Hater engaja, mas isso não é legal!
Mensagens com conteúdo de ódio, opiniões alheias, juízo de valor, apontamento de defeito, ameaças, uso de emoji negativo e desaplauso com educação! No fim das contas, é tudo mensagem e o algoritmo das redes entendem isso como interação, e interação gera engajamento. No entanto, esse hábito de odiar diariamente extrapola novas barreiras, fazendo com que esse comportamento vire material de pesquisas, criando novas formas de se relacionar com as redes sociais.
Não interessa se você gosta, ama ou é indiferente. Se em algum momento, você usou uma de suas redes para falar de algo, mesmo que indiretamente, acaba por dar força nas redes sociais, para que este elemento suba um degrau a mais no célebre “hall da fama virtual”.
Do ditado antigo que diz “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”, a sociedade moderna herdou o péssimo hábito de criar hates, e com as redes e as facilidades, surge um personagem polêmico e questionável nas redes sociais. Os haters são reais, e a cada clique mudam a realidade virtual que conhecemos.
O tema ganha destaque a cada momento. De participantes eliminados de programas de TV, figuras políticas, artistas de nichos variados e muito mais. O hater, ou profissional do ódio, movimenta as redes sociais de pessoas, gerando uma tendência assustadora e, fazendo com que os profissionais de comunicação precisem, mais uma vez, dar uma guinada nos planos e estratégias.
Todo mundo que trabalha com o mundo digital quer acumular likes e comentários, e o ódio acaba maquiando e inflando essas pesquisas, buscas e visualizações. No entanto, ele leva junto a saúde mental do personagem envolvido no jogo, que quase sempre se preparou para os likes, e não para as pedradas via rede social.
A cantora Luisa Sonza (@luisasonza), passou por várias fases em sua carreira no ambiente virtual. De estrela em ascensão, à aplaudida em aeroporto por se recusar a pegar voo com políticos que não apoia, passando por lançamento de músicas de sucesso, mas também tornou-se vítima do ódio de internautas por algo que não tem relação nenhuma. A artista vem sendo atacada por situações que não participou, e que fogem do seu controle.
O assunto saiu da esfera virtual, virou caso de polícia e pauta de jornais. Os haters fazem ameaças de vida e prometem realizar violências, assim, uma artista que usa tão bem as redes para se conectar com fãs, e construir uma base sólida, encontra seu castelo virtual desabando, a ponto de precisar se afastar.
E essa não é a primeira vez que relatos com artistas nacionais tomam essa proporção. O que não faltam são casos como o de @luisasonza. A atriz e influenciadora digital, Gessica Kayane (@Gkay), e tantas outras pessoas famosas, já precisaram de um tempo para aguardar que a onda de hate pudesse passar, para voltarem às suas redes.
O comportamento já virou tema de pesquisadores, que se preocupam com essa necessidade de externar opiniões, mesmo que no ambiente virtual, e nessa ausência de filtro que as redes têm proporcionado para as pessoas. Institutos do mundo todo buscam entender esse fenômeno, decifrar como ele acontece, o que ele causa e como isso irá nos afetar a longo prazo.
O ódio disseminado nas redes atinge de adultos, a crianças em formação, que podem entender esse comportamento como normal, gerando no futuro uma linha que pode ser cada vez mais agressiva.
As pessoas buscam formas de defender perfis de pessoas que elas gostam, mas diariamente estão perdendo a mão nesse amor e na defesa.
A falsa proteção que a internet oferece deixa um rastro virtual, que pode ser seguido, extrapolando a linha do aceitável para ofensas que são previstas em lei como crimes. A cantora Ludmilla (@ludmilla), por exemplo, já precisou acionar a justiça por injúrias raciais feitas no ambiente virtual.
E a funkeira Pocah (@pocah) precisou fazer o mesmo, ao ver que sua filha, uma criança, estava sendo exposta nas redes com comentários do mesmo tipo. Ou seja, já não há limite para o hater, pois alguns já perderam o medo da justiça.
E se não há medo da punição, quem poderá nos defender?
No primeiro momento, nós mesmos. A partir do entendimento de como esse hate — que muitas vezes se fantasia de entretenimento —, é prejudicial e pode complicar a vida de pessoas, a partir de problemas psicológicos causados pelo medo e estresse.
A mesma sociedade que permitiu que o hater ganhasse poder, precisa agora fazer o caminho regresso, e entender que é permitido ter opiniões diferentes, mas não é permitido cometer crime e muito menos promover um linchamento, mesmo que digital.
Os traços que são desenvolvidos no agora vão ser sentidos no futuro, a melhor forma de criar um ambiente virtual menos agressivo no amanhã, é entendendo que os hábitos precisam ser executados com cuidado e assertividade.
Figuras públicas diariamente estão sendo atacadas em redes sociais por diversos motivos, e permitir que isso aconteça, pode gerar ações e reações catastróficas.
Para os internautas fica a lição, não vale a pena engajar pelo ódio. Uma forma mais eficaz de demonstrar o não contentamento com uma figura, é justamente não fazendo com que ele ganhe destaque, assim a mensagem pode ser entendida de forma respeitosa e muito mais didática.
Cuidado com o seu ódio, mais do que se manifestar no ambiente virtual, você pode estar construindo uma ação que nem mesmo você conseguirá lidar no futuro.
Flávio Santos é CEO e cofundador da agência MField (flavio. santos@mfield.com.br)