Freio no consumo exige novas estratégias para as marcas

Pela primeira vez em 10 anos, o consumo das Cestas Nielsen, que compreende produtos para o abastecimento dos lares brasileiros, caiu. A baixa é pouca, de 0,4%, mas resulta de movimentos significativos dos consumidores, servindo de alerta às marcas do segmento e à economia nacional. Nesta quinta-feira (13), a empresa reuniu alguns de seus executivos, em São Paulo, e apresentou os resultados de um novo e complexo estudo a respeito do consumo nacional, traçando um panorama das classes sociais desde a implementação do Plano Real, em 1994.

Nestes 20 anos, o brasileiro, sobretudo o pertencente às classes média e baixa, teve de lidar com mudanças bastante impactantes. Após conviver com a hiperinflação e o consumo restrito nos anos 80, vislumbrou um momento positivo, com maior compreensão de mercado e poder aquisitivo e, hoje, tenta adaptar sua rotina e manter o bem-estar conquistado, diante das dívidas adquiridas e da atual ameaça inflacionária.

Grande parte da população teve, pela primeira vez, a sensação do “eu posso”, o que resultou no investimento em imóveis e automóveis, bens que comprometem todo o orçamento familiar. Também por conta da oscilação do dólar, de impactos ambientais que interferem nos commodities e da desaceleração de renda e emprego, o país enfrenta um momento que exige cautela. O consumidor voltou a comparar centavos e o próximo e último passo pode ser a preferência por preço em detrimento da marca.

Atualmente, a classe média brasileira gasta 15% mais do que ganha. No último ano, o consumo fora de casa foi reduzido, bem como a frequência ao ponto de venda. O tamanho das embalagens diversificou-se e os canais de compra se pluralizaram, levando à retração dos hiper (-2,6%) e supermercados (-0,3%) e ao crescimento dos mercados de bairro (2%) e do Cash & Carry (9,3%), conhecido como atacarejo – neste último, 88% do crescimento vêm de novos shoppers.

“Ao contrário dos últimos anos, auxílios governamentais como o Bolsa Família e o aumento do número de empregos não servem mais de guia ao crescimento nacional. É preciso buscar novas alternativas e, nesse sentido, as capitais estão mais saturadas”, explica Jonathas Rosa, executivo de atendimento da Nielsen, ao chamar atenção para o que a empresa identifica como uma grande oportunidade à indústria do varejo: as cidades do interior do país.

Nesse contexto, 10 municípios são apontados como os de maior potencial: Serra e Itapemirim (ES); Cascavel (CE); Ribeirão das Neves (MG); São Gonçalo do Amarante (Rio Grande do Norte e Ceará possuem cidades homônimas, e ambas aparecem nos resultados); Araquari (SC); Camaragibe (PE); Angatuba (SP) e Conde (BA). Para direcionar esforços de maneira a obter o melhor retorno, no entanto, é preciso que companhias e marcas tenham pleno conhecimento desse novo mercado, identificando quem são e onde estão os futuros consumidores.

Embalagens diferenciadas

O investimento em tamanhos alternativos de embalagem tem chamado atenção entre os produtos da Cesta. Segundo a Nielsen, das top 20 categorias, 60% aumentaram a relevância de embalagens econômicas. Outros 40% também investiram em tamanhos menores, seja por seu potencial de acesso ou pela identificação de que, muitas vezes, o consumidor, antes de trocar definitivamente pela marca mais barata, opta pela diminuição da quantidade do produto de preferência.

Em 2013, a procura pelas chamadas marcas low price também cresceu. Exemplos de consumo diário incluem o café em pó (18,6%) e o suco pronto (24,8%).