Madia: O renascer de Isabela

Em 2010, nesta coluna, comentava sobre as desventuras de uma estilista de moda – Isabela Capeto – que acedeu em vender seus sonhos e muito rapidamente se arrependeu. Naquele momento, refletindo sobre o acontecido, eu escrevia: “Condicionar o sonho ao lucro é matar o sonho. Correr atrás do sonho e realizá-lo é a premissa para se chegar ao lucro. Condicionar o sonho ao lucro é pagar pedágio permanente para a tristeza e a desesperança. Caminhar em direção ao sonho é optar por uma trajetória de permanente felicidade, ainda que sem muito dinheiro no caminho. Em síntese, ou você privilegia o sonho, é feliz e multiplica suas possibilidades de sucesso ou você escraviza seu sonho ao lucro e vai fazer merda e ser profundamente infeliz. A escolha é sua”.

Referia-me ao que lia nos jornais e revistas de negócios: “Esse é o desafio de empresas em todo o mundo e no Brasil; assediadas todos os dias pelos fundos, bancos de negócios, incubadoras, que acreditam serem capaz de acelerar o processo de engorda dos porcos mediante injeções substanciais de dinheiro. Um – Negócio não é criação de porcos. Dois – Negócio de sucesso o tempo todo está com os olhos pregados no mercado, procurando merecer a preferência e lealdade dos clientes. Três – Criadores de porcos concentram sua atenção no peso do porco no fim do dia, do mês, do trimestre. Quatro – Construção de clientela demanda tempo, qualidade, competência e 100% de concentração no mercado. Cinco – É impossível servir-se a dois deuses simultaneamente: clientes  e investidores”. E concluía: “Ou os investidores se acalmam e mudam sua cabeça preparando-se para o sucesso e resultados de médio e longo prazo ou vão criar porcos em outra freguesia”.

Naquele momento Isabela Capeto concedia entrevista ao Valor Economico, em julho de 2010, sobre a venda que fez: “Achava que eles iam me ajudar com o conhecimento em planejamento, administração. Imaginei que haveria uma sinergia com outras marcas. Mas não existe nada disso”. Isabela não percebia nos novos sócios nenhum interesse pelos projetos sociais que idealizou como uma cooperativa de bordadeiras… bordadeiras que passaram a apostar na loteria… “Elas contam que apostam na loteria e rezam para ganhar – Isa, nós vamos ajudar você a comprar de volta sua empresa daquele banco.” No final da matéria, Isabela concluía dizendo: “Quero que a oração de minhas bordadeiras, que querem ganhar na loteria para me ajudar a voltar a ser dona de meu negócio, dê certo”.

Corta para hoje, maio de 2015. Isabela recomeçou do zero. Agora entrevistada pelo Estadão: “Foi muito complicado reaver a marca, mas valeu a pena. Consegui pagar tudo o que eu devia e agora sou 100% dona dela… Eu tinha 70 funcionários e hoje tenho quatro. Trabalho de outra maneira. Fechei as lojas, vendo em meu atelier, mando as peças para a casa dos clientes. Tive de me reinventar”.

Pequena, mínima, reduzida, recomeçando do zero, Isabela resgatou seu sonho. Vai dar certo.

*famadia@mmmkt.com.br