Grandiosidade e inovação são as características da mídia na cidade
“Tudo é superlativo em São Paulo”. Assim João Oliver, professor de publicidade e propaganda da ESPM/SP, refere-se ao destacar os diferenciais da mídia na maior cidade do país. “Quando algo se destaca aqui, se destaca muito. É só ver o quanto o mercado todo sentiu a Lei Cidade Limpa”, explica o professor, ao se referir à lei que restringiu a mídia exterior em São Paulo em 2007.
O retorno do out of home foi uma das maiores mudanças na mídia da cidade recentemente e isso influenciou todo o país. “O mobiliário urbano só ganhou corpo quando voltou a São Paulo”, diz Daniel Chalfon, presidente do Grupo de Mídia e sócio e VP de mídia da LDC. “A volta do mobiliário urbano à cidade de São Paulo representou também o crescimento da mídia out of home em todo o país. Os anunciantes perceberam essa melhora e ampliaram seus investimentos na mídia OOH, que teve crescimento médio de 40% nos últimos quatro anos. Nos próximos anos, o segmento de OOH deverá dobrar sua participação, atingindo o patamar que tem em outros países do mundo, que é de cerca de 10% do total de bolo publicitário”, afirma Violeta Noya, presidente da Otima, empresa que detém a concessão dos abrigos de ônibus na cidade.
Em ação da Africa para Itaú, as bicicletas do projeto Bike Sampa, uma parceria da Prefeitura com o banco, receberam flores e cartões para comemorar o aniversário da cidade
Essa influência de São Paulo no restante do país tem um motivo. Na cidade são quase 12 milhões de habitantes, isso sem contar as pessoas que diariamente a visitam para cumprir diversos compromissos. “Naturalmente, como a cidade é maior em volume financeiro, também é aqui que surgem mais opções de mídia e novidades”, fala Chalfon.
De acordo com o Kantar Ibope Media, a cidade é o maior mercado publicitário em volume de investimentos do Brasil, considerando-se as 41 praças monitoradas pela empresa. “Os investimentos em publicidade na capital paulista cresceram 33%, passando de aproximadamente de R$ 23 bilhões no acumulado de 2010 para mais de R$ 30 bilhões em 2014”, afirma Rita Romero, diretora de monitor da Kantar Ibope Media.
No primeiro semestre de 2015, os investimentos na cidade representaram 24% do que é aplicado no total, movimentando mais de R$ 14 bilhões no período. Em 2010 os investimentos eram em torno de R$ 10 bilhões, ou seja, em cinco anos, houve um crescimento de 35% nos gastos em mídia na primeira metade do ano.
Mantendo a tendência do que ocorre em outras praças, a TV aberta é o principal destino da verba de mídia para São Paulo, absorvendo 58% do total. Em seguida vem o jornal, com 31%, e o rádio, com 9%. “Assim como no Brasil de maneira geral, o meio com maior volume de investimentos publicitários é a TV aberta. Um fato interessante que podemos mencionar sobre São Paulo é o crescimento do cinema nos últimos anos. De 2010 a 2014, o meio apresentou uma alta de 64% em investimentos publicitários, em parte impulsionada por comerciais mais adequados ao meio”, conta Rita.
O rádio é um meio com grande importância local. “Nós ficamos duas, três horas no trânsito, consumindo rádio”, lembra Oliver. Um dos exemplos citados pelo professor para demonstrar a grandiosidade de São Paulo foi justamente o relançamento da 89 FM – a Rádio Rock, no fim de 2012, depois de seis anos fora no ar. “Em menos de um mês, a rádio já tinha mais de 300 mil likes na sua página no Facebook”, diz.
A influência da cidade, por sua importância financeira, pode ser verificada nos diversos meios de comunicação. “Rádio, provavelmente, deve ser 80% local, mas a tendência é ditada por São Paulo”, fala Chalfon.
Além de ser superlativa, a cidade também é inovadora. “Se o paulista não é o primeiro, é o segundo”, diz o Oliver. De acordo com Adrian Ferguson, VP de mídia da DM9DDB, como o mercado criativo está concentrado aqui, é mais fácil ter cases diferenciados. “Fizemos um piloto para a Band News em que usamos um polígrafo para avaliar se o entrevistado está mais ou menos estressado. O pessoal da rádio adorou”, conta.
A inovação também se dá com a criação de novos meios. O Itaú, por exemplo, usa bicicletas como mídia. “No ano passado, para celebrar o aniversário de São Paulo, as bicicletas do Bike Sampa, projeto apoiado pelo banco, amanheceram floridas. Nas cestas das 2 mil laranjinhas foram colocados buquês de flores brancas e um cartão. Foi um projeto eficaz, funcional e para todos, ou seja, um presente de verdade para toda a população da cidade”, conta Francisco Custodio, diretor-geral de mídia da Africa, agência responsável pela ação.
A concentração do mercado na cidade acaba trazendo para São Paulo muitas atenções. “Os anunciantes buscam escala e isso acontece quando adiciona São Paulo no plano de mídia”, diz Chalfon. “São Paulo é a sexta cidade mais populosa do mundo e o principal centro financeiro e corporativo do país. Das cidades brasileiras, é a mais influente do cenário global. Ao longo dos seus 462 anos de história, foi cuidadosamente moldada por múltiplas nacionalidades. Em mais de 1.500 km2 de área, a maior do Hemisfério Sul, existem em torno de 8 mil faces de mobiliário urbano e mais de 6 milhões de domicílios com TV. A grandeza e a diversidade paulistana podem ser descritas de muitas outras maneiras. Por consequência, as mesmas características a tornam única sob o aspecto de mídia. A complexidade em desenvolver soluções de comunicação eficazes e relevantes (e com escala) aos mais diversos tipos de público de São Paulo, em diferentes momentos do seu dia, é uma tarefa nada fácil e se intensifica dia após dia. Por outro lado, nenhuma outra cidade no país oferece aos anunciantes tantas oportunidades de contato e relacionamento com seus consumidores”, declara Rodrigo Famelli, diretor-geral de mídia da Africa.
Por essas características, São Paulo acaba atraindo grandes talentos para cá. “As principais agências e anunciantes estão aqui. Isso atrai os gênios. Traz o diferente para cá”, fala Oliver.
A alteração nas regras da mídia exterior trouxe grandes mudanças à cidade. “Esse projeto vai muito além da entrega de um novo mobiliário urbano. Ele representa uma profunda transformação na forma como a arquitetura e a publicidade interagem entre si, com a cidade e com as pessoas. Sem contar o impacto positivo no maior conforto e segurança dos passageiros”, conta Violeta.
Quase uma década depois da Lei Cidade Limpa, o mercado vê a mudança como positiva. “Os abrigos de ônibus e os relógios voltaram com nova roupagem, fazendo parte do cotidiano, sem poluir”, fala Oliver. Com a padronização e a organização da mídia exterior, São Paulo saiu ganhando. “O ambiente era hostil, um painel em cima do outro. Agora existe um planejamento”, opina Ferguson. “O mais interessante é ter permitido que São Paulo se tornasse um hub de ações inovadoras”, completa Ferguson. O mídia da DM9 cita como exemplo o case de Guaraná Antactica Black, lançado com a campanha Se Joga no Escuro, assinada pela DM9DDB. “Um dispositivo ligava relógios ao Twitter e à medida que o público tuitava a imagem ia sendo desvendada”, cita Ferguson.