Jornal O Globo investe em leitura horizontalizada
Tiago Afonso
Como se manter jovem, ao completar 93 anos? No próximo fim de semana, o jornal O Globo estreia novo formato no impresso e no digital, buscando leveza na apresentação, sem perder a profundidade do conteúdo que continua sendo um valor inegociável. Neste bate-papo, Tiago Afonso, diretor de desenvolvimento comercial e digital da Editora Globo e Infoglobo, explica um pouco das mudanças e como pensa o futuro do jornal.
Por que fazer o redesenho agora? Foi uma demanda dos leitores ou do mercado anunciante?
Foi uma decisão para acompanhar os hábitos de consumo do leitor. O projeto gráfico atual é de 2012, ou seja, tem seis anos – o que é uma eternidade no mercado de comunicação. Muita coisa mudou neste período. Além disso, esta é a primeira vez que impresso e digital são modificados simultaneamente, o que é importante para dar uma unidade ao produto.
Quais as principais mudanças no impresso e na web para os leitores?
Entre as mudanças destaca-se maior uso de recursos visuais no storytelling, valorização da opinião e análises, que vêm para o início do primeiro caderno do jornal e a renovação de elementos gráficos que favorecem a dinâmica de leitura, alinhada com os novos hábitos de consumo – especialmente no digital -, sem perder profundidade de conteúdo. Adotamos uma estrutura de módulos para horizontalizar a leitura. Jornal e site passam a adotar a mesma tipografia. A plataforma digital ganha as mesmas características de identidade do papel, porém o redesenho não deixa de lado as particularidades de cada plataforma.
E quais as principais mudanças no impresso e na web para os anunciantes? Há novos formatos publicitários?
Teremos novos formatos no digital. Na nova diagramação do impresso, os anúncios ganham mais contexto com matérias que os “abraçam”. Os redesenho reforça nossa conexão com a audiência. O quanto entendemos e nos preocupamos em estar alinhados com a forma com que o nosso público consome conteúdo. E é neste campo que atuamos também com os anunciantes: temos o ambiente e a habilidade de transmitir histórias completas e profundas – que é o campo das empresas de conteúdo – e isso tem valor para marcas que buscam se conectar de verdade com os consumidores.
Há alguma mudança no conteúdo das matérias?
Quando falamos de um texto mais leve, não queremos dizer texto raso e com simplicidade de conteúdo. Com o redesenho, na verdade, ganhamos espaço para mais matérias. O jornal impresso faz parte da rotina diária dos leitores, e mais do que apenas informar, cumpre o importante papel de aprofundar a informação, além de permanecer com o atributo de credibilidade incontestável num universo cada vez mais povoado por “fake news”.
Houve benchmark em alguma publicação internacional? Qual?
Alguns títulos europeus e latinos, como Guardian e El País, já adotam a leitura horizontalizada que estamos implementando. Nos EUA este movimento ainda não está em curso.
Qual a base atual de leitores de O Globo, no impresso e online? Como esses números tem crescido, se complementado?
O Jornal o Globo é o único jornal que cresce em número de leitores (de acordo com a última base do TGI) e, entre os jornais premium (Zero Hora, Folha e Estado), o que mais cresce em circulação total (base jan a abril x ano anterior).
São 4,2 milhões de leitores no impresso entre 20 e 54 anos, em sua maioria, com 68% de penetração nas classes AB, 47% são mulheres e 53% homens. No site, O Globo contabiliza 140 milhões de pageviews com 23,1 milhões de visitantes únicos. Segundo dados da comScore, o Globo é o jornal mais lido do Brasil na internet. 62% dos internautas brasileiros leem jornal pela internet, sendo que 1 em cada 3 leem O Globo. (Fontes: Impresso Kantar Ibope Media Target Group Index BR TG 2018 (2017 1S 217 2s) v1.0 – Pessoas, com projeção Brasil base IVC. Leitores Digital comScore IMMX Multi-Platform, Desktop 6+ Mobile MAIO18. IVC Maio 2018)
Você acredita que a discussão em torno de fake news fortaleceu as grandes marcas do jornalismo? Como vocês vêm se aproveitando (no bom sentido) dessa discussão?
Sim. O leitor busca num jornal, mais do que nunca, credibilidade, profundidade e curadoria de conteúdo em meio ao mar de informações desencontradas que circulam nas redes sociais. O período eleitoral que se aproxima é uma época propícia para as fake news ganharem ainda mais força, de forma que entendemos que torna-se crucial reforçar a entrega da informação de qualidade, que é o papel primordial do jornal. Este contexto das fake news permeia nossas decisões de forma constante.
Como a crise vem afetando vocês e onde há luz no fim do túnel na sua área considerando novos modelos de negócios?
Nosso objetivo é manter o leitor conectado com O Globo. E dentro deste objetivo, temos tido grande êxito. As pessoas lêem o produto jornal diário também na sua versão digital, baixando a partir do Globo+ ou do aplicativo do GLOBO. Somando, a circulação do diário cresceu. Pensando apenas no último IVC, temos um crescimento de mais de 20% sobre o mesmo mês do ano anterior.
A nova cara do jornal