Gostei. E agora, Brasil?

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Flávio Martino

“Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”, reza a sabedoria popular. A classe C brasileira provou que o dito é sábio e demonstrou isso nos últimos 20 anos. Provou, gostou e o mais importante: não quer deixar de ser um ator social relevante no mercado de consumo, independentemente de qualquer crise.

De classe relegada na história econômica do país, presa ao consumo das  chamadas necessidades básicas, a classe cobiçada, principalmente pela indústria do varejo e empresas de serviço, a classe C impulsionou a economia brasileira nas últimas décadas, trouxe novos padrões culturais para a sociedade e verticalizou o consumo de “supérfluos”, que antes só as classes mais altas tinham acesso. Esse movimento marcante rumo ao consumo mais perene e maduro, frente à ascensão social, fez as marcas reverem suas estratégias, tanto de comunicação quanto de seus próprios produtos para conquistarem a classe C. Uma verdadeira revolução econômica e social no Brasil dos tempos atuais.

Em recente pesquisa, o Instituto Data Popular revelou que, mesmo em meio à grave crise econômica e, principalmente, política que o Brasil atravessa, a classe C vai movimentar R$ 1, 35 trilhão neste ano de 2015. O que nos leva a crer que ninguém quer retroceder no padrão de consumo já conquistado e, consequentemente, no sentimento de pertencimento social. Reforçando essa tese, a pesquisa aponta que a classe C está procurando alternativas e opções para continuar consumindo. Essas novas vias de consumo podem ser entendidas como uma negociação pontual da classe C com o mercado, em virtude do cenário econômico.  Ou como revela a pesquisa: estão atrás de pacotes de benefícios que as empresas podem oferecer.

Um dos fatores que contribui para a insistente negativa de sair de cena do consumo no Brasil, foi que essa classe investiu muito em informação e formação nos últimos anos, gerando forte capital de cidadania para se contrapor aos efeitos nocivos que uma crise pode gerar, ou, simplesmente, para aceitar seu afastamento do mercado de uma hora para outra.

Em resumo, esse contingente populacional não sairá do mercado de consumo. Uma situação que pode ser apontada como irreversível, felizmente. E caberá às empresas continuarem a investir muito em comunicação, criando, em paralelo, soluções criativas comerciais para atrair esse público neste momento delicado que atravessa a economia brasileira.  

 *Diretor associado e responsável pela unidade do Rio de Janeiro da Giacometti Comunicação