Ídolos?

Você tem um ídolo? Eu já tive fases de grande admiração por esportistas, artistas e líderes de movimentos sociais. Hoje, continuo admirando alguns expoentes. Por jogar tênis, tenho grande admiração – já fiz até selfie! – por Roger Federer, para mim, um dos maiores de todos os tempos.

Mas confesso que tenho grande dificuldade de entender o surgimento de ídolos nestes novos tempos. Vejamos o fenômeno dos youtubers, por exemplo.

De repente, começam a surgir, do nada, novos ídolos, capazes de conquistar milhões de seguidores com um conteúdo rasteiro e despretensioso.

São Kéferas, Felipes, JoutJouts, Japas, Christians e outros que acabam se projetando num universo formado por um público consumidor de meios circunscritos à tela de um celular ou computador.

O marketing descobriu esses novos ídolos, que já fazem parte de campanhas massivas, veiculadas pela TV. Aliás, a própria TV aberta se rendeu ao fenômeno e comprou o passe de alguns deles para tentar pegar carona nesse alcance entre os jovens.

Esses novos ídolos já ostentam contas bancárias só comparáveis a cantores, atletas ou artistas consagrados.

No mundo adulto, vemos também algo parecido. Filósofos menos herméticos fazem sucesso em posts de redes sociais e acabam se tornando referências para conversas e compartilhamentos.

Alguns desses filósofos mais pops já aparecem com frequência em eventos e na TV, com bom destaque. É o caso de Luiz Pondé, Mario Sérgio Cortella e do queridinho do momento: Leandro Karnal, ao qual se atribui um monte de citações pela web.

Não sei se Aristóteles, Platão ou Sócrates foram grandes ídolos do seu tempo. Mas os nossos web-filósofos têm sido capazes de conquistar milhões de seguidores.

Principalmente os pseudofilósofos teens, que desandam a falar do comportamento humano e a dar conselhos, muitos deles sem qualquer fundamento.
No campo da música, vemos também o surgimento de rappers e funkeiros que fazem fama no meio digital, muito antes de aparecerem ao vivo em algum show. Eu mesmo tenho uma sobrinha (Lolla Dias) que se lança como cantora (por sinal, talentosa) e já tem centenas de milhares de fãs, arregimentados no meio da internet.

São fenômenos desses tempos, de onipresença da internet na vida de milhões de pessoas.

Mas o que mais me incomoda é a ascensão de alguns tipos de líderes, que acabam se tornando ídolos de incautos e vulneráveis.

Refiro-me, por exemplo, ao sem número de pseudorreligiosos que invadiram o horário nobre da TV aberta para arrancar dinheiro em nome de um Deus, que é apenas um subterfúgio para enriquecer bispos de araque, lobos em pele de cordeiro, prontos para dar o bote em pessoas fragilizadas pelas agruras da vida.

E como explicar a ascensão de um líder como Donald Trump no país supostamente mais desenvolvido do mundo?! Está certo que, no campo da política, temos exemplos históricos de ídolos questionáveis.

Quantos e quantos compraram os conceitos abomináveis de Adolf Hitler, por exemplo? Mas temos também exemplos de líderes verdadeiros, que encantaram uma geração.

Eu mesmo, na minha juventude, sabia de cor o histórico discurso “I have a dream”, do ativista pelos direitos dos negros americanos, ganhador de um Prêmio Nobel da Paz, Martin Luther King.

Trazendo o tema para o nosso meio, do marketing, penso na associação de marcas a ídolos. Sei que existem plataformas prontas para facilitar o vínculo de novos ídolos a marcas. E fico na dúvida se essa facilidade não pode gerar associações inverossímeis.

Temos ótimos exemplos de marcas que foram construídas usando o recurso de vínculo com ídolos e não vejo nada de errado nisso. Só me preocupa a banalização e um vínculo inadequado, que pode fazer mais mal do que bem a uma marca.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda)