Histórias de Cannes: Gal Barradas
Palmas e Leões
Meu avô Manoel Barradas tinha duas paixões: o Vitória (Esporte Clube Vitória) e o cinema. Ele foi dono de algumas das mais importantes salas de cinema de Salvador, quando elas ainda eram na rua.
No início dos anos 1980, ele já não tinha cinemas, mas seu interesse nunca deixou de existir. Me lembro bem de um diálogo que tivemos na ocasião: ele ouviu falar de uma maquininha chamada videocassete, que permitiria às pessoas assistir filmes em casa. Ele me perguntou se, com isso, eu achava que as salas de cinema iriam acabar. Respondi categoricamente que não, apenas por intuição e sem qualquer reflexão sobre o assunto.
Foi por meio do meu avô que ouvi falar pela primeira vez de um certo Festival de Cannes, cujo prêmio era uma Palma de Ouro. Achava tão bonito o nome “Palma de Ouro”… Vinha à minha cabeça a palma propriamente dita e as palmas que aplaudiam os filmes.
Anos depois, em 1990, em início de carreira na agência de Duda Mendonça, em Salvador, vi os criativos se articulando para ir ao Festival de Cannes. Fiquei eufórica, como quem ouve notícias de um velho conhecido, e descobri que era um outro festival, o de publicidade.
Eu era curiosa e perguntei o que eu teria que fazer pra ir também. E eles me disseram que era “só pra criação”… E eu era “do atendimento”. Hahahahahaha. Bem, amigos, todos sabemos como o mundo mudou. E como é bom recordar desse diálogo de 1990 apenas como a lembrança distante de um velho paradigma.
Os videocassetes não acabaram com as salas de cinema assim como cada nova mídia que surge no nosso mundo não acaba com a anterior, mas nos faz repensá-la, transformá-la, adaptá-la de uma maneira melhor, mais integrada, mais efetiva, mais divertida e mais útil, inspirando novas formas de comunicação.
Assim é este festival que adoro frequentar. Sem preconceitos, os Atendimentos, Criativos, Produtores, Clientes, Mídias, Desenvolvedores, Planners, Artistas, Músicos, Jornalistas, todos fazem o festival ser vibrante e importante, além das salas de júri. E como vim da Terra de Todos os Santos, faço uma homenagem ao Festival de Cannes: o Festival de Todos os Publicitários.
P.S.: o símbolo do nosso Festival de Cannes é um Leão. Assim como o do meu Vitória 🙂
*Gal Barradas é CEO da F.biz