Histórias de Cannes: Luiz Buono
Eu vi em Cannes
Eu vi que no passado as pessoas iam a Cannes para ver filmes e verem e serem vistas. Hoje, elas continuam indo para verem e serem vistas, mas, em vez de filmes, elas veem palestras.
Eu vi que vale super a pena, em vez de ir direto a Cannes, dar uma passadinha em Paris para matar as saudades e sentir o gostinho de “quero mais”.
Eu vi que as projeções dos cases de Titanium são mais bacanas para quem está interessado em novidade de verdade.
Eu vi que palestras com celebridades já estão começando a se esgotar.
Eu vi que Cannes quase parece um clube durante o festival. Você encontra muita gente conhecida de dia e de noite e não vê pobres e pedintes.
Eu vi que a cada ano que passa a calçada do Hotel Martinez fica cada vez menor para o número de pessoas que se encontram para socializar.
Eu vi que não é porque o Brasil é o país do futebol que a gente sempre ganha o campeonato de futebol de Cannes. Holandeses, dinamarqueses e russos do norte sempre estão entre os melhores.
Eu vi que em 2002, o primeiro ano em que fui a Cannes, as palestras tinham no máximo 10 pessoas; hoje, não se encontra lugar pra sentar.
Eu vi que as pessoas do mundo todo adoram ir a Cannes de Havaianas.
Eu vi que Cannes é o único evento de negócios do mundo em que os palestrantes vão de bermuda e sandália.
Eu vi que a delegação brasileira só é menor que a americana.
Eu vi que fazer footing na Croisette é o grande programa de Cannes.
Eu vi que as mulheres russas são as mais desinibidas do mundo. Eu as vi subirem na mesa e colocarem os brasileiros na roda na festa da praia.
Eu vi que os ingleses, não sei bem por que, parecem os verdadeiros reis do mundo; não pela arrogância, mas pela postura “real”.
Eu vi que, se você não se relaciona bem com os jurados, tentando fazer boas composições, vai ter muito pouca influência na hora da votação.
Eu vi meu sócio tendo que explicar para a imprensa especializada por que o Brasil não levou nenhum prêmio em marketing direto em 2003.
Eu vi que, de verdade, só se justifica tantas categorias de premiação no festival para se faturar mais, porque hoje não existem mais limites entre as categorias.
Eu vi que existem poucos CDFs como eu que renunciam à praia e à visita a cidades vizinhas a Cannes em prol de ficar assistindo palestras no Palais.
Eu vi que está ficando muito chato ter que entrar na fila pra encontrar um lugar no auditório e, quando você sai, tem que entrar na fila de novo pra voltar.
Eu vi que patrocinar um estande no Palais não é tão caro assim.
Eu vi que a Clélia Salgado do Estadão é a maior hostess que o festival já teve.
Eu vi que nunca se sabe se vai estar frio ou calor na época do festival. Varia muito.
Eu vi que o resto do mundo está anos-luz à frente do Brasil no que se refere a campanhas inovadoras ligadas ao mundo digital.
Eu vi que a Ásia e a Oceania estão avançando muito em termos de criatividade.
Eu vi que a criatividade argentina está entrando numa bolha.
Eu vi que é muito perigoso você falar português no Palais e pensar que ninguém vai entender.
Eu vi que fazer reserva em restaurante não é garantia de lugar disponível. Vi também que, se você grita mais forte, o francês “arrega”!
Eu vi que é bem divertido ir a Cannes em época de Copa do Mundo. Os brasileiros se juntam pra torcer e é bem legal.
Eu vi que a Coca-Cola sempre “arrasa” em suas apresentações nos seminários.
Eu vi que as mascotinhas de Cannes, as duas tigrinhas, já não estão agradando como antes.
Eu vi que em Cannes (Nice) também tem alarme falso de bomba em aeroporto.
Eu vi que é muito legal andar pela Croisette carregando Leão na noite da premiação.
Eu vi que, pra comer nas varandas do “Pelouran”, você precisa chegar bem cedo.
Eu vi que comer cachorro-quente no primeiro quiosque após o Palais é garantia de sempre encontrar alguém interessante pra conversar.
Eu vi que andar no trenzinho de Cannes e fazer o city tour é o maior mico.
Eu vi que, se você fizer reserva em hotéis por conta própria e com bastante antecedência, vai encontrar ótimas opções e bem baratas.
Eu vi que alugar uma scooter em Cannes é o máximo. Mas não se esqueça de usar capacete (casquet), senão é multa na certa.
Eu vi que, a cada ano que passa, mais e mais clientes vão a Cannes.
Eu vi que os convites para festas e eventos paralelos acontecem na exata medida da sua importância para quem o convida.
Eu vi que o Pierre Cardin tem uma casa à la Flintstones, com uma vista divina para o mar e que pode ser alugada para festas.
Eu vi que tudo o que você vai ver em Cannes já está em algum lugar na internet.
Eu vi que a maioria dos cases é premiada em diversas categorias.
Ei vi o Lou Reed, a Vivienne Westwood, o Jack Black, a Yoko Ono, a Annie Leibovitz, a Patti Smith e o Ben Stiller falando no Palais.
Eu vi uma festa maravilhosa da Leo Burnett com o Enigma tocando ao vivo.
Eu vi o Mark Zuckerberg sentado sozinho, e bem apertadinho na poltrona do meio, em avião de carreira na rota Nice-Paris (ouvindo seu iPod).
Eu vi que o Brasil sempre patrocina o banner gigante da porta principal do Palais.
Eu vi um monte de gente que precisava de tradução simultânea porque não estava entendendo nada.
Eu vi um homem ressuscitar na palestra da Saatchi & Saatchi. Através de holografia, eles trouxeram de volta ao mundo um publicitário.
Eu vi que, nos dois últimos dias do festival, as pessoas arrancam os pôsteres da parede pra levar pra casa.
Eu vi que o controle de entrada do Palais é rigoroso. Não passa ninguém.
Eu vi que o festival não entrega mais a listagem com todos os delegados, que era muito útil pra gente saber quem estava lá e estabelecer contatos.
Eu vi que nem no dia das premiações as pessoas usam terno e gravata.
Eu vi que os smartphones tomaram conta do festival. Tudo é no smartphone, tudo.
Eu vi que, no último ano, um desavisado jamais imaginaria que estaria num festival de propaganda.
Eu vi que o pessoal da Ásia faz tanta comida no quarto que alguns hotéis estão tirando o frigobar na época do festival.
Eu vi que é muito difícil entender um japonês falando inglês.
Eu vi que os turistas adoram tirar fotos nas escadarias do Palais, ícone do festival de cinema.
Eu vi que o “Le hot dog blog”, da Fábrica, faz sucesso também com quem está lá no festival.
Eu vi que, se você não for a Cannes pelo menos uma vez, você não é um publicitário de verdade.
Eu vi que os clientes adoram ganhar prêmio, ainda mais em Cannes.
Eu vi que os “fantasmas” estão perdendo força e pegando muuuuuito mal.
Eu vi que ser convidado pelo propmark pra escrever sobre Cannes é uma delícia!
*vice-presidente de planejamento e atendimento da Fábrica