Google, o gigante inovador e agressivo

 

Em palestra recentemente realizada no Rio de Janeiro, o presidente do Google Brasil, Fábio Coelho, disse que a capacidade de “reimaginar” será a chave para sobreviver no futuro. As transformações são tão profundas a ponto de uma empresa como a Waze, startup com menos de cinco anos de vida, ter sido comprada recentemente pela gigante da internet por US$ 1 bilhão, enquanto o centenário Washington Post foi adquirido por US$ 250 milhões por Jeff Bezos, dono da Amazon. “Isso mostra o deslocamento de valor proporcionado pela economia digital em relação à economia do carbono”, disse.

Nos últimos 15 anos, uma das empresas mais inovadoras e que se mantém no topo das marcas mais valiosas do planeta é o Google, o maior buscador da internet, hoje um grupo constituído por diversos dos mais bem-sucedidos negócios do mundo web. De fato há um deslocamento de valor enorme – principalmente de verbas publicitárias – para a economia digital, gerando riqueza e também muita polêmica em torno do gigante Google.

Oráculo da era digital, “dar um Google” tornou-se resposta para qualquer pergunta – para o bem e para o mal. Amado ou odiado, o Google “democratizou a memória de elefante e a cultura enciclopédica”, conforme diz Washington Olivetto, da WMcCann. Desperta paixões e ódios, dependendo da área de negócio em que se atue. Se você é um criativo, trabalha em produtora ou agência digital, ou anunciante, as chances são de você gostar um bocado dessa mídia.

Anselmo Ramos, mentor criativo da Ogilvy Brasil, diz que a ferramenta é intuitiva, simples, fácil, quase infantil. “Google vem da palavra googol, que significa o número 1 seguido de 100 zeros. E é justamente isso que o Google faz: é a única marca do mundo que te oferece um guguilhão de possibilidades. Em apenas 15 anos, já virou verbete oficial do Webster, o maior símbolo de inovação que existe, e tema de filme em Hollywood”, diz.

Fabio Seixas, diretor-executivo da Conspiração, descreve o Google como um portal para o conhecimento. “Lembro bem dos primeiros anos quando ainda era uma ferramenta de busca simples e reconheço hoje esse DNA de inovação em todos os projetos que eles desenvolvem hoje como Google Glass e Google Books. De todos os que mais uso e com certeza minha vida fica mais fácil por conta deles são o Gmail, YouTube e a imortal ferramenta de busca”, conclui.

Se você, por sua vez, for um empresário do mundo da comunicação ou um profissional de veículo, provavelmente tem uma visão um pouco menos “apaixonada”. Sim, o Google é visto como uma empresa genial, admirada, forte, e que dá sua grande contribuição ao mundo. Nizan Guanaes, presidente do grupo ABC, diz, por outro lado, que o conglomerado corre um risco: “É o risco da arrogância e da tirania. É o calcanhar de Aquiles de todo império”.

Ficantes

Juarez Queiroz, CEO da Globo.com, diz que as empresas do Google são para eles – e isso vale também para outros grandes players do universo digital como Facebook e Twitter – “ficantes”, não parceiros. Volta e meia há interesses comuns – como usar os links patrocinados do Google – mas, em boa parte das vezes, são concorrentes e, no caso da Globo, não concordam em relação a diversos aspectos do business.

Não é segredo para ninguém: se por um lado o Google e o YouTube não se posicionam como veículo de comunicação sob a alegação de não produzir conteúdo, na hora de disputar publicidade e audiência com veículos tradicionais são implacáveis. “Negociam agressivamente”, constata uma fonte, garantindo que o Google vem crescendo no bolo publicitário ano a ano – embora dados a esse respeito não sejam divulgados pela empresa. Se declarassem dados de publicidade, acredita-se que já estariam em segundo lugar no share de mídia do país.

Uma fonte do propmark também diz que o que incomoda qualquer empresa de mídia que concorre com Google e YouTube é que ambas parecem ter uma espécie de “escudo” que faz com que não sejam concorrentes em igualdade de condições. Outra fonte diz que o YouTube estima faturar, até 2015, R$ 1 bilhão.

Há diversas “acusações” do mercado, principalmente de veículos, em relação à atuação de empresas de busca e de veiculação de conteúdo de terceiros como Google e YouTube. Acusam esses novos negócios de viverem num mundo sem limites, sem lei, sem respeito a direitos autorais ou pagamentos de impostos e tributos adequados. Seria uma “falsa utopia pós-moderna, que dilui fronteiras, mas acaba diluindo a lei”, disse outra fonte, que pediu para não ser identificada. Procurados pelo propmark, executivos do Google no Brasil não se dispuseram a conceder entrevistas.