Heineken: mentiras sinceras

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Joni Galvão, líder da The Plot e e autor do livro Super-Histórias

“Pequenas porções de ilusão. Mentiras sinceras me interessam”. Este é um trecho da música “Maior Abandonado” de Cazuza. E é assim que eu vejo a tão polêmica peça da Heineken “The Cliché”. Tem um pouco de ilusionismo e uma “mentirinha sincera” que não faz mal a ninguém! 

Se eles tivessem começado o filme com um lettering: este filme foi feito com atores escolhidos pelo cliente num processo de casting, mas as reações não foram direcionadas. São todas espontâneas. Será que seria diferente? Será que não haveria tanta polêmica? 

A discussão é saudável e devemos agradecer a Publicis por ter criado algo que agora está no holofote de todos. Sempre, depois de discussões, aprendemos, crescemos e tiramos a nossa “moral da história”. 

Eu sempre defendi a verdade nas histórias. O slogan de meu sócio e guru de Hollywood Robert McKee é “write the truth”. A premissa básica para qualquer boa história é que ela carregue valores que sejam verdadeiros mesmo que os acontecimentos dela sejam “maquiados” ou ficcionais. 

Vamos aos fatos, até porque entrevistei um dos autores da campanha, Eduardo Lorenzi, da Publicis. Segundo ele, realmente houve casting para escolher os participantes, mas a agência só descobriu que os selecionados já tinham feito figurações quando surgiu a polêmica depois do lançamento do vídeo.  Até então, garantiu o Lorenzi, tratavam-se de um empresário, um comerciante e um bancário. O mais importante, e nisso inclusive eu concordo com ele, é que todas as reações foram autênticas e não foram direcionadas.

E vou agora exercitar a empatia. Me coloco no lugar do cliente. Provavelmente ele queria ter a segurança de que os representantes de sua marca tinham o perfil adequado e teriam o desempenho que eles esperavam. Já sei, você vai pensar: “Pô mas tudo sarado e só gente bonita?” Pois é.  Aqui eu deixo sua imaginação trabalhar. 

Além disso, imagino que o fenômeno de toda empresa deve ter acontecido aqui também, que é a intenção de diminuir o risco de algo dar errado, tentando controlar todas as variáveis. Se eu concordo com isso? Não é uma questão de concordar ou discordar. Foi uma escolha. Sabendo ou não das consequências, eles escolheram o caminho mais fácil, porém mais polêmico. Digo mais fácil porque a ação poderia ter sido feita totalmente ao acaso, escolhendo pessoas na rua, e ser 100% baseada em reações espontâneas. 

Eu sou muito crítico com o que a publicidade vem fazendo e acredito que daqui alguns anos ela não será mais como é hoje. Mas neste caso tenho que reconhecer que: 

1) Não houve mentira;

2) O grande ponto de virada das meninas do spa para Milão foi de arrepiar, pelo menos pra mim, quando vi pela primeira vez; 

3) Poderia ser diferente? Claro. Sempre poderia; 

4) Vale a polêmica? Até um certo nível, depois passa a ficar chato.

A grande mentira que estão criando é acreditarem que foi uma mentira completa sem conhecer o lado “de lá”, que foi o que fiz quando conversei com o Eduardo Lorenzi, da Publicis. Conheço sua reputação como profissional e tenho convicção que, para mim, ele falou toda a verdade.

E convenhamos que a galera gosta de uma polêmica. Esse é o lado das redes sociais que acaba gastando muito tempo de muita gente enquanto poderíamos estar focados em tomar uma Heineken e ter novas ideias para uma próxima campanha.

Te vejo na próxima polêmica!

Joni Galvão é fundador da The Plot Company e autor do livro Super-Histórias