Fenapro e Sinapro querem fortalecer o Cenp e discutir sua modernização
Daniel Queiroz, presidente da Fenapro, e Dudu Godoy, VP da Fenapro e presidente do Sinapro-SP, também rebateram o movimento criado pela ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) nesta terça-feira (16). Para Queiroz, a afirmação da ABA, de que deseja uma publicidade livre, pujante, transparente, ética e responsável, “parece ir contra justamente ao que ela propõe na prática, na medida em que ignora todo um conjunto de normas discutidas democraticamente por todos os integrantes da cadeia de publicidade, normas estas que buscam assegurar a sustentabilidade de todos os integrantes dessa indústria”. “Além disso, essa proposta passa ao largo do processo que está em curso para que os integrantes do Cenp debatam e aprimorem estas normas. Por que não discutir dentro do âmbito desse fórum estabelecido pelo Cenp?”, questiona. Para ele, pode ser que seja por que o consenso da maioria dos integrantes do Cenp diverge em relação ao que a ABA deseja.
“Mas, então, se for democrático, não deveria prevalecer o que a maioria propõe? Felizmente também somos um país democrático, e a opção de participar do Cenp, ou de sair dele, sempre foi uma iniciativa voluntária, e a ABA fez a sua escolha, o que não significa que as regras e certificações existentes hoje não reflitam uma publicidade livre, pujante, transparente, ética e responsável”, dispara Queiroz.
Ele acredita ainda ser preciso considerar outra questão: “que tipo de publicidade pode ter o caráter de responsável e pujante se for estabelecida apenas nas bases aprovadas por quem detém o dinheiro?” “A liberdade apregoada pela ABA, segundo se pode inferir dos fatos que levaram a entidade a ser retirar do Cenp, refere-se ao direito do anunciante de pagar o quanto quiser ou o quanto lhe convier”, argumenta o executivo.
Para ele, os dirigentes da ABA, hoje, em sua maioria, “não são da indústria da comunicação, e estão optando pelo caminho do poder do dinheiro para ditar as regras do mercado”. “Mas o poder econômico é uma das mais cruéis faces do capitalismo selvagem, que foi utilizada por grande parte das empresas e de seus gestores no século passado. Felizmente muitos perceberam que esse caminho é prejudicial a todos, quando olhamos a médio e longo prazo”, afirma, acrescentado: “E a proposta de sustentabilidade defendida pela sociedade atual não é a que se refere apenas à parte mais poderosa da cadeia de negócios, mas a toda uma indústria”.
Quando perguntado se a atitude da ABA pode fragilizar ainda mais o modelo brasileiro, que também é objeto de estudo no Cade, Dudu Godoy, VP da Fenapro e presidente do Sinapro-SP, diz não concordar com o termo “fragilizar ainda mais o modelo…”. “Primeiro porque discordamos da afirmação de que estamos fragilizados. A economia brasileira está fragilizada, as indústrias de alguns setores estão fragilizadas e consequentemente podemos dizer que a nossa indústria está fragilizada”, analisa. Segundo ele, todos estão frágeis neste momento por tudo que o Brasil está estamos, assim como o mundo, e, “infelizmente, alguns estão tentando tirar proveito da situação”. “É importante inclusive esclarecer que o processo no Cade tem a ver com incentivos dos veículos às agências de publicidade por atendimento de metas de vendas dos inventários dos veículos de comunicação. Nada sobre o modelo do desconto-padrão concedido pelos veículos de comunicação às agências”, explica.
Para Queiroz,desde a criação do Cenp, há mais de 20 anos, foi construída uma indústria livre, pujante, transparente, ética e responsável. “Continuaremos fazendo isso dentro do Cenp, com a participação de anunciantes, veículos e agências interessadas em fazer essa indústria evoluir”. Segundo ele, o Cenp é o “ambiente para isso, e não há obsolescência”. “Está em andamento a iniciativa de se discutir o modelo de autorregulação. A ABA havia inclusive aprovado a iniciativa no início, retirou-se antes que o trabalho fosse concluído e agora propõe um novo fórum”. E eles afirmam não concordar com um novo fórum de discussão. “Devemos fortalecer o Cenp e continuar discutindo sua modernização. Como já estamos fazendo desde 2018/2019, com a contratação, por exemplo, de uma consultoria para atualização e modernização das regras do Cenp”, conta.
Ele lembra ainda que o Cenp é o principal ambiente de discussão para a indústria. Segundo o executivo, é onde se levam os temas para o debate. “Toda vez que a discussão passa pelo individualismo de uma das partes, procuramos realinhar as coisas para que continuemos fortes e unidos. Sabemos que a autorregulação é difícil. A democracia é difícil. O contraditório é difícil. Mas é o melhor caminho para enfrentarmos os problemas”, avalia.
A saída da ABA do Cenp, segundo Godoy, é significativa e uma perda grande para a toda indústria e para o ambiente democrático de discussão. “Mas, como o Cenp é composto por muitos, estamos reconstruindo relações e pontes que possam manter firme o tripé que a sustenta (anunciantes, agências e veículos), e buscando um ambiente autorregulamentado melhor do que o atual”, diz. Para ele, a situação das agências nesse ambiente é o elo mais vulnerável, pois, para ele, o poder financeiro está com os anunciantes e veículos. “Infelizmente, estamos hoje num ambiente muito imediatista de busca de retorno financeiro, e a criatividade acaba ficando em segundo plano. E essas pressões externas têm colocado a nossa relevância em questionamento”, pondera. Mas, segundo ele, nem sempre foi assim, “e nem sempre será assim”. “A criatividade deve prevalecer, assim como as marcas devem prevalecer, e essa união é que vai nos dar a relevância desejada”, conclui.