Leões de cabeça branca
Em uma das palestras mais legais em Cannes, o Nick Law repetiu algumas vezes que a criação está infantilizada. E que agências onde o presidente é um criativo, o trabalho é melhor. Ele está certo. Na maioria dos casos, é melhor mesmo. Pausa.
Um amigo meu, que é um dos ECD’s da BETC Paris, outro dia postou sobre inclusão. Como a coisa está evoluindo e como ainda precisa evoluir. Falou, em especial, sobre um grupo que geralmente é esquecido: profissionais mais velhos. Disse que na agência dele, uma das duplas mais badaladas, mais bem pagas e indispensáveis é uma dupla de mulheres que ele educadamente não revelou a idade, mas deu a entender que já devem ter netos (inclusão dobrada, aliás: mulheres e mais velhas).
Aqui na Europa é normal ter criativos com mais de 50 anos ainda atuando como redatores e diretores de arte. E ainda mais comum em cargos de liderança. Dá pra melhorar bem, mas é algo pouco visto no Brasil. Nas outras áreas das agências então, a gente vê um monte de profissionais com mais de 30 anos de carreira, na ativa e com muita lenha pra queimar.
Voltando ao Nick Law, óbvio que infantilidade não é só uma questão de idade, é uma questão de comportamento. Todo dia novos líderes bem jovens aparecem. Só acho que a composição de uma agência precisa incluir profissionais que vão contribuir com conteúdo, segurança, experiência, pensamento estratégico e um ponto de vista criativo mais profundo.
Misturando com novos talentos, você cria uma equipe sólida, que dá o estofo que os líderes criativos precisam para subir cada vez mais. Inclusive para subir no palco. Esse ano, lá nas premiações, foi muito legal ver um monte de cabeças brancas levantando leões de ouro.
Manir Fadel é diretor de criação da Red Fuse