História sem fim
Desde o bem-sucedido lançamento da revista infantil em quadrinhos O Pato Donald, em julho de 1950 (portanto, há 68 anos este mês), da qual o editorialista foi um grande fã, Victor Civita – o “seu” Victor – e a sua então pequena Editora Abril (que sucedeu a Editora Primavera, nascida dois meses antes), não pararam de crescer.
Ele, como editor apaixonado por revistas e pelo novo mundo que se abria nas Américas com o fim da Segunda Guerra Mundial, e ela, a editora, consequência dos sonhos e da força de trabalho do “seu” Victor, nascida com ele e com apenas seis funcionários, todos intuindo que O Pato Donald poderia ser apenas o começo de uma história fantástica.
E assim realmente foi, com a Abril não parando de crescer, lançando novos títulos e embrenhando-se na chamada grande imprensa, cuja maior glória foi o surgimento de Veja, publicação semanal baseada em modelos do Primeiro Mundo que rapidamente se transformou em leitura obrigatória dos brasileiros cansados d’O Cruzeiro e da Manchete, com os seus escândalos (muitos pré-fabricados) e carnavais.
A própria Abril, já agora tendo passado por várias sedes e com indústria gráfica interna, atrevia-se a lançar outras publicações tão polêmicas quanto Veja, como foi Realidade. Se Veja, porém, era consentânea com a sua época, Realidade tentou dar um passo à frente, na tentativa de inverter o processo histórico até então vigente de seguir as mudanças e não provocá-las.
Ao mostrar em farta reportagem ilustrada uma mulher com as pernas abertas dando à luz uma criança chocou uma sociedade conservadora, ávida por atrevimentos editoriais, guardadas, porém, as devidas proporções…
O caso foi rapidamente parar nas mãos das chamadas autoridades competentes, tendo o Juizado de Menores de São Paulo decretado a sua imediata apreensão. Tratou-se de um grande rebuliço para a época, provocando pelo menos três grandes efeitos: os aplausos dos carolas que ainda não estavam preparados mentalmente para os novos tempos, as vaias dos mais avançados, que nada viam de extraordinário em mostrar como todos vêm ao mundo e, opinião deste editorialista, o sorriso de satisfação da família Civita, percebendo ali a alavancagem de Realidade.
Inúmeros foram os casos provocados por matérias desse naipe em outras revistas do agora já denominado Grupo Abril, mas o maior embate deu-se no campo político, já no caso da censura ditatorial às publicações politicamente “atrevidas” como Veja, burlando os agentes censores ainda resistentes e obedientes às ordens do Planalto.
Falamos em algumas revistas, sem tocar no que muitos acreditam ter sido uma espécie de Waterloo para a Abril: a aquisição e ampliação de uma emissora de TV, seu primeiro grande fracasso que todavia precisava prosseguir, pois o fechamento de um canal de TV não é tão fácil como descontinuar uma revista.
A Abril, porém, resistiu à tormenta, acabou em boa hora com o sonho da sua TV, evitando com isso as consequências sempre danosas à época de uma concessão oficial (e não eram poucas as autoridades que possuíam ressentimentos das verdades divulgadas pelas revistas da editora) e seguiu em frente, inclusive com investimentos em famosa rede hoteleira no Nordeste brasileiro, batizada, à semelhança de uma das suas principais publicações e para usufruir do prestígio desta, de “Quatro Rodas”.
Os tempos, porém, não param e todo sucesso não é para sempre. Novas forças chegaram ao mercado, novos pensamentos políticos invadiram nossas principais casas de leis e – talvez o pior de tudo – anunciava-se, de um distante Vale do Silício, a chegada de um novo formato informativo, que acabaria por revolucionar o planeta.
Junte-se a isso o fim do período de vida concedido ao admirável “seu” Victor, o comando do conglomerado transferido para o filho mais velho, Roberto, os desentendimentos deste com o irmão, a mídia digital explodindo de vez em todos os lugares, as sucessivas crises econômicas vitimando o Brasil e, pior que tudo, a morte prematura de Roberto Civita, culto, inteligente, criativo, fazedor incansável e com uma visão de mundo como poucos.
Nova sucessão e seus filhos, netos do sempre saudoso “seu” Victor assumem o comando do Grupo Abril, já com o dono de tudo, esse ente misterioso que chamamos mercado, desequilibrando os pratos de todas as balanças do mundo. Muito provavelmente nenhuma culpa lhes cabe pela retração do grupo. Seria assim também com “seu” Victor ainda no comando, ou mesmo o Dr. Roberto, quem sabe?
Alguém um dia iria coincidir com o alto momento dessa transformação. Passam-se os meses, o tempo corre solto e é então chamado um executivo de renome no mercado para assumir a Abril. Walter Longo, repleto de amigos e admiradores, com destaque no segmento publicitário. Vi pessoalmente, em muitas visitas que fiz ao gabinete majestoso de Longo, seu incansável esforço para recuperar o terreno perdido pela Abril.
Observei seus movimentos sem pausas, como o chinês que gira os pratos sobre varetas no palco, sob o olhar de otimistas e pessimistas, mais destes do que daqueles. Distinto, cavalheiro, permanente sorriso nos lábios, Longo fingia não saber o que todos sabiam: aceitara uma missão impossível, certo de que o seu eventual sucesso o consagraria de forma indelével. Fica com o crédito, porém, de ter feito o possível e o impossível.
A saída de Longo ocorreu antes do fim dos estudos da consultoria Alvarez & Marsal, levando Giancarlo Civita, um dos filhos de Roberto Civita, a assumir interinamente e por quatro meses a presidência da Abril. O título da matéria que o PROPMARK hoje publica em página inteira, de autoria do jornalista Paulo Macedo, revela a nova etapa de uma das mais brilhantes histórias de
empreendedorismo dos mercados editorial e publicitário brasileiro: Família Civita deixa comando da Abril e Alvarez & Marsal assume. A matéria registra: “O executivo Marcos Haaland vai ser o presidente-executivo do grupo (…) com o objetivo de sanar dívida de R$ 450 milhões”.
Saiba, Haaland, que muito mais que a sua família, muito mais que a Alvarez & Marsal da qual você é sócio, muito mais que jornalistas, publicitários, funcionários da Abril, muito mais que seus leitores e 205 milhões de brasileiros, torcemos todos por você. A Abril é uma história sem fim.
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Nesta terça, 24, a revista Propaganda promoverá a entrega dos troféus aos vencedores do 31º Prêmio Veículos de Comunicação, no auditório da ESPM (Rua Dr. Álvaro Alvim, 123 – Vila Mariana – SP), com recepção a partir das 19 horas. A premiação refere-se aos meios que mais se destacaram em 2017, segundo escolha do júri formado por membros da Academia Brasileira de Marketing.
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A cerimônia de entrega do Prêmio Colunistas, regional de São Paulo e o Nacional, ambos relativos a 2017, ocorrerá no Limelight, em São Paulo (Av. Dr. Cardoso de Melo, 1.433 – V. Olímpia), na noite de 13 de agosto, a partir das 19 horas. Serão comemorados na ocasião os 50 anos da mais tradicional premiação da publicidade brasileira.
Reserva de convites com Nanny Lima (nanny@editorareferencia.com.br).
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Este Editorial é em homenagem às memórias de Victor e Roberto Civita.