Jornais discutem alternativas

A tecnologia faz parte do negócio da indústria da notícia e os jornais precisam se adaptar à nova realidade, segundo o consultor da Tapit Partners, Alan Mutter, que apresentou “O que o Vale do Silício pode ensinar à indústria de notícias”, no Seminário Internacional INMA (International News Media Association) 2014, que aconteceu na semana passada, em São Paulo. “Grande parte do conteúdo é comoditizado. O conteúdo em si é mercadoria. É preciso agregar valor para entregar esse conteúdo casado com tecnologia”, opinou.

Mutter disse que as empresas de notícias precisam aprender a usar os dados de seus clientes. “O cálice sagrado da publicidade digital é a individualização dos dados dos clientes”, explicou.

O evento da INMA reuniu grandes nomes de veículos do mundo todo para debater as mudanças que vêm modificando o mercado nos últimos anos. Quem deu as boas vindas aos convidados foi o presidente da divisão Brasil da associação e diretor de publicidade da Folha, Marcelo Benez. “O seminário internacional superou todas as expectativas para este ano, no sentido de compartilhar ideias e casos de sucesso, antecipar tendências e as melhores práticas no Brasil e no mundo, de modo a inspirar a indústria de notícias em um momento de transformação e planejamento para 2015”, declarou Benez, após o seminário.

Ele ainda lembrou que houve uma programação intensa, com a presença de 18 palestrantes de marcas como The Telegraph, The New York Times, Google, Expressen GT, Berkeley University, Facebook, Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Correio da Bahia, Correio Braziliense e Zero Hora, além da ANJ (Associação Nacional de Jornais) e da própria International News Media Association, em apenas um dia e meio de evento. “O CEO global e diretor-executivo da INMA, Earl Wilkinson, apresentou um panorama mundial do que de melhor está acontecendo nas principais companhias de notícias em todos os continentes”, completou.

Mutter foi o primeiro palestrante e começou a apresentação mostrando alguns dados que comprovam o interesse do brasileiro pelo digital e pelas redes sociais. Enquanto os brasileiros passam 53% do seu tempo de consumo de mídia nos veículos online, a média mundial é de 37%. No resto do mundo, a TV é a mídia que mais toma o tempo do usuário, 41%. No Brasil, esse meio está um pouco abaixo da média, com 38%, ocupando o segundo lugar de consumo de mídia.

Outro dado apresentado foi o tempo que o brasileiro passa nas mídias sociais. Segundo o palestrante, enquanto a média mundial é de 328 minutos por mês, a média brasileira é de 575 minutos por mês. Além disso, o Brasil é muito ativo nas redes sociais. 93% interagem postando fotos, comentando ou votando. Em contrapartida, a média mundial é de 60%.

Mutter apontou que novas plataformas vão continuar surgindo, já que a tecnologia não para de evoluir. “Cada plataforma requer uma abordagem diferente para o conteúdo e a publicidade”, opinou o palestrante.

O consultor mostrou que apenas 13% das startups continuam existindo, o que significa que apenas pensar diferente não é suficiente. Segundo Mutter, as empresas dão errado porque a maioria dos inovadores superestima a oportunidade e o valor e subestimam o tempo para viabilizar a startup economicamente.

Para o palestrante, as empresas que continuam existindo têm foco no mercado, equilibram tecnologia e negócio e mudam o que não está dando certo. Ele citou cases como o da IBM, que começou fazendo cartão de ponto e hoje é uma consultoria, e a Kodak, que, apesar de ter criado a fotografia digital, não quis apostar na mudança e quebrou.

Revolução

O segundo a se apresentar no seminário foi o diretor editorial do britânico The Telegragh, Toby Moore. Ele mostrou as inovações da empresa para se adaptar à nova realidade do mercado. O jornal foi criado em 1855, mas não parou no tempo. “Nós revolucionamos o modelo editorial com a visão imparcial sobre de onde o conteúdo é publicado”, explicou.

O veículo está preocupado em sempre ouvir os consumidores e por isso cria canais de acordo com a demanda. “No ano passado, abrimos um canal masculino, um feminino e um de luxo. Também criamos um aplicativo de viagens que já teve 120 mil downloads”, falou. Outra aposta do Telegraph foi um canal de futebol voltado aos jovens durante a Copa do Mundo, o Project Babb. Foram 1,2 milhão de pageviews só na primeira semana. Além da mudança editorial, também foram feitas inovações na área comercial, de acordo com o executivo. O Telegraph tem gerentes multimídia, que podem oferecer aos anunciantes todas as mídias disponíveis na empresa. “Cada um está em contato com uma agência, mas se o cliente quiser um especialista em alguma das mídias também temos. E também há os que falam direto com os diretores dos anunciantes. Queremos ter certeza de que agência e cliente estão envolvidos”, falou.

Entre as mudanças na área está a criação de novos formatos. Moore apresentou uma peça criada para divulgar o filme “Noé” no site. Na peça, a imagem do site é invadida pela água do dilúvio. Outro sucesso entre os anunciantes é o anúncio persiana, em que o banner é montado como se fossem os antigos outdoors, a partir de tiras verticais. “Tudo o que fazemos tem o consumidor no centro. Nós ouvimos, lançamos, não nos permitimos falhar, lideramos e celebramos o sucesso”, apresentou Moore. O executivo ainda falou sobre os assuntos do momento: publicidade nativa e mídia programática. “A publicidade nativa é a antiga matéria paga. Para ter um bom trabalho, tem de se assegurar de estar sobre controle”, disse. Sobre mídia programática, ele defendeu que a segmentação do público é, sim, um caminho a ser seguido.