Histórias de Cannes: André Felix
O fantástico mundo dos Leões
É aprendizado, mas também é uma imersão em outra cultura. É networking, mas não deixa de ser também uma pausa no dia a dia, a calmaria necessária vez ou outra para que a criatividade não acabe nunca. Publicitário sabe equilibrar as boas coisas da vida. E o Festival Internacional de Criatividade, o Cannes Lions, ou somente Festival de Cannes, é isso, uma boa dose de conhecimento, a busca por tendências aplicáveis no mercado de trabalho, mas também – confesso – dias divertidos e regados a cerveja no Martinez.
Premiação tem aos montes por aí. Festivais, idem. Fui para Cannes pela terceira vez e com uma expectativa diferente da de outros anos. A primeira vez que fui, em 2004, tinha a minha própria agência e fui concorrendo. Estava ali, de corpo presente, acreditando que o evento poderia dar uma chacoalhada na carreira que estava alavancando. E deu. Não saí com o Leão, mas voltei ao Brasil com referências globais, cases de sucesso, exemplos de negócios. Apesar de tudo ser novidade, as coisas há nove anos eram quadradas, formatadas. Eram CEOs no palco, apresentando exemplos de sucesso sobre a efetividade de campanhas e novos modelos de negócios.
Na segunda, em 2011, fui representando a agência que estava como diretor-geral de atendimento. A experiência e anos de trabalho foram comigo na bagagem, que voltou ainda mais pesada, cheia de novidades, principalmente do universo digital, que tomava uma proporção inimaginável. Falando sobre digital, não tenho como não puxar a sardinha para este lado, que é a minha rotina e grande paixão. É engraçado e gratificante ver como esta área, que lá atrás aparecia como potencial, tomou forma e hoje permeia praticamente todos os painéis. Em 2011, o assunto era o surgimento de novos meios e alternativas que estavam virando de cabeça para baixo o mercado publicitário. No ano anterior, foram gastos mais de 450 bilhões de dólares em publicidade em todo o mundo. É muito dinheiro. Essa foi a maior razão das discussões em Cannes naquele ano. Como proteger esse investimento e criar modelos de negócio que sustentem o crescimento dessa indústria?
Em 2013 levei comigo, além de toda a experiência adquirida em anos de profissão, um olhar mais crítico. Fui ao maior festival de publicidade do mundo com a visão de quem já passou por poucas e boas. Constatei as mudanças do mercado e, principalmente, olhei para fora. O mundo da publicidade pede isso constantemente. Precisamos o tempo inteiro olhar para o diferente, para o novo, para as tendências e, principalmente, para o que tem ou não potencial de virar uma grande campanha. Cannes é um investimento alto e o que busquei foi enxergar no festival um mundo além do que vi nas outras vezes em que estive lá. Sem politicagem, sem opinião tendenciosa.
O que tirei disso? Sinceramente, extraí principalmente que premiação é o de menos. O Leão alimenta o ego, enriquece o currículo, diversifica o portfólio. Mas a verdade é que festivais de publicidade precisam entregar muito mais do que isso. Entre os cases, destaque para o “The Philippines”, que conquistou o Grand Prix de Mobile. Mais uma vez o simples surpreendeu. Não é necessária sempre uma verba astronômica ou uma ideia fora da caixa. Muitas vezes o famoso “como não pensei nisso antes?” é o que ganha espaço.
E, como eu disse, não é só de Leão que se vive em Cannes. O quebab com batatas fritas, o sorvete de casquinha e os passeios pelos arredores valem a viagem e fazem parte da lista de itens “revigorantes”.
Além das palestras, networking, conteúdo, cases, participei do time de beach soccer dos publicitários. Ok, pode não ter relação com o festival em si, mas ouso dizer que tornou a experiência ainda mais completa. Queria ter acompanhado a Copa das Confederações e trazido o ouro ao Brasil. Mas, desta vez, ficamos com o quarto lugar dentre 16 equipes. Tá valendo. O “conjunto da obra” e as novas amizades ficaram em primeiro lugar.
*diretor de planejamento e social media da ID