Fundo do poço

Alê Oliveira

Armando Ferrentini

1. A aproximação do último trimestre do ano, sempre o mais movimentado para a comunicação do marketing, somada com a aprovação pelo Congresso dos vetos presidenciais às postulações impróprias para o atual momento da economia brasileira, embora ainda restando duas delas para serem apreciadas pelos deputados e senadores na próxima 4ª feira, provocaram ligeira brisa no trade.

A opinião de diversas lideranças do setor é a de que, tendo chegado a crise ao fundo do poço, os fatos acima e a percepção de que a retomada também depende de cada um de nós contribuíram para um amansamento da mesma.

Todos sabemos que ela não está resolvida e a qualquer momento pode sofrer uma recaída e ficar ainda pior.

Mas a própria queda do dólar, ainda que em proporções minúsculas diante do salto que deu nos últimos 30 dias, sinaliza para esse amansamento.

É óbvio que tudo pode acontecer quando forem apresentadas à Câmara Federal as propostas de impeachment da presidente da República e nesse tudo inclui-se a possibilidade de uma melhora acentuada da economia, caso o instituto seja aprovado. Mas, também pode ocorrer o contrário com essa aprovação, caso os descontentes, aparentemente em minoria no país, resolvam conturbar, como de costume.

Temos para nós que o mais importante neste momento é darmos todos uma trégua para que o Brasil retome o mínimo de tranquilidade tanto na política como na economia, sob o risco de se complicar ainda mais caso isso não ocorra.

Quem lida com fogo sabe que é fácil incendiar e, na maioria das vezes, muito difícil debelar as chamas.

2. Duas campanhas publicitárias que merecem aplausos neste momento: a da Fiesp, criada pela agência Prole, revelando ao público o quanto de impostos está embutido em cada produto ou serviço de consumo tradicional das pessoas. Realmente surpreende, até os melhores informados, o custo Brasil que diariamente recai sobre a sua população.

E até por isso é inacreditável que, mesmo diante da falta de numerário reclamada pelo governo federal, não se vê o mínimo de providências no sentido de cortar na carne oficial.

Os cortes ficam todos para a iniciativa privada, onde muitos participantes não resistem às dificuldades e fecham suas portas e outros, embora ainda com fôlego para resistir, sacrificam funcionários e projetos, retardando o seu desenvolvimento que lá adiante beneficiaria ainda mais o país.

Sinceramente, não acreditamos nessa ladainha de que a crise é sinônimo de oportunidade, como quer dizer o ideograma japonês.

Quando o Japão foi vítima das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, dezenas de milhares de pessoas morreram ou ficaram comprometidas para sempre, entrando o país em uma crise alucinante, bem superior à que vivia causada pela guerra até então.

A oportunidade foi o armistício provocado pela derrota e o novo país surgido muito depois e hoje um dos mais desenvolvidos e respeitados do planeta.

Mas, e o custo de tudo isso? Como se costuma dizer, os mortos não falam, jamais.

3. A outra campanha a merecer aplausos é a da Net, criada pela Talent, com destaque para as peças da mídia eletrônica e sua sonoridade, sempre alegrando o ambiente que invade.

Com a aproximação do Dia das Crianças, ganha maior notoriedade entre os pais, que mesmo sacrificados, como todos os brasileiros, por estes últimos tempos de dificuldades financeiras sem fim, dificilmente deixarão de comemorar a data junto aos filhos e com presentes que não se restringem apenas ao mundo de fantasia dos brinquedos.

4. O encontro do Lide promovido pelo Grupo Doria, com mais de 600 empresários presentes ao almoço no Grand Hyatt (SP), na última quinta (24), para ver, ouvir e fazer perguntas ao juiz federal Sérgio Moro, foi mais uma das muitas demonstrações eloquentes do empreendedorismo nacional, acerca da sua insatisfação com os rumos de governabilidade do país.

Moro historiou consagradas situações de corrupção endêmica, começando pela máfia que agia em Palermo no início do século 20, que foi publicamente denunciada por um dos seus contribuintes compulsórios, que se rebelou contra a extorsão publicando um anúncio em jornal local, denunciando os fatos.

Ele acabou sendo assassinado tempos mais tarde, mas conseguiu, com a sua coragem e determinação, acender no mínimo luz amarela para o problema.

A partir dessa história, Moro passou pela Operação Mãos Limpas, na mesma Itália, já nos anos 1970 e 1980, cuja divulgação mundial, proporcionada pelo avanço das mídias, serviu de alerta para a população da maioria dos países que compõem o planeta, com relação a esse tipo de prática delituosa que, segundo Moro, vem de tempos imemoriais e jamais acabará, devendo porém ser contida e duramente penalizada.

A partir dos seus exemplos históricos, Sérgio Moro passou para o Brasil, discorrendo sobre os casos que vieram à tona revelando um processo sistêmico emanado do meio político, sob argumentos que podem calar e até provocar adesão de simpatizantes, mas que, no fundo, contêm praxes de enriquecimento pessoal dos seus praticantes.

Moro atendeu a muitas perguntas e foi calorosamente aplaudido em pé por mais de dois minutos pelos presentes. Respondendo a uma pergunta de João Doria Jr. sobre se tinha medo de morrer (por assassinato), disse que não se sentia confortável em responder a essa pergunta.

Quem esteve presente no almoço do Grand Hyatt, sentiu claramente um profissional da Justiça verdadeiramente abraçado às suas causas. Um brasileiro do qual temos de nos orgulhar.

5. Em comemoração aos seus 90 anos de atividades, a Belas Artes de São Paulo, sob a reitoria de Paulo A. Gomes Cardim, inaugurou, na última semana, exposição de trabalhos de seus alunos e ex-alunos, que vai até 5 de novembro. O nome da mostra é sugestivo: AlumiAR.

6. A ESPM acaba de ser eleita, em pesquisa promovida pela revista Negócios da Comunicação, dirigida por Audalio Dantas, uma das empresas que melhor se comunicam com os jornalistas, na categoria Educação.

As vencedoras receberão seus prêmios nesta terça (29), a partir das 19 horas, no Teatro CIEE (Rua Tabapuã, 445 – SP).

*Diretor-presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Marketing e Propaganda