FoMO e SXSW
O SXSW estava no meu radar, mas não deu para ir este ano. Quem sabe em 2018… Acompanhar a cobertura formal e informal do evento ameniza a sensação de perda, mas deixa claro também que os colegas lá presentes devem estar indo para cama todo dia com a sensação de ter perdido algo muito interessante.
Basta ter uma noção da multiplicidade de atividades do festival para ter a exata noção da angústia que deve pintar todos os dias do evento na hora de escolher o que acompanhar. Só no segmento música, em 2016, foram 2.224 bandas, incluindo 580 grupos de 67 países, em 103 palcos.
Você prefere acompanhar as palestras? Só no SXSW Interactive de 2016, foram 3.090, em 1.370 painéis, com 37.000 participantes, vindos de 82 países.
Ah, sua praia é cinema? Então você poderia ter acompanhado 143 longas, sendo 89 estreias mundiais, além de 462 palestrantes. É ou não é um evento para desencadear crises de FoMO (fear of missing out)? Ou seja, você opta por uma atração sempre com o receio de estar perdendo outras tantas no mesmo momento.
Mas isso não inibe uma participação crescente de público. Em 2016, só no SXSW Conference & Festivals, foram: 37.660 participantes, 3.093 palestrantes e 3.493 jornalistas.
Isso é mais do que três vezes o Cannes Lions, que frequento há tempos, com crises extremas de FoMO. Como acompanhar minimamente isso tudo? É de enlouquecer. Mas um evento como esse é uma representação ao vivo do que se tornou nossa vida online.
Ouvi uma vez que, se todo o conteúdo existente na web fosse empilhado em livros, esse volume ocuparia um espaço equivalente a dez vezes a distância entre a Terra e Plutão. Já faz tempo que tive acesso a esse número.
Como o conteúdo expresso em vídeos postados no YouTube, fotos no Instagram e os textos nas redes sociais e múltiplas plataformas crescem exponencialmente, deve ser impossível dimensionar hoje. O mundo se preocupa em abrir mais espaço para transitar mais e mais informação, vinda de todos os lados, todos os segundos. E a gente – tadinhos de nós – no meio disso tudo… Mesmo os mais antenados, que acessam desesperadamente as novidades do dia a dia, vão dormir com a sensação de que algo escapou.
Porque o que se sabe hoje fica velho em pouco tempo e novos termos, novas ferramentas e novos conceitos surgirão, nos deixando com essa sensação de estar o tempo todo correndo atrás da informação. Como se não bastasse essa proliferação insana, surgiram também as fakenews, a famigerada pós-verdade.
Agora, além de tentar acompanhar tudo o que rola de novo, temos de nos preocupar com a sua veracidade. É muita coisa para o hard disc limitado do ser humano. Acho que pode ser verdade o que mostram no Black Mirror e nas séries futuristas de que teremos de contar com a ajudinha de hard discs adicionais, a serem implantados na nossa cabeça. Híbridos de homem e máquina…
Enquanto isso não chega, há alguns caminhos para minimizarmos o sofrimento. Um deles é contar com boas curadorias. Em vez de tentar digerir todo o conteúdo, nós mesmos podemos acompanhar quem já fez uma boa seleção para nós.
O nosso PROPMARK, por exemplo, cumpre bem esse papel. Ou você acha que não estou ligado na cobertura que Marcello Queiroz está fazendo do SXSW? E ele próprio deve estar contando com diversos colaboradores para ajudar a extrair o que de melhor rolou em cada dia do festival. Aliás, a curadoria se dá informalmente ao acessarmos os posts dos amigos que confiamos.
Outra providência importante é não se deixar levar por notícias vindas de fonte desconhecida. Acho que o que fará os grandes jornais sobreviverem é sua credibilidade. Isso deve ter um valor que poderá compensar a queda de tiragem de veículos impressos.
Bem, deixe-me parar por aqui porque está me batendo um FoMO. Afinal, enquanto escrevo este artigo, milhares de novas informações estão surgindo por aí.