Jellyfish: por que investir no Brasil ainda é um bom negócio?

Rob Pierre e David Reck (Divulgação)

No começo de outubro, a Jellyfish, empresa global que integra dados, criatividade e compra de mídia, adquiriu a Reamp, empresa brasileira de marketing programático. PROPMARK conversou com Rob Pierre, CEO da Jellyfish, e David Reck, CEO da Reamp, para ouvir detalhes sobre a parceria.

Mesmo com a crise econômica e política, investir no Brasil ainda é um bom negócio? Por quê?

Rob Pierre – Segundo o eMarketer, os investimentos em publicidade digital na América Latina dobraram nos últimos cinco anos para atingir 36% e, apesar do clima atual, o Brasil está entre os três mercados de publicidade digital que mais crescem no mundo em 2020, com uma taxa de crescimento de 5,2% prevista para este ano. Esse crescimento significativo, que também está sendo facilitado pela adoção do mobile na região, representa enormes oportunidades para qualquer empresa que esteja procurando se expandir. Na Jellyfish, nossa intenção é ser a primeira opção de parceiro global das marcas para as suas necessidades digitais. Para conseguirmos isso com sucesso, precisamos construir nossa presença no mercado latino-americano, que está em rápido crescimento – e isso certamente inclui o Brasil.

A pandemia acelerou os processos digitais de muitas empresas. Isso acabou fortalecendo a Jellyfish globalmente?

Rob Pierre – A pandemia trouxe uma mudança de cerca de três anos no intervalo de três meses e, para as marcas, mostrou claramente onde se encontram as oportunidades de transformação digital. Muitas empresas estão percebendo que o digital não é uma opção, mas um requisito para os negócios, e que pode significar a diferença entre a sobrevivência e a prosperidade de um negócio ou a sua extinção. Conforme as marcas se deparam com essa dura realidade, parceiros digitais como a Jellyfish estão preparados para apoiá-las no seu processo de maturidade digital.

Por que vocês escolheram a Reamp?

Rob Pierre – A Reamp é uma líder reconhecida em marketing programático no Brasil e foi uma das primeiras parceiras do Google na América Latina. Além disso, compartilhamos valores fundamentais, o que faz da Reamp a escolha ideal para a Jellyfish, conforme continuamos a nos expandir na região. Estamos realmente animados para que a equipe de 100 pessoas da Reamp, liderada por David Reck, faça parte da Jellyfish, enquanto seguimos em nossa missão de ajudar os clientes com sua transformação digital.

Como a aquisição irá influenciar na independência da Reamp? Vocês terão liberdade para decisões locais? Como irá funcionar?

David Reck – Nós, sócios da Reamp, nos tornamos sócios globais da Jellyfish, que é uma única empresa global. Diferente da estrutura comum das agências, onde existe um grupo de empresas com resultados e sócios locais por região, na Jellyfish todos atuam com um único centro de resultados para desenvolver as operações globalmente. Seremos os responsáveis por desenvolver a equipe brasileira, respondendo diretamente a Rob Pierre, co-fundador e CEO global. Queremos levar os nossos clientes, marcas nacionais ou com operações no Brasil, a diversas regiões do mundo, com a ajuda dos 1400 experts em digital da Jellyfish, espalhados em 32 escritórios internacionais situados em 19 países. Além disso, usaremos a nossa expertise para atender marcas do mundo inteiro, clientes globais da Jellyfish, proporcionando novas oportunidades de desenvolvimento para os nossos parceiros, colaboradores e fornecedores. Estamos escalando e ganhando envergadura mundial, sem abrir mão da nossa essência, porque foi ela que nos trouxe até aqui.

Como a conversa com a Jellyfish aconteceu?

David Reck – Olhando para o mercado da América Latina, a Jellyfish buscava expandir e consolidar a presença no Brasil – um projeto que começou em 2019, com a fusão com a Tradelab. A expansão chegou a um novo patamar com a aquisição da San Pancho, que opera no México e na Colômbia, em setembro e, na sequência, a da Reamp. É mais um passo rumo à consolidação no continente. As tratativas conosco, da Reamp, começaram há cerca de um ano. A sinergia de valores foi fundamental para que as negociações evoluíssem. A qualidade dos serviços que prestamos, o fato de termos na carteira clientes renomados como Sanofi, Natura, Movida, Bradesco, 99 e Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP), além da nossa proximidade com o Google pesaram bastante. No meio da negociação, eclodiu a pandemia de Covid-19 e seguimos de maneira remota. O acordo final aconteceu por meio de videoconferência, com todos os sócios da Reamp confinados em suas casas. Tudo isso aconteceu nos bastidores até o anúncio ao mercado brasileiro da fusão Jellyfish/Reamp no último dia 5 de outubro. A escolha em seguir com a Jellyfish foi decisiva em virtude do seu modelo de negócios global, da sinergia com os valores da empresa e do histórico dos sócios ali presentes: empreendedores de longa data no mercado digital, como nós. Nos sentimos em casa.

Você mencionou que a publicidade brasileira ainda tem uma forma obsoleta de fazer negócios. O que quis dizer com isso?

David Reck – Falei o que penso: que a publicidade brasileira é consagrada pela sua entrega criativa, mas também pela forma obsoleta de fazer negócios. A forma como consideramos a publicidade no modelo tradicional de agências que opera tendo a mídia paga como uma linha de receita e não de custo, opõe criatividade e tecnologia e prega um modelo de remuneração não transparente, com uma entrega muito fragmentada que não valoriza o dado e o aprendizado – isso dificulta muito que os anunciantes tenham uma visão clara de como – e em quê – estão investindo. Mais do que isso, torna difícil o controle sobre os dados próprios da marca, e a geração de insights que ajudam os clientes. E, de certa forma, a Mídia Programática, quando mal utilizada, complica ainda mais todo este cenário, deixando o anunciante perdido e com a sensação que nada funciona e não gera resultados.

Somos premiados nos festivais de publicidade mais relevantes do mundo, mas, ao mesmo tempo, uma parte considerável do nosso mercado ainda opera em formatos arcaicos de remuneração. Uma parte dos players ainda está no século 20. Evidentemente, não me refiro a todos, mas a uma parcela. Sinto falta de mais modelos alternativos de remuneração. A Reamp, por exemplo, possui desde 2018 um formato composto somente de fee mensal por serviços e licenciamento de ferramentas de tecnologia, próprias e de terceiros, na verdade das grandes big techs. Conseguimos criar um modelo de remuneração incomum no Brasil, que nos permite atuar tanto como anunciantes quanto como agências, com liberdade para estruturar campanhas sem necessariamente ficar preso à veiculação. O direito ao BVs das campanhas que operamos é diretamente creditado em favor das agências ou dos anunciantes que nos contratam. Sinto falta de mais iniciativas assim. De maior transparência na administração dos investimentos dos clientes, do mercado também desejando correr certos riscos em conjunto com remuneração composta por success fee. Sinto falta de mais concorrentes. As marcas de hoje precisam de parceiros digitais capazes de oferecer mais que o modelo tradicional de agência. Não faz mais sentido a agência querer se envolver com a receita direta de mídia e dados; isso pertence ao anunciante e a agência tem que estar ali livre, bem remunerada, para realizar as escolhas que são mais eficientes para o anunciante e seus desafios. Entenda que isso é um problema do mercado e não das agências, pois, de alguma forma, elas têm que ser remuneradas.

Há algo que não comentamos que você gostaria de ressaltar?

David Reck – Reamp e Jellyfish se unem para somar expertises, expandir atuações e consolidar no Brasil o conceito de digital partner. O nosso propósito é oferecer suporte qualificado às marcas dos mais variados setores, em todos os estágios de transformação digital. O nosso intuito é desenvolver os mercados brasileiro e latino a partir de um modelo comercial transparente, com a implementação de formatos in-house, aceleração da transformação digital das empresas através do marketing e também a partir do desenvolvimento de soluções integradas; tanto para as marcas brasileiras, quanto para as que desejam entrar no país. A nossa operação passou a ser a quarta maior da Jellyfish no mundo, atrás apenas da Inglaterra, dos Estados Unidos e da França. Essa transição irá possibilitar a clientes atuais e futuros, no Brasil e no mundo, o benefício de uma estratégia de negócios digital, multicanal, e principalmente, global. Estamos muito felizes.

Rob Pierre – Esta aquisição é parte de uma expansão mais ampla pela América Latina, que também inclui a aquisição da empresa de mídia digital San Pancho, que tem sede na Cidade do México e presença na Colômbia. Queremos garantir que temos todas as competências e aptidões necessárias em todos os mercados estratégicos globais e isso inclui a América Latina. O suporte regional às marcas que desejam oferecer seus serviços no nosso mundo global e digital-first é uma verdadeira prioridade. Com essas aquisições, esperamos também ampliar o potencial tanto da Reamp quanto da San Pancho, uma vez que elas continuam a ser parceiras de seus clientes. Segundo o eMarketer, o Brasil e o México são os maiores mercados publicitários da América Latina e, na Jellyfish, não poderíamos estar mais animados para fazer parte do cenário digital da região e continuar a trabalhar em parceria com as marcas em suas estratégias de transformação digital.