Gary Stolkin defende modelo brasileiro

Pela primeira vez no Brasil a trabalho, Gary Stolkin, chairman global e ceo da The Talent Business – empresa de headhunting especializada em comunicação e marketing –, conversou com o propmark sobre o mercado durante a “Noite Criativa do Cream”, evento no qual jovens talentos do mercado publicitário apresentaram seus portfólios aos criativos das agências brasileiras. Defensor do modelo de mídia brasileiro, Stolkin acredita que isso auxilia as agências no desenvolvimento de campanhas, pois todas as partes envolvidas trabalham de forma integrada. Além disso, o executivo se diz admirado com a criatividade dos brasileiros e afirma que o Brasil tem potencial para o mercado digital e as redes internacionais que quiserem se estabelecer no País terão de se aliar a agências locais.

MÍDIA

“Eu acho que o modelo que existe no Brasil dos mídias ficarem dentro das agências é muito bom e eficiente, pois os criativos e o planejamento, quer dizer, todos envolvidos numa campanha, podem saber o que se passa, quais são as novidades e como será trabalhada a campanha. E isso faz com que o Brasil fique muito à frente de outros países. Na Europa não tem isso e acho que é uma desvantagem, porque acredito que as agências saem ganhando com esse formato. É muito mais eficiente!”

TALENTOS

“Criativo e digital são as áreas em que o Brasil tem mais potencial em publicidade. Aqui há agências brilhantes e vocês têm uma ótima reputação em criatividade. Os criativos são muito bem pagos no Brasil e acho que eles valem cada real.”

SÃO PAULO

“São Paulo deve ser o centro criativo de muitas marcas globais e isso vai acontecer porque São Paulo está se tornando um centro internacional. Em Buenos Aires há muitos talentos criativos e mais baratos, mas lá não há uma economia sólida e forte como a daqui. E, por isso, as marcas vão, cada vez mais, investir no Brasil porque as agências trabalham pensando globalmente. Eu acho São Paulo especial. Se você for liderar uma empresa aqui em São Paulo ela estará inserida numa rede multinacional e terão que comprar agências locais para se inserirem.”

AGÊNCIAS LOCAIS

“As grandes agências vão acabar comprando as agências locais para ganharem as marcas locais. Afinal, elas conseguem pensar melhor em como comunicar essas marcas. Se eu estivesse liderando uma rede internacional, tentaria me coligar com uma dessas agências para ter credibilidade local. Na Ásia, exceto no Japão, todas as agências locais foram compradas, não há uma única independente.”

BRIC

“O Brasil é o top da democracia. Na Índia há uma ou duas agências independentes. Na Rússia há agências locais, mas por questões políticas, legais e de infraestrutura é muito difícil de comprar alguma coisa, muito arriscado, porque você acha que fez um acordo e quando vê, a pessoa cancela o contrato. Aqui é diferente: o Brasil tem uma economia muito madura, vocês têm um Banco Central independente, vocês têm um sistema legal. Na China, todas as agências independentes foram compradas, mas o problema de lá é a ditadura que ainda resiste.”

CRIATIVOS

“Os jovens criativos do Brasil te mostram o portfólio que inclui ideias de mídia, ideias digitais, ideias de mídia tradicional… Um grande mix. Se você entrevistar um jovem criativo londrino, provavelmente ele te mostrará um portfólio de publicidade tradicional e nos Estados Unidos, será uma mistura dos dois. Portanto, se você quer uma publicidade tradicional, há vários lugares para se fazer isso: São Paulo, Buenos Aires, Londres e Xangai. Mas se você está à procura de ideias que pensem no digital, para mim, São Paulo, Buenos Aires, Xangai e Cingapura são os locais adequados. Eu odeio dizer isso, mas a Europa está bem atrás em termos de criatividade para este novo mundo. E a razão disso, acho que é a liderança criativa. A geração do Alexandre Okada [vice-presidente de criação da McCann Erickson], por exemplo, consegue abraçar as novas mídias, enquanto na Europa, os criativos ainda pensam no Leão de Cannes das categorias tradicionais e nos filmes de 60 segundos. Isso não significa que eles não sejam brilhantes, mas estão muito presos às velhas formas de se ter sucesso.”

SUCESSO

“Hoje, para se ter sucesso é preciso ser estratégico. Há dez anos, para ser diretor criativo você precisava ser charmoso, entreter o cliente e estabelecer um relacionamento com ele. E o planejamento ficava responsável pela estratégia. Hoje não! Eu acho que criativos têm que saber lidar com seus clientes e conhecer seus negócios e, assim, construir uma relação. Por isso, seja estratégico, saiba construir uma relação com seu cliente e abrace o digital.”

JOVENS TALENTOS

“Eu diria aos que estão começando agora nesta carreira para procurarem seus sonhos e ter claro que esta profissão é um casamento entre criatividade e o negócio. Eu acredito muito no poder das ideias. Então, seja muito ambicioso para criar grandes ideias.”

REDES SOCIAIS

“Uma vez que há a fragmentação de mídias e que a TV vive um momento de queda de audiência, as redes sociais ganham mais força. Marcas fortes com ideias brilhantes exploram o Orkut, por exemplo, e em uma semana, todos estão falando delas. E acho isso muito mais excitante do que gastar um ano desenvolvendo um posicionamento de marca e fazendo um filme de 60 segundos. Agora é preciso ser muito mais rápido.”

por Maria Fernanda Malozzi