Líderes de live marketing pressionam CEO global da BRF

Desde abril, a BRF, dona das marcas Sadia, Perdigão e Qualy, realiza um leilão reverso para homologar uma agência de live marketing para futuras ações com a empresa.

O processo, que conta com a participação de 10 agências, estabeleceu 90 dias para pagamento dos fornecedores, prazo que é considerado abusivo pela Ampro.

Em um post no LinkedIn, há de cerca de um mês, o CEO global da BRF anunciou a doação de R$ 50 milhões em alimentos, insumos médicos e apoio a fundos de pesquisa e desenvolvimento social no Brasil e nos países onde a empresa opera, visando o combate à Covid-19.

Post original foi removido das redes sociais (Reprodução/LinkedIn)

O anúncio gerou uma onda de cobranças de líderes do setor de live marketing. Os empresários afirmaram que, apesar da atitude importante da empresa no momento, faltava empatia com as agências prestadoras de serviços.

“Caro Lorival Luz, louvável a atitude da BRF por um mundo mais responsável e solidário. De fato, é a hora de se pensar em todos os stakeholders e não somente nos shareholders. Como representante de uma categoria bastante presente nas ações de marketing da BRF – o Live Marketing – gostaria mesmo é de ver tal atitude refletida nas relações da empresa com seus fornecedores do setor”, escreveu Alexis Pagliarini, presidente executivo da Ampro.  

O leilão reverso de ontem, continua o executivo, foi “um mal exemplo de relações sustentáveis e solidárias. O estabelecimento de 90D para pagar e uma taxa de 2% de remuneração contrariam todas as boas práticas difundidas no mercado. A Ampro está aberta ao diálogo e posso dizer que seus pares de outras empresas do mesmo porte estão se mostrando sensíveis. Fico à disposição para uma interlocução com seu pessoal de marketing e suprimentos. Vamos, juntos, contribuir por mundo mais sustentável e solidário?”

A repercussão do post, que já foi removido das redes sociais, levou outros donos de agências do setor a cobrar a mesma postura de boas práticas da empresa. Celio Ashcar Jr., presidente da Aktuellmix também parabenizou a  BRF pela doação, mas pediu mais “respeito, dignidade, e humanidade” com fornecedores. “Fazer leilão reverso para a escolha de uma agência de eventos é pensar em números, não em pessoas”, disse.

Adriana Mazzi, COO da Bullet, também foi uma das executivas que comentou a publicação de Luz e disse que atitudes relevantes neste momento são “louváveis”, mas que “leilão reverso para contratação de agência de eventos com um percentual de 2% de honorários” é uma atitude não-louvável.

Ampro

Em entrevista ao PROPMARK, Alexis Pagliarini, presidente-executivo da Ampro, afirmou que essa bandeira de sustentabilidade entre os diferentes stakeholders não é de hoje. “Há muitos anos que a Ampro vem lutando por relações sustentáveis entre cliente, agência e fornecedor. Quando chega uma crise como essa, tudo fica mais dramático e a Ampro colocou seus princípios de valor para uma relação sustentável e equilibrada, elaborou em parceria o guia da ABA de melhores práticas. Só que agora que todo mundo está descapitalizado e fragilizado com a crise, a gente tem lidado com essas práticas, que são consideradas más-práticas do cliente, principalmente com relação a prazo de pagamento.”   

“Neste caso específico da BRF eles estão pré-estabelecendo 90 dias para pagamento, após a realização da atividade. Não está dentro das melhores práticas porque a agência é obrigada a bancar, no momento da aprovação do evento, todos os custos com o espaço, fornecedores, pessoal, homem-hora, alimentos e bebidas, atrações etc. a agência acaba bancando três meses para receber do cliente depois”, aponta.

Pagliarini diz ainda que sabe que as agências concordam com as condições, mas que cabe também ao cliente pensar em todas as pontas da cadeia. “A alegação dos clientes é que a agência topou, esse pregão de ontem teve 10 agências, que deram lance. Então de fato não é ilegal, mas é antiético. Está totalmente em desacordo, não é uma atitude empática de entender o mercado como está agora. Existem normas do capitalismo consciente que é você pensar em todos os stakeholders e não só no seu shareholder”, diz.

O movimento espontâneo do setor em cobrar uma postura mais justa da empresa já abriu portas entre as partes. Pagliarini afirma que após o leilão conseguiu estabelecer diálogo com a BRF. “Como era um leilão reverso, quem oferece a menor taxa ganha. E ai teve agência que chutou o balde eu acho que também é fruto do desespero. Tive conversas com a BRF e abrimos uma interlocução agora. Senti deles receptividade, estamos agendado reuniões e vamos ver, estou confiante que eles enxerguem todos os stakeholders e tenham mais empatia com seus parceiros nessa hora.”

BRF  

Por meio de nota, a BRF afirma que “seu compromisso com a Integridade, a Segurança e a Qualidade, é o que pauta todos os seus processos. A empresa já vem implementando a modalidade de leilões eletrônicos na área de Suprimentos, por ser uma prática que assegura a transparência e a livre concorrência. Ressalta que o leilão eletrônico é uma das etapas do processo, que também inclui avaliação técnica de cada fornecedor participante. Todo o processo é realizado com regras e condições preestabelecidas e claras, que são comunicadas aos participantes desde o início do leilão.”

O PROPMARK não teve acesso ao resultado dessa fase do leilão reverso, que ainda está em processo.