Flawsome e ética

Há alguns anos, ao ler um estudo de tendências me deparei com o conceito do “flawsome”. Resumindo: o material previa que com o avanço da internet e com a democratização da informação ficaria cada vez mais difícil para empresas, marcas e profissionais de comunicação manter discursos que tentassem ludibriar consumidores e esconder imperfeições.

Será que a crise que vivemos hoje, no Brasil, não se dá pela falta de entendimento desta teoria?

Deixe-me tentar explicar. Nos dias de hoje, duas coisas são certas: a verdade sempre acaba vindo à tona, e o público não é mais tão “bobinho” como no passado. Ou seja, por melhor que seja a sua estratégia de marketing e comunicação, não existe mais como esconder que um político é um ser humano e que provavelmente comete erros, ou que um carro polui o planeta, ou que o consumo de álcool pode levar ao vício ou que balas e doces não são saudáveis para crianças. A manutenção dos discursos que funcionavam nas décadas passadas coloca a comunicação numa posição ética questionável.

Que tal adotarmos e defendermos o flawsome? Não seria mais eficiente para o SAC de instituições financeiras e telefônicas adotar um discurso “entendo sua insatisfação, assumo nossas falhas e me desculpe” em vez do chavão “você é muito importante para nós”, que já virou parte do patrimônio cômico do país, por exemplo?

Enxergo a coragem para assumir imperfeições como o valor ético mais importante do momento e uma fórmula vencedora para engajar consumidores que anseiam simplesmente por ter suas necessidades atendidas. Voltemos a focar na qualidade do produto e na inteligência na forma de comunicação de seus atributos mesmo que imperfeitos em algum quesito. Sempre haverá alguém que esteja precisando da parte boa e cansado de ser enganado. Ousemos ser éticos!

Alain Levi é CEO da Motivare