Globo se liga na nova classe média
Com “Pereirões em cena”, a Globo aumentará o investimento no projeto de popularização do seu conteúdo para se aproximar da nova classe média, ou classe C. A programação da emissora apresentada na noite desta segunda-feira (5) mostra o ganho de peso desse público, em produtos como “Cheias de charme”, próxima novela das 19h, onde desfilarão empregadas domésticas; e “Avenida Brasil”, das 20h, retratando a vida de camadas pobres da sociedade.
“Esta é uma questão muito presente para nós. A classe C busca não somente a qualidade de vida, mas mudou o seu comportamento. Ela está feliz onde está, as pessoas preferem ficar próximas dos amigos ao migrarem para um bairro da B. Com isso, têm novos hábitos de consumo. E estão mais abertas ao consumo de mídia. Estamos acompanhando esse movimento para refletir esse cotidiano no nosso conteúdo e atentos às tendências”, disse Octávio Florisbal, diretor-geral da Rede Globo.
Para o executivo, não esse não é um movimento de ajuste somente da Globo ou peculiar a esse mercado. A TV por assinatura, por exemplo, que registrou incremento da base de entrantes da classe C, tem entregue mais conteúdo dublado do que legendados, ao gosto do freguês. Para ele, isso é fruto de uma transição, passados os governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, e em curso o de Dilma Rousseff, onde se conseguiu a estabilização da inflação, do câmbio e dos juros. “Neste ambiente, permitiu-se a ampliação do emprego e da massa salarial. Para este ano, as famílias brasileiras terão 1,3 trilhão para gastar. São mais de 110 milhões de pessoas que representam 50% de todo o consumo nacional”, listou.
Para atender a essa demanda, a emissora já veicula atualmente séries como “Tapas e beijos” e “A grande família” e programas como o “Esquenta”, comandado por Regina Casé, que teve o seu espaço ampliado em 2012. A Globo também tem investido em eventos específicos como a Taça da Favelas, no Rio de Janeiro; e o Festival Promessas, atendendo uma parte específica da nova classe média, a evangélica. “O mundo dos cristão tem se desenvolvido muito. Dentre eles, os evangélicos representam 25%, e podem estar perfeitamente no nosso jornalismo e/ou retratados em nossa teledramaturgia”.
Audiência
Com a audiência cada vez mais difícil, diante da concorrência com outras plataformarmas, a Globo mantém a meta de 19 pontos de média diária no Ibope entre às 7h e 24h. Em 2011, o número ficou em 18 pontos. “Trabalharemos para alcançá-la. Problemas praticamente não existem na nossa faixa horária”, disse Florisbal. No final da década de 90, a audiência média da emissora média era de 21 pontos. Os 3 pontos perdidos são creditados à migração do “público para outros canais da TV paga”.
Para alcançar a meta, guiada pelo conceito de que a “audiência é reflexo na nossa grade”, a emissora levou ao palco do Via Funchal, onde aconteceu o evento, algumas de suas novidades: “Casseta & Planeta”, não tão novidade assim; a série “Louco por elas” e a novela das 23h, “Gabriela”. O programa de Fátima Bernardes não foi anunciado ainda, mas deve entrar na grade até meados do ano. E Pedro Bial terá um novo programa, voltado para a AB e C+, sobre variedade, além de continuar a apresentar o Big Brother Brasil, que está garantido para 2013.
Perguntado sobre o reflexo da audiência para o investimento publicitário, o executivo fez uma comparação, aludindo aos anos 90, para afirmar que a entrega de público atualmente é “muito maior” do que fora no passado. “A entrega é maior do que antes e a publicidade continua mantendo o investimento”, analisou, citando a participação superior a 63% do meio TV aberta no total de recursos.
Conteúdo infantil
A grande revelação da noite é a redução de espaço que o conteúdo infantil terá na grade de emissora, ficando restrito às manhãs de sábado. O horário para os pequenos durante a semana vem sendo achatado há alguns anos na Globo e, com a estreia do novo programa de Fátima Bernardes, irá acabar. “Não dá audiência e não dá receita publicitária. É uma decisão estratégica”, afirmou o executivo. “Internacionalmente, não existe conteúdo infantil na TV aberta. Esse público estará na TV paga, nos canais específicos para isso. É complicado trabalhar com conteúdo infantil porque há várias restrições com publicidade”, completou Florisbal. Para ele, emissoras como o SBT, que investem no segmento, devem ficar com o espaço deixado pela Globo.