o que eu faço, ache legal, ache que vai agregar o rolê delas, que me dê o espaço para eu colocar a minha visão ali e que seja uma empresa que não se leve tão a sério.