Jovem carioca da classe C quer estudo

Uma pesquisa encomendada pela Rádio Beat98, do Sistema Globo de Rádio, para o Instituto Data Popular, traçou o perfil do jovem carioca da geração C – a nova classe média –, principal ouvinte da rádio. Foram ouvidos, no primeiro semestre do ano passado, 2 mil jovens cariocas entre 15 e 25 anos, em mais de 80 horas de convivência direta, segundo relata Renato Meirelles, diretor do Data Popular, a quem os resultados surpreenderam.

Hoje, a chamada classe C no Brasil representa cerca de 53,9% da população brasileira, e deve representar 58,3% até 2014, chegando a 197 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No Rio de Janeiro, ela é maior do que em qualquer outra região do país e concentra a maior parte da população carioca: 55,2% (dado de 2011). A classe C é maioria entre jovens, tanto no Brasil como no Rio de Janeiro – sendo que no Rio representa 58% dos jovens, enquanto a média nacional é de 53%. Dos 5,5 milhões de jovens cariocas, 3,5 milhões pertencem a esta nova classe média, que ganha cada vez mais relevância em seus núcleos familiares.

Cinco principais características se destacaram no estudo, segundo o qual o jovem carioca da classe C é protagonista, plural, sintonizado, intenso e essencialmente carioca. São 3,5 milhões de jovens.

Este jovem é chamado protagonista porque movimenta, com o próprio salário, R$ 5 bilhões por ano. Tem cartões de débito (70%), crédito (69%) e de lojas (54%), ajuda financeiramente em casa fazendo compras do mês (23%), pagando contas (22%) e comprando itens de alta tecnologia (64%). Eles guardam dinheiro (44%) e se enxergam como agentes que contribuem diretamente para a melhora da família. A educação está entre os maiores sonhos. Por isso, de cada 10 universitários no Rio, cinco pertencem a esta nova classe média, outro dado surpreendente da pesquisa.

O que chamou a atenção de Meirelles é que os empregos almejados e conquistados por esse jovem são bem diferentes daqueles que seus pais tiveram. Os pais desses jovens são, em sua maioria, trabalhadores domésticos (11%), da construção civil (5%), trabalhadores de comércio (4%), motoristas, porteiros e vigias (2%). Aparece, no topo da lista, (15%) o emprego no comércio; a seguir, posições como de escriturário, agente e auxiliar administrativo (6%), caixa e bilheteiro (4%), recepcionista (3%) e trabalhador em serviços de embelezamento e higiene (2%).

“Esse dado significa basicamente que ainda que os jovens ganhem menos que seus pais no início, escolhem profissões em que possam crescer e ter um plano de carreira, algo que o trabalho de porteiro e empregada doméstica, por exemplo, não oferece”, analisa Meirelles.

O jovem da nova classe média é plural porque adota diversos papéis e transita em mundos diferentes, um dos dados que mais surpreendeu Meirelles, do Data Popular. Segundo ele, é impressionante como o mesmo jovem que gosta de funk e da noite, acorda cedo no dia seguinte para estudar e trabalhar.

“Um dos dados mais interessantes da pesquisa foi justamente esse. Quem não conhece direito esses jovens costuma rotulá-los excessivamente, e não compreende que eles são versáteis e não pertencem a tribos específicas. Eles gostam da diversão, mas são, também, responsáveis, o que vemos menos nas classes sociais mais altas”, analisa Meirelles.

Eles também são sintonizados porque estão conectados à internet (79%), acessam as redes sociais (61%), leem jornais (55%) e têm na web sua principal fonte de informações (50%).  Para a chamada geração C não há diferença entre o real e o virtual: os dois universos se misturam e se complementam.

Esta geração também é intensa porque quer tudo, muito. É imediatista, autoconfiante e um pouco inconsequente. Gostam da noite, do espírito agregador do carioca que curte de samba e pagode a hip hop e funk. São essencialmente cariocas – um estado de espírito de valorização de sua origem. Hoje 170 mil desses jovens vivem em comunidades. São seis entre cada 10, sendo que destes, 34% têm até 25 anos. Segundo a pesquisa, essa geração tem forte relação com o lar (45% consideram-se caseiros). A pesquisa apontou que 76% desses jovens não se preocupam com o que os outros pensam.

Entre os sonhos de consumo estão viagens a lazer (58%), comprar um carro (28%) e comprar um imóvel (27%).