Globosat enfrenta o desafio de ser uma mídia tech
A facilidade de assistir tudo direto pela internet é o grande sucesso do streaming. O serviço que chegou ao Brasil em 2011, através da Netflix, sacudiu o mercado de TV por assinatura no país. De lá para cá, diversas outras plataformas surgiram, inclusive, das próprias programadoras.
Com mais de 20 marcas no portfólio, a Globosat já compartilha a sua programação através de diversos aplicativos. Porém, o desafio agora é entender as entrelinhas deste cenário competitivo e usar os aprendizados e diferenciais para desenvolver novos produtos.
“O negócio de TV por assinatura no Brasil foi modelado com a ajuda da Globosat e do Alberto Pecegueiro. Nossa missão agora é entender como construir um novo modelo, sem destruir o antigo. Como conseguir manter uma relação direta com o consumidor, sem tirar valor da TV por assinatura? As pessoas não consomem mais conteúdo na TV aberta, fechada, digital ou impresso. Está todo mundo consumindo no mesmo lugar. Todos os produtos são consumidos no mesmo ambiente; este é o grande desafio”, diz Manuel Falcão, diretor de marketing da Globosat.
Este movimento também fez com que a empresa trabalhasse, em 2019, o conceito TV é o que você quiser, para alertar os consumidores e o mercado publicitário que já não existem mais barreiras para a produção de conteúdo.
“Essa é uma provocação para que todo mundo entenda que a televisão não é só aquele aparelho de tubo de antigamente. Ficava muito incomodado quando chegava em algum lugar e ouvia que a audiência da TV, do rádio e dos jornais estava caindo e o digital aumentando. Está todo mundo junto. A TV não é apenas conteúdo, tecnologia, forma de programação, formato ou device. Ela é um conjunto de coisas. Então, este conceito não é uma campanha ou discurso. É uma verdade. Só desenhamos para que todo mundo consiga observar no mesmo frame”, comenta Falcão.
Streaming
Na corrida pela atenção quem sai ganhando é o consumidor, que passa a ter um leque ainda maior de opções de entretenimento. No entanto, estaria ele disposto a contratar uma série de aplicativos para acompanhar seus programas favoritos?
Segundo Falcão, vivemos um processo de unbundling para ter um relacionamento direto com as pessoas. “O usuário precisava entender a lógica por trás do processo. Ele já contestava o quanto deveria pagar por algo que, não necessariamente, consumia. Mas, acredito que no futuro precisaremos ter agrupadores destes aplicativos, pois as pessoas não vão querer ter 10 serviços de streaming diferentes, seja pelo custo ou pela experiência. É muito ruim ter de entrar em um aplicativo diferente toda a hora que quiser assistir um conteúdo. O nosso desafio é que estamos no Brasil e competindo com grandes players mundiais”, ressalta.
Sobre as mudanças de comportamento do consumidor, muitas delas oriundas do digital, o executivo comenta que não faz interpretações e apenas observa o movimento do jeito que ele é.
“Quem estiver buscando um ângulo de interpretação vai estar errado. A relação agora é de conquista diária. Vivemos um momento de transformação constante. Então, ter a capacidade de se adaptar de forma incessante é muito relevante. Todo mundo é mídia e todo mundo tem conteúdo. É preciso aprender a fazer essa ligações para rentabilizar o seu negócio e a sua plataforma”, reforça.
Integração
O programa Mestre do Sabor, que estreou em outubro deste ano, é um exemplo de como todas as plataformas podem ser complementares. O reality show de gastronomia, apresentado pelo chef de cozinha Claude Troisgros e seu braço-direito Batista, nasceu integrado com a TV aberta, com exibição na Globo; fechada, com veiculação de conteúdo e extras no GNT; e com experiências e serviços diferenciados nas plataformas digitais.
“Este é o nosso primeiro projeto que tem uma entrega em todas as plataformas. Ele foi apresentado e vendido em conjunto. Sempre tentando entender como gerar valor para os anunciantes e para a empresa. Já começamos a trabalhar todos os canais da companhia, seja ele digital, pago, aberto ou impresso, como única plataforma. O movimento Uma só Globo é isso. Agora, temos de nos reorganizar para entender como o conteúdo vai se movimentar aí dentro. Mas, já temos ótimos aprendizados”, ressalta Falcão.
A inserção de diversas outras produções dos canais Multishow, GNT, Off e Gloob, entre outras, também já podem ser acompanhadas pelo Globoplay, plataforma de streaming da Globo, que também prepara conteúdos inéditos para os seus assinantes. Se a produção de conteúdo já é um dos ativos da companhia, para Falcão o desafio agora é tecnológico.
“Ressignificamos a televisão, mas não deixamos de falar dela. No momento em que 200 milhões de brasileiros utilizarem o Globoplay, não necessariamente a assinatura, que é um produto específico para uma camada, isso vai ser a TV melhor que a TV. A Globo tem esse papel muito forte. Vamos ter jornalismo, esporte e dramaturgia ao vivo e não ao vivo. Mas, sempre vai ter um básico que será acessível para todo mundo. Queremos que o usuário tenha uma experiência tão boa quanto em outras plataformas. O nosso maior desafio é se tornar uma mídia tech”.
Com um pé em 2020
Quando o assunto é a transformação digital, o próximo ano, certamente, marcará uma nova história dentro do Grupo Globo. A companhia anunciou na semana passada a reorganização de suas lideranças, áreas e estrutura de negócios. O movimento Uma só Globo, que já havia sido iniciado internamente em setembro de 2018, enfim, será colocado em prática no mercado a partir de janeiro de 2020.
As empresas TV Globo, Globosat, Som Livre, Globo.com, Globoplay e DGCorp farão parte de uma nova empresa, agora, denominada Globo. As marcas por baixo desses guarda-chuvas continuam existindo e produzindo normalmente. A estratégia é ter o consumidor no centro do negócio e ampliar a força da televisão ao unir o sinal aberto e fechado às oportunidades digitais.
“Em 2020 o nome Globosat passa a não existir para ser uma só Globo. Mas, de uma forma orgânica, sempre fomos Globo. Agora, nosso desafio de marca e tecnologia é fazer com que todo mundo entenda que somos tudo Globo”, comenta Falcão.
Ainda segundo o executivo, a companhia prepara para o próximo ano muitas novidades de conteúdo, entrega e formatos publicitários diferentes. “Vamos testar o Dynamic Advertising Insertion em algumas agências. Eles terão uma flexibilidade incrível. Queremos entregar publicidade e conteúdo eficientes. O break também é conteúdo”, finaliza.