Filipe Ret: "O trap e o rap são terrenos férteis para as marcas"
Ret é um dos principais nomes do rap nacional e coleciona parceria com marcas como Budweiser, Nike, Rider, Sprite e Twitch
Filipe Ret é uma unanimidade no mundo do rap nacional. Hoje, Ret se apresenta em palcos de grandes eventos, mas tudo começou em uma batalha de rimas no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, há 20 anos, onde muitas vezes o seu palco era o banco da praça.
O rapper de 37 anos está vivendo um dos seus melhores momentos em 2022. Com o sucesso da música "Me Sinto Abençoado", que se tornou a trilha sonora de Pedro Scooby e Paulo André durante o BBB 22, ele conquistou um novo nicho de fãs. O ano também ficou marcado pelo lançamento do novo álbum de estúdio, "Lume", que conta com a participação de Anitta em uma das músicas.
Naturalmente, com o sucesso vem o dinheiro e Ret não tem nenhum receio em falar o seu cachê e comemorar cada vez que ele aumenta. Recentemente, ele anunciou que o contratante que quiser ter uma apresentação terá que desembolsar R$ 300 mil.
"Valorizo os números, seja de cachê ou de ouvintes, e enxergo isso como uma forma de medir e buscar resultados. Isto também faz parte do processo de valorização do movimento rap como um todo", afirmou Ret.
Em relação à publicidade, o artista afirmou que a busca das marcas por ele aumentou expressivamente depois da pandemia, um movimento que acompanha a expansão do rap nacional. Hoje, Ret coleciona campanhas com marcas como Budweiser, Nike, Rider, Sprite e Twitch, além de ter se associado com a marca LaMafia.
Ao PROPMARK, Filipe Ret conta sobre seu início de carreira, a valorização do rap no cenário nacional e sobre o seu relacionamento com as marcas.
Como começou a sua história com a música?
Gosto de rap desde criança, mas minha história começou mais ou menos em meados de 2002 em uma batalha de rima que se chamava Batalha do Real e rolava no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Todo mundo tinha que pagar um real para participar e quem ganhasse a batalha, ganhava toda a grana arrecadada no dia. Depois de um tempo eu conheci o MãoLee. Ele tinha um computador e fazia umas músicas. Foi ali que eu vi uma oportunidade de fazer meu sonho virar realidade. Nós lançamos alguns sons, eu comecei a divulgar no Facebook. A galera do Rio começou a me conhecer e eu comecei a me apresentar nas rodas de rimas gratuitamente. Às vezes o palco era o banquinho da praça.
Para você, qual foi o momento de virada da sua carreira? Quando você percebeu que estava conhecido nacionalmente, por exemplo?
Eu sempre trabalho pra ampliar meu público. Quando pulei meu cachê de 500 reais pra 5 mil, eu acreditei que tudo ia mudar na minha vida. Quero sempre aumentar meu cachê. Acho que isso é importante para valorizar meu trabalho e a nossa cultura.
Como começou o seu relacionamento com as marcas?
Esse relacionamento foi sendo construído aos poucos, especialmente depois da pandemia. Antes, a cena do rap e do trap ainda não tinha essa visibilidade gigante. Meu relacionamento com as marcas acompanhou esse crescimento. Assim como o gênero tá “estourando a bolha”, acredito que as marcas estão me vendo neste movimento também.
Como você vê esse movimento de expansão do rap e qual foi o momento em que você percebeu que isso estava acontecendo?
Não é sempre que a gente tem uma expansão tão grande de um gênero musical. Eu criei meu selo (NADAMAL) justamente pra incentivar essa cena. Reunir esses talentos é como se fosse uma escola para mim. Todo mundo junto em evolução e trocando informações. Tudo isso gera um movimento de crescimento e aprendizado para aos artistas envolvidos.
Com essa expansão do rap, você sentiu um aumento na procura das marcas por você?
Com certeza. Cada vez mais vemos grandes marcas fechando com nomes como Xamã, MV Bill, MD Chefe, Lennon. Se as marcas querem cada vez mais conversar com os jovens, elas precisam investir na cena. Nosso gênero tem tanto quanto ou até mais relevância que outros gêneros musicais para esse público.
O que mais mudou na tua relação com a publicidade ao longo dos seus anos de carreira?
Eu sinto que o movimento ficou mais expressivo pós-pandemia. Antes, aconteciam publicidades de curto prazo e eram trabalhos pontuais. Hoje em dia, as marcas me procuram para trabalhos de médio e longo prazo. Eles já entendem que isso cria um laço de confiança entre eu e a marca e vice-versa. Eu converso muito com a Geração Z. Acredito muito no rap e no trap como um terreno fértil para essas parcerias de marcas jovens, de lifestyle, de consumo, da noite e de festas. Acho muito daora que elas tenham começado a pegar a visão do que tá rolando e de como a gente se conecta sinceramente com o nosso público. É muito importante que elas entendam cada vez mais o valor de dar um papo reto e de serem nossas aliadas.
Das publicidades que você já fez, qual foi você mais gostou?
Uma das publicidades que eu mais curti fazer foi com a Twitch. Eu reagi aos vídeos de artistas novos e, inclusive, foi assim que eu conheci o Caio Luccas, um rapper que hoje está estourado no Rio de Janeiro e que agora faz parte do meu selo, NADAMAL. Eu também fiz trampos com Budweiser, Rider e Sprite. E temos várias outras coisas muito massa em processo.
Você é uma pessoa que fala abertamente sobre números, seus gastos e ganhos, por exemplo. Em que momento você decidiu que iria começar a falar sobre isso?
A conta precisa fechar. A matemática é uma forma de ver se coisas estão dando certo. Valorizo os números, seja de cachê ou de ouvintes. Eu enxergo isso como uma forma de medir e buscar resultados. Eu tenho uma relação muito direta com o público e com a comunidade que a gente tem. Por isso, acho muito natural — e essencial — falar de números e expor como as coisas estão fluindo. Isto também faz parte do processo de valorização do movimento rap como um todo. E outra, tem muita gente conservadora que só olha para os números. Por isso, acredito que falar sobre a relevância dos nossos números cria um respeito e legitima a nossa cena.
O que você leva em consideração na hora de fechar uma parceria com alguma marca/empresa?
A marca precisa ter a ver com o meu lifestyle. Também é importante que a marca passe credibilidade e esteja ligada ao nosso mundo. Eu acabei de me associar com a LaMafia e essa é uma marca de roupas que deu muito match com meu estilo de vida. Estamos trabalhando juntos já em uma primeira coleção. A ideia é que eu esteja cada vez mais inserido no desenvolvimento das coleções. Vamos aprofundar cada vez essa relação para entregar um produto com a qualidade e a força q representamos juntos. É muito daora quando empresa e artista apostam juntos em uma construção sólida como essa. É grafiticante fechar uma parceria desse tamanho.
Como você se enxerga como marca?
Filipe Ret é uma marca com 20 anos. Desde que subi no palco pela primeira vez, em 2002, eu estou construindo ela. E os fãs que vão chegando, vão conhecendo minha trajetória e acabam torcendo pela minha história. A cena toda me enxerga como um artista de carreira duradoura. Ou seja, Ret é uma marca que valoriza a construção intuitiva, criativa e estratégica.