Ipsos traça perfil do consumidor atual
Um levantamento realizado pela Ipsos Marplan MediaCT reuniu dados de uma série de estudos e tendências e procura traçar o novo perfil do consumidor brasileiro. A ideia surgiu a partir do livro “50 anos de pesquisa Marplan”, quando a empresa montou dois panoramas: um do consumidor dos anos 60 e outro do consumidor na década de 2010. Hoje, o consumidor está mais engajado, conhecedor, crítico, sofisticado e adora comprar. Mais precisamente, 54% afirmam que fazer compras serve para relaxar.
“Percebemos uma expressiva transformação e sentimos a necessidade de fazer um diagnóstico mais amplo e mais contextualizado do consumidor da atualidade”, conta Diego Oliveira, diretor de conta da Ipsos MediaCT e responsável pelo projeto. Foi considerada boa parte dos estudos EGM da Ipsos Marplan nos 13 mercados em que a empresa atua – totalizando 50.670 entrevistados em todo o Brasil.
Oliveira destaca que, comparando o perfil dos consumidores de 1960 e 2010, descobriu-se que o ethos de consumo da década de 2010 no Brasil tem sido marcado pelo desenvolvimento econômico, pela ascensão e maior participação da classe C na aquisição de bens e produtos, pela complexidade das estruturas familiares, pelo empoderamento feminino e pela ampla utilização da internet por diferentes perfis de públicos. Tal panorama fez surgir uma nova dinâmica de consumo, agora mais democrática e acessível aos brasileiros como um todo. “Em meio a toda essa complexidade, o fato que não podemos negar é que o perfil do consumidor da década de 2010 ainda está sendo construído. Porém, constatamos que a transformação parece colocá-lo em um permanente estado ‘beta’, ativado por um bombardeio de novas tecnologias e taxas de incorporação de novos cenários à vida cotidiana”, diz.
Entre os diversos valores que marcam e definem os consumidores da contemporaneidade, ganham destaque a busca individualizada pelo sucesso – evidenciada nos bens consumidos –, o despontar das famílias alternativas que moldam as novas relações sociais de consumo, a emergência de uma nova ética de autorrealização pela aquisição de bens e a clara mistura dos papéis de homem e mulher na sociedade – inclusive com a mulher sendo cada vez mais detentora do poder de compra. Entre outras coisas, esse consumidor é mais racional e exigente, prefere produtos com qualidade e está mais sensível a preços. Para as marcas, é um sinal de alerta: o novo consumidor brasileiro está menos vulnerável ao poder da marca – leia-se menos fiel a produtos e marcas e mais consciente do valor da moeda. Quem conceder descontos pode se beneficiar – desde que tenha qualidade, claro.
“Conhecimento e informação geram emancipação. Os consumidores de hoje têm acesso fácil, rápido e irrestrito às informações sobre produtos e marcas – o que faz com que sejam muito mais críticos e céticos. Além disso, o mundo conectado possibilitou uma aproximação entre consumidores sem precedentes – ampliando o poder da recomendação das pessoas comuns e fragilizando o poder da comunicação meramente publicitária”, analisa Oliveira.
Esse mesmo consumidor contemporâneo com grande poder de escolha costuma buscar e comparar informações sobre as empresas e os produtos/serviços antes de realizar uma compra ou mesmo consumir uma mídia. 38% deles recebem, frequentemente, pedidos de conselhos para a realização de compras, sendo que 21% são os primeiros a experimentar novos produtos e serviços. E 10% influenciam o comportamento de compra dos demais 90% – o que configura de fato uma grande mudança de comportamento e valores, que tem como foco a recomendação.
Ao todo, 91% dos entrevistados gostam de comprar por recomendação, 46% pedem conselhos antes de fazer uma compra e 56% gostam de experimentar novos produtos e marcas. A maioria prefere visitar várias lojas antes de realizar uma compra. Segundo a Marplan, 52% das pessoas gostam de ser reconhecidas como bem-sucedidas economicamente.
O ritmo do consumo também mudou – tornando-se, claro, mais imediatista, característica da sociedade contemporânea como um todo. Ao todo, 35% dos consumidores de hoje preferem comprar algo a crédito e 20% não se imaginam sem o cartão de crédito. O brasileiro torna-se pouco a pouco mais cuidadoso com o dinheiro: 68% são cuidadosos e 46% não conseguem poupar.
Novos valores
A relação com a família se fortaleceu. Hoje, 64% das pessoas preferem passar as horas vagas com a família e 44% consideram o trabalho item prioritário na vida. Um levantamento da Marplan no ano passado comprovou que 72% garantem que suas vidas estão melhores do que no passado e 78% acreditam que suas vidas serão melhores no futuro.
Talvez nunca antes se tenha percebido tão fortemente algumas das tendências que vêm sendo apontadas há 10 anos, como a maior busca pela qualidade de vida no lugar de padrões de vida mais altos, a criação de famílias alternativas no lugar dos modelos tradicionais, do pluralismo no lugar do expansionismo, a ética da autorrealização no lugar da ética de autonegação de outros tempos.
Oliveira chama a atenção para o surgimento da internet nos anos 90 e a sua utilização em escalas cada vez maiores – que também ajudaram a reformular as práticas de consumo da atualidade. A tecnologia tornou-se essencial: 47% preferem produtos que oferecem a última palavra em tecnologia e 31% não se imaginam sem internet.
O executivo diz que não existe algo “universal” que motive os consumidores brasileiros hoje a comprar. “Trata-se de uma conjunção de fatores que estão ligados a muitos outros. Aqui poderíamos pensar no conceito de ‘habitus’ de Bourdieu, desenvolvido pelo autor para evidenciar que as escolhas, os hábitos e as práticas, além das ações em situações diárias, são normalmente relacionados a uma dada classe social e à posição do indivíduo na sociedade – e o consumo está totalmente entrelaçado a esse contexto”, conclui.