Grey muda gestão no Brasil para priorizar clientes globais
O publicitário Silvio Matos já não está à frente da MatosGrey, agência que fundou em abril de 2006 com a rede Grey Worldwide – uma das marcas da holding WPP – logo que deixou a presidência da Y&R devido a incompatibilidades com o empresário Roberto Justus. Matos negocia sua saída com a executiva Ann Newmann, vice-presidente do WPP para a América Latina. O principal motivo para a saída de Matos é o prejuízo contabilizado nesse período, que, segundo fontes, já teria ultrapassado a marca de R$ 20 milhões.
A mesma fonte informa que já no primeiro ano da MatosGrey a agência teria anotado perdas de aproximadamente R$ 10 milhões. Com um bom volume de ações e com seu nome na identidade corporativa do negócio, Matos vinha subtraindo sua participação acionária como forma de pagar os investimentos consolidados pelo WPP, mas agora a fonte teria se esgotado definitivamente. Matos, segundo sua assessoria de imprensa, prefere manter-se em silêncio até que o distrato seja efetivado.
Há cerca de quatro meses, Matos convocou coletiva para anunciar novo modelo de gestão. A Matos Grey ficou sob o comando do italiano Riccardo Ferraris, que teve passagem relevante pela Grey do México, unidade mais lucrativa da região latino-americana da Grey. Matos ficaria como cco (chief creative officer) para a AL, incluindo o escritório de Miami, desativado no início deste ano. Como sócio, o brasileiro deveria ter hegemonia na hierarquia da agência, mas, de fato, como detalha a fonte do propmark, isso não aconteceu.
“Quando não há lucro, não tem jeito, nenhum investidor continua”, diz a fonte que tem acesso às minúcias do WPP. Como as finanças da MatosGrey exigem atenção redobrada, Ferraris substituiu o vice-presidente financeiro, Eduardo Groisman, que era ligado diretamente à Grey, por Bernard Fonteneau. Já o diretor de criação Leandro Castilho e o diretor de operações Iuri Aizemberg, cujos contratos são relacionados à MatosGrey, ficam fora da alçada de Ferraris, mas este gostaria que eles não participassem dos processos da agência. Este seria um dos principais desgastes entre Ferraris e Matos.
O desfecho final deverá ser a criação da Grey Brasil – que ficará com os clientes multinacionais da rede do WPP, entre os quais a 3M, Boehringer, GlaxoSmithKline, Procter & Gamble e a divisão de caminhões e utilitários da Mercedes Benz. Já Matos negocia para ficar com as contas nacionais conquistadas desde a criação da MatosGrey, como Lojas Lider, Medial (internet), Grupo Izzo e DHL, por exemplo. Esses clientes engrossariam a provável Matos & Bekerman, uma sociedade entre Matos com César Bekerman, da Bekerman Comunicações, uma empresa com core business em marketing promocional.
Outro problema é a gestão da G2, que atende a British American Tobacco. Matos é sócio da agência de Below The Line dirigida por Sérgio Brandão e Carlos Silvério, uma operação lucrativa. Apesar de sócio, Matos não tem função gerencial no negócio que atua de forma independente. A relação de Matos e Brandão não é amistosa, segundo a fonte do propmark.
Nem Silvio Matos e Riccardo Ferraris retornaram as ligações do propmark para esclarecer o imbrólglio que mixa tons que vão do especulativo ao dramático.
por Paulo Macedo