Luta permanente
Em meio a todas as dificuldades porque passa o mercado da comunicação do marketing nas últimas semanas e meses – com exceção dos players diretamente envolvidos com a Copa do Mundo –, cabe o registro de um relevante acontecimento institucional na última quinta (8), que foi a reunião das lideranças que integram o ForCom – Fórum Permanente da Indústria da Comunicação.
O chamamento das mesmas, sob a responsabilidade de Dalton Pastore, Luiz Lara e José Victor Oliva, incluiu os nomes significativos de Michel Temer, vice-presidente da República e do sempre celebrado Carlos Ayres Britto, que presidiu o STF e proferiu palestra no Plenário do V Congresso Brasileiro da Indústria da Comunicação, realizado em 2012 em São Paulo.
Além de cumprir mais uma etapa do prometido programa de repetição desses encontros dos líderes representando suas entidades, a reunião realizada na casa de Dalton Pastore estreitou os laços de vigilância dos presentes em relação às ameaças que pairam sobre a liberdade de expressão comercial em nosso país.
Trata-se de um tema de há muito recorrente, que assim permanece porque os adversários não têm dado trégua. Repete-se aqui o enunciado em chavão da antiga UDN: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.
A UDN se foi com a reforma política provocada pelo regime militar, mas o ensinamento ficou para todos os setores da atividade humana que lutam pela livre circulação de ideias, o que sempre incomoda os que pensam o contrário.
Nesse sentido, foram tranquilizantes as duas falas, além da que foi proferida pelo próprio anfitrião da noite, em defesa absoluta da liberdade de expressão e, por via de consequência, da liberdade de expressão comercial.
Michel Temer é uma garantia de democracia no Executivo, enquanto Carlos Ayres Britto, mesmo tendo deixado o Judiciário pela compulsória, prossegue sendo uma voz ouvida em todo o país a respeito dessas franquias, que na verdade residem no coração de cada brasileiro.
Nenhum de nós aceita outra forma de regime político que não o democrático, mas que seja autêntico, dele não se fazendo um jogo de palavras, como tem acontecido amiúde em países onde ditaduras se camuflam de democracias para melhor e mais rapidamente conquistarem seus objetivos de poder e o próprio povo.
Como se costuma dizer que em tempo de guerra a primeira vítima é a verdade, nas ditaduras essa condição essencial ao ser humano não é apenas a primeira vítima, mas a vítima continuada, pois o poder absoluto exige mentiras absolutas e o resultado disto a História conta e reconta.
De uma maneira muito simples, para caminharmos para o nosso contexto da liberdade de expressão comercial, os nada democratas agem como se fossem, autointitulando-se defensores de determinados segmentos desamparados da população, como a maioria das crianças no mundo, os cidadãos que vivem abaixo do limite da miséria, os menos esclarecidos, os pobres de espírito que se tornam presas fáceis de promessas irrealizáveis e por aí afora.
Cabe aos cidadãos de bem evitar a prevalência desse tipo de artimanha política, que de tempos em tempos ressurge e namora grande parte da humanidade, como hoje podemos presenciar em várias partes do mundo.
Não se trata – por ora – de uma guerra travada com armas de fogo, ou brancas, como antigamente se denominavam as que ferem sem fazer barulho. Trata-se da mais vil das guerras, a que se ganha por meio do engodo, prometendo mais do mesmo a cada cidadão que, apesar da sua condição de muitas carências, conserva ainda a mágica virtude da esperança.
Esses formam o público-alvo preferido dos charlatões, que se proliferam em todas as partes do mundo vendendo diamantes e entregando fragmentos de vidro da pior espécie.
Em nome de todos os empresários e profissionais que exercem suas funções no complexo segmento da comunicação comercial no Brasil, Dalton Pastore sintetizou toda essa preocupação, exemplificando com um fato que tem se tornado corriqueiro na vida pública brasileira, que é a preferência por alianças com países onde a liberdade de expressão é inexistente.
Dize-me com quem andas e te direi quem és traduz com clareza para os bons entendedores, que a preocupação dessas lideranças – espelhando todo o mercado – não é gratuita.
Compete a cada um de nós, assim sendo, travar a mais ingrata das lutas, que é a de lutar à luz do sol contra quem sequer se revela nas sombras.
A sorte de há muito está lançada, com a vantagem da escolha nos pertencer.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2497 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 12 de maio de 2014