Completando um ano, Liga quer renovar formato de pesquisas
Da inquietação, nasceu a ideia. Insatisfeitas com a forma engessada como eram realizados os trabalhos de pesquisa em agências e anunciantes, as publicitárias Gabriela Bottura e Alice Neves fundaram a Liga, empresa presente há um ano no mercado. Com trajetórias semelhantes – ambas se formaram em Comunicação Social pela ESPM e fizeram carreira no planejamento da F/Nazca S&S –, as jovens comemoram a abertura de seu primeiro escritório, em São Paulo.
“Trabalhei alguns anos com Fernand Alphen (ex-diretor nacional de planejamento da F/Nazca e atual diretor de estratégia da JWT) e ele sempre me deu total liberdade para inovar e fugir do tradicional. Percebi, então, que era possível mudar a forma de realizar pesquisas e que essa mudança gerava muito mais resultados. A ideia da Liga surgiu daí”, lembra Gabriela. “O desafio de interagir com os criativos e de fazer com que valorizassem o trabalho do planejamento me motivava. Descobri que, se chegasse com um relatório tradicional, eles nem olhavam. Mas, se apresentasse algo diferente, havia diálogo”.
Em 2010, a publicitária deixou a F/Nazca para desenvolver o trabalho de pesquisa como autônoma. Na época, Alice atuava na A Ponte Estratégia, consultoria de André Torretta, com foco na nova classe média. “Na Ponte, viajei o Brasil inteiro para compreender melhor esse segmento. Quando a Gabi me contou o que estava fazendo, achei que seria ótimo poder juntar a minha experiência de campo com a visão estratégica dela. Foi a união perfeita”, conta Alice.
A dupla retomou contatos de agências, produtoras e clientes de trabalhos anteriores e, desde então, a empresa não para de crescer. “Montamos uma rede de profissionais que estão com a gente até hoje”, diz Alice. Entre os colaboradores, estão diretores de cena, fotógrafos, jornalistas, economistas, antropólogos e sociólogos. Para cada job é designada uma equipe diferente, cada uma com um número variável de cinco a 20 membros. “Gostamos de trabalhar com equipes multidisciplinares para que a informação seja absorvida de várias maneiras, sempre amparadas por pessoas que entendem muito do assunto. Procuramos o olhar fresco sem deixar de lado a profundidade e o rigor metodológico”, destaca Gabriela.
Em um ano, a Liga chega à marca de 18 trabalhos no currículo, desenvolvidos para os mais variados segmentos, incluindo telefonia, cerveja, destilados, educação, beleza, higiene pessoal e eletrodomésticos. Entre os clientes estão Africa, Taterka, Moma, Visa, Bradesco, JWT e Wieden+Kennedy. “Fazemos um job por mês, no mínimo. Trabalhamos tanto desde que começamos e foi tudo tão natural que nunca tivemos tempo para prospectar clientes”, afirma Alice.
Diversão é a chave
Segundo Gabriela, a Liga tem como filosofia desenvolver metodologias diferentes de pesquisa para obter “insights criativos e verdadeiros”. “É preciso questionar os padrões. Se você tiver insights diferentes no momento de fazer o planejamento estratégico de uma marca, a chance de encontrar saídas que quebrem paradigmas é muito maior”.
Ao promover um grupo de pesquisa, a empresa abandona as tradicionais salas de reuniões para realizá-las em ambientes informais. Assim, reuniões impessoais em laboratórios podem se tornar um divertido chá de cozinha ou um encontro entre amigos. “Quando uma pessoa vai a uma pesquisa tradicional, em um ambiente artificial, ela se sente como um rato de laboratório. Nós fugimos disso”, ressalta Alice.
Além da abordagem informal, a dupla desenvolveu novos formatos de entrega do resultado. Relatórios finais, comumente apresentados em slides, podem ser transformados em documentários, revistas, blogs, pôsteres, livros, histórias em quadrinhos e fotonovelas. “Nosso objetivo é humanizar o contato com o pesquisador e levar diversão para o produto final. Não entregamos pesquisas, entregamos histórias”, explica Gabriela, que acredita no novo formato de entrega para despertar o interesse e potencializar resultados. “A forma é tão importante quanto o conteúdo. Uma pesquisa é recebida com muito mais facilidade por quem não é da área se for apresentada de maneira leve e divertida, se um filme ou um livro toma o lugar de um arquivo de Powerpoint. Nada contra o Powerpoint, apenas achamos que é preciso estar aberto a outras mídias. Há experiências que não cabem em um slide”.
Para o próximo ano, a dupla pretende conquistar novos clientes e realizar projetos proprietários. “Queremos fazer um conteúdo nosso, com base em pesquisas que consideramos importantes. Elas podem dar origem a filmes, livros, blogs… Ideia é o que não falta”.