Madia: Nem Books nem e-books
Enquanto passamos os últimos dez anos comentando, discutindo, prognosticando, palpitando, deixamos de olhar de cima, de sair do plano, de ver em perspectiva. E a realidade é outra e muito mais simples do que imaginávamos.
Os dois, em médio prazo, estão condenados. Nada a ver com as características das plataformas: a analógica, de papel, e a digital, de pixels e tela. Apenas que as novas gerações abominam textos longos, de mais que duas linhas, uma página, exagerando, três! Apenas isso.
Ou seja, ou os autores de hoje reaprendem a escrever nos novos formatos e tamanhos ou suas obras vão morrendo simultaneamente à morte de seus leitores. Os mais jovens hoje estão na casa dos 40. Assim, todos eles, livros, leitores e autores, têm uma vida útil e declinante de mais uns 40 ou 50 anos.
De qualquer maneira, a maior dentre todas as surpresas não diz respeito aos bons e queridos livros de papel. Viverão ainda muitos anos com e respeito até descansarem em paz. A surpresa é o que aconteceu com os e-books. Nasceram numa vala. Numa megavala. Num fosso gigantesco entre gerações. Gerações de pessoas, gerações de gadgets.
Nasceram às vésperas do nascimento dos tablets. Todos com um e-book embarcado. E dois anos antes do prevalecimento dos smartphones. Todos, também, com apps de leitores de livros também embarcados. E assim, os exclusivamente e-books ficaram a ver navios, brilharam pela inutilidade, pela falta total e absoluta de sentido.
Os números do debacle. A história dos e-books começa com um parto mais que celebrado. O do Kindle, da Amazon, no dia 19 de novembro de 2007, por US$ 399. Em 2 de fevereiro de 2009 nasce o segundo Kindle, o 2, trazendo o sintetizados de voz – o aparelho lê para o usuário. Em 6 de maio de 2009, nasce o Kindle DX, com display de 9.7 polegadas. Finalmente, prognosticando o que o esperava, o Kindle Fire é lançado em novembro de 2011 – também com muitas das funções dos tablets… Ou seja, já deixando de ser um e-book puro. Simultaneamente, outros players caiam na mina de ouro fake e torravam milhões de dólares em similares. Redes de livraria também caíram no engodo. O fim se aproxima.
Em 2011, pico, foram vendidos 24 milhões de e-books no mundo. Depois, 18 milhões, em 2012; 16,1 milhões, em 2013; 16 milhões, em 2014; 10 milhões, em 2015 (previsão); zero, em 2018, quem sabe e sendo otimista 2020.
Deu tudo errado com os livros eletrônicos. Nasceram num gap. Nossa Senhora do Bom Parto estava de folga. Ou, como diria o saudoso Teodore Levitt, mais um caso crônico de miopia em marketing. Ou Garrincha para Feola, “Vocês combinaram com os russos?”
*famadia@mmmkt.com.br