Live!

Eu disse live! E isso é tudo! Nunca conseguimos entender e sentir a dimensão e significado dessa palavra como nos dias em que vivemos. Vivo. Vida. Viva. Vivos. Vivendo intensamente e em todos momentos numa recorrência infinita. “Infinita, como o amor”, como nos ensinou Vinicius, “infinita enquanto dure”. Sentimento, sensação, constatação, confirmação, reiteradas e infinitas vezes num correr de um dia, horas, minutos, pela existência e presença e mágica do ambiente digital. Pelo nascimento do quarto ambiente, a digisfera!

Não há nada o que substitua o ao vivo, o presencial, o live, o live marketing, momento sublime e único de encontro num mesmo lugar do emissor da mensagem, da mensagem, do mensageiro e do destinatário e receptor da mensagem. Todos ali, juntos, próximos, lado a lado, envolvidos em grande e total emoção, com todas as guardas baixas, resistências zero, querendo saber, ouvir, comentar, testar, divertir-se, ser feliz. Live marketing é o marketing em estado de arte. É o branded content onde o content é o brand!

E dedico este comentário de hoje à querida amiga e competente consultora Patricia Segatto Palley, companheira de jornada, que comanda profissionalmente e com total sucesso a Ampro. Hoje, gradativamente, migrando para se redenominar Alma (Associação de Live Marketing & Advertising) – apenas uma sugestão minha, Patricia. E toda essa introdução para refletir sobre um paradoxo. Nunca se valorizou e se teve tanto apreço pelo live, pelo ao vivo, presencialmente, como hoje. E, nunca os teatros da cidade e do país estiveram tão vazios como se encontram agora.

É o tal do buraco no meio. A tecnologia nos oferece tantas alternativas de utilização de nosso tempo, que acaba não sobrando tempo para atividades que demandem esforço e deslocamento físico, devidamente agravadas pelo trânsito e falta de segurança, concorrendo com o código Smart, porta e entrada para infinitas alternativas de entretenimento, conhecimento, informação globais, dentro do bolso ou da bolsa, na palma das mãos, prontos para serem acionados… Por essa razão, com toda a autoridade que lhe conferem seus 88 anos de idade e 72 de palco, Fernanda Montenegro declarou recentemente, na Folha: “O teatro é a essência de um país. Quando os palcos vão mal, o país vai mal. Aqui você vai aos palcos e vê o quê? Uma sobrevivência de devotos…”. É isso mesmo, Fernanda, é a crise da transição.

E de uma plateia, público, que por um bom tempo não se sentará mais na plateia porque neste momento decidiu ocupar o palco. Deixou de permanecer olhando e admirando e aplaudindo para ser protagonista. Mas, um pouco mais adiante, certamente não mais para você e até mesmo para sua filha, os teatros voltarão a ter filas e ser, dentre as alternativas de diversão e cultura, a mais valorizada entre todas.

Teatro, assim como o livro, será resgatado! Mesmo porque, por tudo o que disse até aqui, o teatro, antes e acima de tudo, é live! E, cá entre nós, sem que ninguém nos veja e ouça, existe manifestação individual que nos traga e dê maior felicidade que não seja o velho, bom, extraordinário, monumental, essencial, livro de papel? Live em todos os sentidos! Vinicius dizia que “o uísque é o melhor amigo do homem, ele é o cachorro engarrafado”. Mas tem quem não goste de uísque e não tem cachorro porque dá trabalho. Sem querer criar polêmica proponho: “o livro é o melhor amigo do homem, é o cachorro encadernado”. E, para os que gostam, com uma boa dose de uísque e um cachorro ao lado. É isso amigos. Paradoxos e loucuras de um tempo louco e paradoxal.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)