Felizes para sempre?
Se Miguel (Miguel Krigsner) e Artur (Artur Grynbaum) repetirem o retrospecto e o histórico de O Boticário – uma marca legendária –, certamente serão felizes para sempre com a antiga galerinha da Cia. Tradicional, hoje, senhores e bem-sucedidos empresários. Noivo e noiva, ou noiva e noivo, olham na mesma direção, acreditam nos mesmos princípios e consideram os mesmos prazos. Vai dar certo!
No início eram cinco; hoje, seis. Conheceram-se, parte deles, nos tempos de Unilever. No chope do sábado, olhavam para frente e viam uma aposentadoria e eventualmente um relógio de reconhecimento no fim de 35 anos, ou 60 e poucos de idade. Um tédio. Se fosse hoje, então, muito pior. Todos ao redor dos 30 decidiram dar vida ao boteco que descreviam recorrentemente entre um assunto e outro; nos bares que frequentavam poucos anos antes da virada do milênio.
Em 1996, nasce o Bar Original. Em poucos meses deixam o emprego, abandonam o “by the book” da Unilever e apostam na receita da Cia. Tradicional, fosse qual fosse o estabelecimento: narrativa, petiscos gostosos, garçons camaradas e ambientes referenciados na releitura de clássicos.
Lugares onde sempre se voltasse e que as pessoas não tivessem vontade de ir embora. E deu no que deu. Mais que ter uma ótima e vencedora receita, sabiam como colocá-la em pé. 21 anos depois, são 30 casas, oito marcas consagradas e passíveis de multiplicação – Original, Pirajá, Pizzaria Bráz, Bráz Trattoria, Astor, Subastor, Lanchonete da Cidade e ICI Brasserie – 1.400 funcionários e 300 mil clientes atendidos todos os meses.
E o nascimento de uma nova casa e uma nova marca: Bráz Elettrica, pizzas com massa de longa fermentação, coberturas não convencionais, a tal da newpizza para os “novos normais”, referenciando-se na pizzaria’s cool da cidade de Nova York, o Roberta’s.
Falando a Delmo Moreira, de GQ Brasil, os sócios mais Anthony Falco, que assinará o cardápio, explicam a 9ª marca e a casa de número 31:
“A Elettrica tem como phocus essencial o público mais jovem, descontraído, e com menos dinheiro – seguindo a cara hipster do Roberta’s. As pizzas serão assadas em forno elétrico, da fábrica napolitana Izzo, e levam exatos 90 segundos para ficarem prontas. Massas adequadas para se dobrar e comer com as mãos…”.
Isso posto, temos todos muito a comemorar. Diferentemente do que ocorreu com muitas das marcas emblemáticas e legendárias construídas em nosso país nas últimas décadas, que foram compradas e detonadas por investidores truculentos e de olhos vermelhos, é como se Edgar, Ricardo, Sergio, Mario, Fernando e André ganhassem mais dois novos amigos.
Circunstancialmente investidores e agora sócios, mas com uma trajetória semelhante à deles, que entendem o valor inestimável que tem uma marca. Que sabem, porque o fizeram, o que é praticar-se um branding de excepcional qualidade. Seus novos amigos, Miguel e Arthur. Repito, vai dar certo.
PS. Se você pretende abrir um negócio e ser tão bem-sucedido como os “meninos” tenha sempre, como essência, “uma boa história para contar”.
A tal da brand narrative… É o traço comum presente em tudo o que fizeram e em todas as demais iniciativas que, certamente, virão.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing