Indústria de energia promete verba bilionária na mídia brasileira em 2024
O pico da mudança é agora. A corrida para esse ouro começa em 2024
Enchente no Sul. Seca na Amazônia. Como um grito da natureza por socorro, os extremos do Brasil sofrem. Devastadas, cidades agonizam em cenários de morte e desalento. O aviso ressoa em todo o planeta, com temperaturas que beiram 50°C. É hora de agir. A mudança climática não poupará vidas e muito menos os lucros de empresas e governos.
O vilão mais conhecido é o gás carbônico (CO2), liberado na atmosfera por meio da queima de combustíveis fósseis. O mercado de petróleo fixa o eixo do imbróglio. Da indústria aos carros, o recurso que propiciou o desenvolvimento da economia em todo o mundo desde a Revolução Industrial, no século 19, precisa hoje ter o seu uso repensado.
Para além de metas não cumpridas em conferências sobre o aquecimento global realizadas há décadas, países da Europa finalmente estabelecem limites. Em fevereiro, o Parlamento Europeu formalizou lei que proíbe a venda de veículos novos movidos a gasolina e diesel na União Europeia a partir de 2035. A redução do volume de automóveis movidos a combustão é apenas um indício da transformação do mercado de energia.
A corrida para a eletrificação das marcas está só no começo. É o prenúncio de novas verbas injetadas na mídia brasileira. A expectativa é de que o mercado de energia destine mais de R$ 2 bilhões em marketing em 2024, segundo Marcelo Trevisani, CMO da (re)energisa, ecossistema de soluções energéticas do Grupo Energisa, que possui 118 anos de história. A projeção acompanha o rastro do avanço. “O pico da mudança é agora. A corrida para esse ouro começa em 2024”, avisa Trevisani.
O movimento acirra a competição, elevando a importância do marketing para diferenciar as propostas ofertadas. A transição energética atrai verbas e a movimentação da mídia é visível.
Nesta segunda-feira (6), estreia uma ação criada pela Wunderman Thompson para a Shell, que explora o território do entretenimento para falar sobre futuro energético e sustentabilidade. Exibida no intervalo da novela “Terra e paixão”, da Globo, até o dia 10 de novembro, a mininovela é protagonizada pelos atores Sophia Abrahão e Sérgio Malheiros.
Já a Neoenergia doou lâmpadas na campanha educacional feita em parceria com Rock in Rio e The Town e encomendou jingle à banda baiana Afrocidade para gerar conteúdo em prol da descarbonização no TikTok. A rede também foi palco do desafio “Tropa antichoque” em ação sobre o uso seguro da rede elétrica, conduzida em conjunto com a agência Tagcom, de Campinas (SP).
A marca lançou ainda a promoção “Conta premiada”, além da campanha “Nossa vez”, criada pela Fibra, que falou sobre a valorização da mulher durante a Copa do Mundo Feminina 2023. O contrato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) contempla o patrocínio das seleções brasileiras femininas de futebol e do campeonato nacional de clubes, o Brasileirão Feminino Neoenergia.
Parte do grupo espanhol Iberdrola, a Neoenergia está no Brasil desde 1997. Presente em 18 estados e no Distrito Federal, a companhia atua na geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia. As distribuidoras de Coelba (BA), Pernambuco (PE), Cosern (RN), Elektro (SP/MS) e Brasília (DF) atendem mais de 37 milhões de pessoas.
Já a Esfera Energia está na mídia nacional com a campanha “Simples assim”, endossada pelo ator Lázaro Ramos, que acaba de ser escolhido como embaixador da marca. O trabalho, que apresenta rebranding e soluções da empresa, foi viabilizado pela parceria das agências Newton, Daxx e Cely, com produção da Bizzu.
“Estamos nos posicionando como protagonistas de um mercado de energia que vai se abrir a todos os consumidores nos próximos anos”, indica em nota Braz Justi, CEO da Esfera Energia. A empresa administra mais de 1,2 mil unidades consumidoras no MLE e cerca de 2,6 mil clientes residenciais.
Bateria recarregada
Engie, Equinor, Cemig e Raízen Power - fruto de parceria com a Greenz, responsável pelo atendimento da VP de Power da Raízen desde 2022 - são players que intensificam esforços de comunicação ao lado de gigantes, como a Petrobras. Após sete décadas, uma das marcas mais valiosas do Brasil começa a mudar o seu posicionamento - de petroleira para uma empresa de energia.
“A Petrobras chega aos 70 anos com um propósito tão firme quanto em sua fundação: de impulsionar o Brasil para protagonizar mudanças e transformações fundamentais”, disse Jean Paul Prates, presidente da companhia, em cerimônia realizada no dia 3 de outubro no Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio de Janeiro. O evento abriu o calendário de comemoração da data.
A intenção de investir em fontes alternativas, como energia solar, eólica e na produção de hidrogênio verde - uma das principais promessas de fontes limpas -, está delineada no filme “A energia do amanhã”, que tem trilha inspirada na canção
“Pra gente acordar”, da banda Gilsons, formada por filho e netos de Gilberto Gil. “A campanha de 70 anos da Petrobras é mais que um momento de celebração de aniversário, ela marca o início de uma nova jornada de liderar a transição energética justa, olhando para o planeta, para as pessoas e respeitando a vocação regional do país”, comenta Luis Carlos Franco, da Ogilvy, que assina a campanha.
A diversificação da matriz energética aponta para o futuro da marca a partir da herança deixada por trabalhadores e o próprio povo brasileiro. “O filme celebra as sete décadas de paixão da Petrobras pelo nosso país, honrando aqueles que moldaram a nossa jornada e olhando com determinação para um horizonte sustentável”, declara em nota Ana Claudia Esteves, gerente de marcas e publicidade da estatal.
O vídeo está em veiculação na TV, plataformas digitais da Petrobras e na mídia exterior, por meio de mais de 36 mil telas da Eletromidia em 18 cidades. Com trabalho da Brivia, o site também foi relançado, e agora exibe páginas como “Energia em transformação”, “Inovação e tecnologia” e “Jornada da energia”, entre outras.
Ativações físicas permeiam a agenda. A praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, recebeu no dia 4 de outubro a exposição imersiva “O Brasil é a nossa energia”, implementada pela V3A, que produziu também a cerimônia no Cenpes. Gratuita, a mostra aterrissou depois no Salão Negro do Congresso Nacional, no Distrito Federal, promovendo uma viagem de memórias.
Seis aeroportos dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, de onde os trabalhadores saem para as plataformas da Petrobras em alto-mar, ganharam a “Ação do embarque”, que utiliza realidade aumentada para levar ao público informações sobre a transição energética. Já a Bahia, onde foi descoberto o primeiro poço de petróleo do Brasil, sediou um encontro com a comunidade, poder público e colaboradores.
“O mundo já passou por algumas transições, assim como foi a substituição da lenha e do carvão pelos derivados do petróleo. Toda transição representa um desafio e um marco histórico pela mudança de paradigma tecnológico, econômico e ambiental. Contudo, diferentemente do carvão, a indústria do petróleo possui uma forte organização geopolítica e já está se posicionando”, observa o economista Vanderlei Martins, professor da FGV e Ph.D. em planejamento energético
Leia a matéria na íntegra na edição de 6 de novembro de 2023