Kamilla Fialho: 'As marcas têm mais visibilidades através da música'
Ao PROPMARK, Kamilla Fialho conta sobre o seu início como empresária, o relacionamento da música com as marcas e a importância do storytelling nessa relação
Kamilla Fialho é uma das responsáveis pelas carreiras de grandes artistas nacionais, incluindo a Anitta, que ultrapassou as fronteiras brasileiras, representa o país em premiações internacionais e atingindo recordes nos charts mundo a fora.
Empresária e dona da K2L, Kamilla sempre esteve próxima da música, mas foi durante a sua gravidez que entendeu que o relacionamento entre ela e as ondas sonoras estava na área de negócios e em frente as câmeras. "Hoje, enxergo que meu talento sempre foi esse e não ser apresentadora de televisão", afirmou a empresária.
Para Kamilla, a música e a publicidade caminham lado a lado, desde que as marcas entendam que devem participar da trajetória do artista e não apenas surfar a onda atual de um momento de hit. "Eu monto um projeto e levo pras marcas, não fico simplesmente tentando vender publicidades para os artistas. Eu tento de todas as formas que a marca entre com o artista desde o primeiro momento e que vá construindo um relacionamento de acordo com o tempo", ressaltou.
Hoje, a Kamilla tem em seus cuidados as carreiras de Kevin O Chris e Vitão, que apesar de ter seis anos de carreira, passou a se relacionar com as marcas nos últimos anos.
"O Vitão é um cara de choquitismo. Ele quer causar estranheza para gerar discussão para que elas tragam, obviamente, frutos positivos. Ele aderiu à maquiagem e os esmaltes em seu visual, o que rendeu hate no primeiro momento rendeu hate, mas procuramos marcas que têm esse discurso como verdade, como a 'Quem Disse, Berenice?'", explicou a empresária
Ao PROPMARK, Kamilla Fialho conta sobre o seu início como empresária, o relacionamento da música com as marcas e a importância do storytelling nessa relação.
Como começou a sua relação com a música e como surgiu a ideia de ter uma produtora?
Tudo começou através da Furacão 2000. Quando eu comecei a apresentar o programa da Furacão, eu nunca tinha imaginado que eu ia trabalhar com o universo da música. Depois de um ano trabalhando lá, tinha acabado meu contrato e eu assinei contrato com outro lugar, mas eu já estava grávida e não sabia, aí fui "colocada na geladeira". Através dessa situação eu me atentei para ser empresária e montar a minha produtora. Eu era casada com o Dennis DJ, que já era um artista conhecido e eu comecei a vender os shows dele. Hoje, enxergo que meu talento sempre foi esse e não ser apresentadora de televisão.
Como começou a sua relação com as marcas com a música?
Estudando sobre o universo da música e estudando sobre artistas. Eu sempre me baseei na gestão de artistas internacionais e através disso, entendi que lá fora os artistas pop, em geral, estavam sempre associados a marcas e que isso deveria acontecer também no Brasil sabe? Procurar marcas que chancelassem artistas, não só através da música mas da imagem deles também. Eu comecei a fazer isso com o Naldo, que foi meu primeiro artista a ter uma relação com marcas. Na época, mostrei para as empresas que os artistas da música eram mais interessantes para se ter uma relação do que com atores e atrizes de novelas — que era o que acontecia naquela época. Entendi que através da música, essas marcas teriam mais visibilidades. No primeiro momento, com o Naldo, eu tive que convencer as agências e marcas que isso traria retorno. Na época da Anitta, isso já era mais fácil.
Quantos Artistas a K2L assessora hoje e qual a relação da empresa com as marcas?
Eu não tenho como falar precisamente quantos artistas são hoje, afinal, trabalhamos com música e com mercado de influência, mas acredito que temos uns 10 artistas. Dentro da K2L entendemos que precisamos criar um Storytelling entre as marcas e o artista ou influenciador. Por exemplo, quando trabalhamos com a Boca Rosa, nós criamos um projeto-base para o YouTube, com uma estrutura de um programa de TV só que na internet, para que as marcas viessem apoiando esse programa desde o momento zero. Então, basicamente, eu monto um projeto e levo pras marcas, não fico simplesmente tentando vender publicidades para os artistas. Eu tento de todas as formas que a marca entre com o artista desde o primeiro momento e que vá construindo um relacionamento de acordo com o tempo. Dificilmente as marcas vêm trabalhar conosco e fazem só uma publicidade, eles naturalmente querem se envolver mais na carreira do artista. Isso, ao longo dos anos, faz com que as marcas também tenham o mérito da construção e do crescimento daquele artista e influenciador. Hoje tenho muitos artistas que a nossa relação com as marcas veem desde o primeiro momento da carreira deles.
Como é feito o contato com as marcas e como são essas conversas?
A abordagem é feita a partir de projetos. Por exemplo, agora o Vitão está vindo com um álbum extremamente inovador, então, quando a gente montou esse projeto, abordamos marcas que já têm um feat com ele e com o planejamento. A abordagem não é feito com base em engajamento ou número de seguidores, é muito mais que isso. Eu busco as marcas e falo 'olha, esse projeto com um artista que tem tudo a ver com a sua marca e com o que você quer passar para o seu público. Que tal se tivéssemos juntos nessa jornada?' e, a partir disso, a marca se sente envolvida e responsável pela carreira e pelo sucesso do artista.
Hoje as marcas te procuram para o que? Qual a demanda e o resultado que elas buscam?
Infelizmente, hoje as marcas me procuram por conta do engajamento. Meu sonho seriam que elas quisessem se aprofundar e entender o planejamento do artista e a consistência que aquilo traz. Mas, geralmente, a gente consegue reverter, porque as agências e marcas estão muito mais preocupadas em escolher influenciadores e artistas que, ao longo do tempo, ainda estarão falando a mesma língua que elas, então eu já me antecipei em relação a isso e entendi que, a médio e longo prazo, as marcas iam se preocupar com a construção daquele artista e não com o que ele está dizendo em um momento pontual. Quando construímos a carreira de um artista e pensamos na persona dele, a gente já pensa baseado nas marcas que a gente quer abordar. Quando é receptivo, ou seja, as marcas abordam a gente, nós tentamos reverter para que seja algo a médio ou longo prazo, mas quando procuramos as marcas, já temos em mente todo esse planejamento.
Para você, qual a importância das marcas se associarem com o cenário musical e o audiovisual?
É muito importante. Quando uma marca está em um clipe, aquele vídeo não sai do ar e estará ali para sempre, ou seja, é um contrato vitalício. Por isso é tão importante o artista ter certeza na hora de escolher a marca que apoiará ele no audiovisual e vice-versa, porque aquilo não será apagado. Recentemente, tivemos o escândalo da Balenciaga e seria muito crítico se tivéssemos a marca em algum clipe ou projeto porque, obviamente, eu não estou concordando com o que eles fizeram, ai o que eu ia fazer? Tirar do ar? Por isso é muito importante entender a médio e longo prazo quais as intenções da marca e onde eles querem chegar, para ver se eles realmente têm um match com o artista e se é um projeto a médio ou longo prazo, ou algo pontual.
Até que ponto os artistas participam dessas decisões?
Eles participam de tudo, do primeiro contato ao último. É a mesma coisa que defender uma música, você não pode defender algo que você não concorda e que você não gostaria de cantar. Na marca é a mesma coisa. Desde que o álbum é entregue para nós e começamos a pensar no plano de comunicação dele, o artista também participa das escolhas das marcas que serão abordadas, dando opiniões e até mesmo propondo as marcas.
Como é decidido onde as marcas serão expostas?
Isso é entre a marca, a agência, o marketing da marca, o artista e o escritório. Mas uma coisa muito importante: às vezes as marcas abordam a gente achando que vai ser uma coisa muito interessante se apropriar de uma música que já está estourada. Eu sempre dou como exemplo a história da Anitta com a Tele Sena, que em primeiro momento eles nos procuraram para fazer uma campanha em cima de "Show das Poderosas", que era o hit do momento, mas nós convencemos eles que seria muito mais interessante se eles estivessem junto com a Anitta na próxima música de trabalho, que estaria fresca e começando do zero. Com isso, nós conseguimos um apoio para o próximo single, que geralmente é muito difícil de ser emplacada depois de um fenômeno igual foi "Show das Poderosas", e eles participaram de um sucesso de um hit da Anitta desde o primeiro momento. É importante falar sobre isso para que as marcas se atentem para o que está por vir e não apenas para o que já deu certo. O que já fez sucesso, você não tem participação sobre aquilo.
Você tem algum dado de conversão de pessoas que seguiram a marca ao verem um clipe, por exemplo?
Sem sombras de dúvidas, afinal, não fazemos isso através do clipe, criamos um Storytelling da marca com o artista nas redes sociais, nos clipes, nos uniformes de shows, através do telão que fica atrás no palco durante os shows. Então o que conseguimos mensurar, que são os números de redes sociais ou do próprio clipe, que às vezes as pessoas comentam, é ótimo e mensurável, porém, a música traz outros retornos além do número de cliques. O artista traz uma credibilidade e respeito para marca que é muito maior que apenas cliques em links ou qualquer outra coisa.
Qual a relação das pessoas com as músicas e com as marcas?
Acredito ser uma construção, essa é a realidade. Hoje em dia as pessoas não compram qualquer coisa que é colocado. Se você não desenha uma história, não coloca a marca no planejamento do artista e não faz com que as pessoas entendam isso a médio ou longo prazo, eu não vejo mais as pessoas consumindo da forma que elas consumiam antigamente. Antes, passava um comercial na novela das oito e isso já era convertido em números, hoje é um excesso de informação tão grande, que se você não tem uma ideia muito criativa, não desenha esse storytelling com o artista e insiste naquilo, o público não aceita, não acredita e não consome. Então, o princípio básico para você que é um artista na música ou influenciador que quer ter uma carreira a médio e longo prazo no mercado de influência, é criar uma relação com as marcas, ter uma verdade para que o público entenda que aquilo é real.
Qual o maior case da K2L?
A Anitta é a pessoa que furou a bolha e permaneceu fora dela, o Naldo foi o que foi responsável para que as agências abrissem as portas para mim e o Kevin o Cris foi o maior desafio e hoje é um dos que mais dá retorno para nós pelas publicidades, e o que é mais legal, através da música e não pelo o que ele faz, usa ou consome.
Um dos artistas da K2L é o Vitão. Esse ano ele teve vários lançamentos e publicidades no Instagram. Como começou a relação K2L e Vitão?
Quando o Vitão entrou na K2L, ele já tinha 4 anos de carreira e não tinha a menor proximidade com marcas. Muito pelo contrário, inclusive. Quando ele nos procurou, ele disse que já tinham passado para ele que ele não vendia para as marcas e que as marcas não se interessariam por ele. É ai que vem a história do storytelling, ai que vem o projeto, você conseguir comunicar o que o artista verdadeiramente é. O Vitão é um cara de choquitismo, ele quer causar estranheza para gerar discussão, e que elas tragam, obviamente, frutos positivos como sociedade. No primeiro momento, as pessoas dizem que isso distanciamento para as marcas, mas pelo contrário. Ele aderiu à maquiagem e os esmaltes em seu visual, o que rendeu hate no primeiro momento rendeu hate, mas procuramos marcas que têm esse discurso como verdade. Achamos a 'Quem Disse, Berenice?' e fechamos não só uma publicidade no Instagram, mas um plano a médio e longo prazo e eles pediram para estar no álbum.
Como a K2L mediou essa relação entre ele e as marcas?
Comecei a trabalhar com ele esse ano e entendi que o retorno dele vem porque as pessoas acreditam no que ele tá usando, acreditam que ele gosta de fazer aquilo e acreditam que aquilo é possível, não necessariamente porque tem grana envolvida e que ele dará engajamento para a marca. Hoje ele é embaixador da Havaianas, que tem tudo a ver com o LifeStyle dele e tem a ver com o que ele prega. Então acredito que o Vitão foi uma construção junto com as marcas do que ele realmente é. Acho que o que faltava é o que a K2L fez, conseguir fazer esse meio de campo entre ele e as marcas, vendendo a verdade dele, quem ele realmente é e não tentando transforma-lo em outra coisa para que ele se encaixasse nas marcas. Têm marcas que gostam e admiram o posicionamento dele, então são nelas que eu vou. Não adianta eu procurar por marcas conservadoras que não vão entender o fato de um homem usar maquiagem e esmalte. A K2L tem essa sensibilidade de não fazer uma publicidade só pela grana , mas para ajudar na construção de imagem daquele artista.
Qual foi o balanço da K2L sobre 2022 em relação ao ano passado?
A gente não tem muito como comparar, porque o ano passado ainda estávamos em pandemia. Era natural que a receita de publicidade era bem maior que a de shows. Mas esse ano, onde as duas receitas se balancearam, eu posso dizer que a construção que fizemos desde 2020 estreitou ainda mais nossa relação com as marcas e agências. Acredito que 2023 as agências já tenham entendido o posicionamento da K2L, já tenham entendido que pensamos numa construção de imagem e não exatamente em cliques e engajamentos. Já sabemos que muitas marcas vão apoiar nossos artistas no próximo ano. Então, nós plantamos de 2020 até 2022, começamos a colheita agora em 2022, e 2023 prevejo uma estabilidade dos nossos artistas e influenciadores junto as marcas.
Quais são os planos da K2L para 2023?
Dentro da K2L temos um limite para atender. Então hoje, para atender novos artistas, alguém precisa sair. Mas no setor de People, o de influenciadores, temos alguns espaços. Então hoje busco outros influenciadores que também tenham como planejamento uma carreira a médio e longo prazo. Aqueles influenciadores que querem montar uma carreira, projetos e que, além de serem influenciadores, sejam empreendedores, empresários ou até mesmos que sejam comunicadores, as portas estão abertas e é o que esperamos. Na música, já estamos muito fechados com os nossos artistas.