Histórias de Cannes: Patricia Weiss
#2013jaheraofuturo
A minha história de Cannes aconteceu há exatamente 10 anos, durante a edição de 2003 do Festival. Mas é uma história sobre o futuro. O futuro em que vivemos hoje, uma década depois. No ano de 2003, aconteceu um fato que aparentou significar uma consciência de urgente transformação, no mindset e nos padrões do mercado de publicidade e de marketing mundial. Uma espécie de elemento sinalizador de mudanças indo além de formatos.
A categoria Titanium Lions estreou no Festival para coroar ideias e cases inovadores, que iam além do tradicional. Uma ideia de Dan Wieden, motivado pelo sucesso da campanha BMW Hire, da agência americana Fallon, lançada em 2001, nos EUA. Oito curtas-metragens de dez minutos cada, dirigidos por cineastas hollywoodianos como Ang Lee, Ridley e Tony Scott, Guy Ritchie e outros. O personagem principal, “Driver”, foi interpretado pelo ótimo ator inglês Clive Owen, que participou de todos. A pop star Madonna atuou no curta dirigido pelo então marido, Guy Ritchie. Um case inesquecível pela ousadia, por ter contado uma história, aliás, oito, aproximando territórios paralelos da indústria cultural (publicidade e entretenimento).
Inovador não só pelo formato que foi bem além dos 30 segundos, mas por pontuar uma oportunidade única dada aos cineastas de trabalharem com total liberdade criativa nos roteiros. O carro foi inserido nas histórias com adequação e maestria. Como 90% da verba foram destinados aos custos de produção, a campanha foi lançada na internet (que em 2001 não era o que é hoje). Sucesso em todos os sentidos.
O festival chegou a premiar a campanha com um Cyber Lion em 2002 (o que pareceu mais adequado na época), enquadrando o case com um olhar ainda tradicional, voltado para a mídia. E, no ano seguinte, com o merecido prêmio Titanium. Um case que representa até hoje um dos melhores e mais completos cases de Branded Entertainment & Branded Content. Uma categoria, aliás, inserida muito tardiamente no Festival: somente no ano passado.
A sociedade incrementou a discussão sobre uma comunicação menos intrusiva e mais relevante, com menos impacto e mais envolvimento, onde a mensagem da marca deveria fluir como conteúdo e não com o conteúdo. O case da BMW era perfeito para esse contexto, há dez anos. E permanece. Tanto que serviu de exemplo e inspiração para outros vários, premiados ou não, até os dias de hoje.
Dez anos se passaram. Estamos em 2013. A audiência da internet e o acesso crescem ano após ano, mas ninguém abandonou a TV, nem os anunciantes. A audiência não escolheu outra tela. Adicionou. Quanto mais telas disponíveis, se possível, ao vivo, e quanto mais informação, conteúdo e produtos, mais usufruiremos de tantas opções que temos neste presente hiperconsumista e hipermidiático.
Como humanos, somos seres altamente sociais e a compra se torna cada vez mais um processo coletivo, em uma cultura amplamente participativa. Indivíduos que se agrupam em comunidades diversas, por afinidades, e instintivamente (e não por causa das redes sociais), mas na fluidez e ritmo possibilitados pela tecnologia.
Os indivíduos de hoje (novos produtores das próprias histórias e conteúdos), os meios, as telas e as formas de contar histórias continuarão se reinventando e coexistindo. Contanto que deem vazão à curiosidade humana.
Os indivíduos vão continuar a contar o que viram e sentiram. Saber do outro, saber o que virá e espalhar pelo mundo as suas histórias.
*Chief Strategy Officer da Agência Wanted