Mais confunde que esclarece

1. O horário eleitoral gratuito na mídia eletrônica faz mais mal do que bem à atividade política brasileira.

Mostra personagens bizarras, tendo por detrás marqueteiros de quinta categoria produzindo mensagens estapafúrdias, ininteligíveis e totalmente fora do contexto (e da seriedade) do que deveria ser o uso desse tipo de mídia à disposição dos candidatos às eleições de outubro.

Desde um Tiririca, que pretende reeleger-se, até os candidatos ao mais alto cargo da vida republicana, que é a Presidência da República, o que se vê é simplesmente constrangedor.

O marqueteiro de Tiririca – talvez ele próprio – criou um bordão que acha o máximo em um país que tanto precisa de educação, principalmente no seu cotidiano político: “Tá com o saco cheio da política? Vote em Tiririca”.

Pronto. O autor descobriu a pólvora com a rima do apelido do palhaço-deputado justaposta à atividade profissional que galgou, graças ao baixo nível de exigência do povo brasileiro.

Porque só um eleitorado extremamente complacente vota em um candidato esculhambador, que contribui com a sua displicência para rebaixar um pouco mais o desempenho da classe política brasileira.

Mas ele é apenas um símbolo do desencanto que desde há muito se apossou do eleitor brasileiro. Faz décadas que o rinoceronte Cacareco foi “eleito” vereador em São Paulo, com maioria esmagadora de votos.

Porém, como em todos os grupos de pessoas, há bons e maus. Não custa muito ao eleitor pesquisar, dentre os candidatos, os aventureiros e aqueles que têm boa folha corrida prestada à comunidade.

Voltando ao horário eleitoral, mesmo os que disputam os mais altos cargos da administração pública, têm se apresentado em sua maioria de forma reprovável, bisonha até, preferindo na maioria das vezes o ataque aos concorrentes adversários, do que se limitarem a apresentação de bons programas que pretendem cumprir.

Talvez não saibam, os que desejam cargos mais elevados, que prestam um desserviço ao país e à democracia quando transformam o debate político em rinha de galos, onde ofensas e acusações se transformam nas únicas ferramentas a serviço de uma comunicação que, por ser gratuita, deveria ser mais inteligentemente aproveitada.

2. A revista Vogue Kids, encartada na última edição da consagrada Vogue (Editora Globo), exagerou ao reproduzir em ensaio fotos de meninas em poses que muitas modelos adultas recusam.

A discussão sobre o tema é sempre um caminho de muitas mãos, mas quando se envolvem crianças de tenra idade em um país que não consegue um consenso no debate sobre a rebaixa da maioridade penal, fica claro o abuso.

Vogue Kids, mesmo sem querer produzir sensacionalismo, prestou um desserviço à causa da liberdade de expressão, que sempre se defende imaginando a ação com responsabilidade.

Crianças não devem frequentar fotos de ensaios fotográficos da forma que ocorreu na “Sombra e Água Fresca”. Principalmente nesta quadra da Humanidade em que se agigantam os crimes de pedofilia, hoje contando com as “facilidades” da exposição pela web.

3. O Brasil sempre surpreende. Embora os prognósticos econômicos não sejam dos melhores para os últimos meses do ano e, segundo os mais pessimistas (ou realistas?) também para todo o ano de 2015, o mercado publicitário – sempre uma consequência do todo da nossa economia – dá sinais ainda que tímidos de recuperação.

Setembro, por exemplo, está apresentando resultados para a mídia em geral, agências, produtoras e fornecedores do mercado, acima do que dele se esperava antes de começar.

O mesmo deverá ocorrer – e com maior carga positiva – no último trimestre, quando a aproximação do Natal sempre faz melhorar as expectativas, levando-se em consideração nessa análise a grande ajuda proporcionada pelo 13º salário para os compradores, traduzida em alegria para os vendedores.

Um país de duzentos e dois milhões de habitantes e que é a sétima economia do mundo, tem mesmo é que reagir diante das suas sucessivas crises nem sempre nascidas no âmbito da economia, mas que acabam por atrapalhar o seu desempenho.

Nossa cultura econômica depende ainda em excesso do Estado, como produtor e controlador, o que a obriga a caminhar de mãos atadas à política, ainda por muito melhorar no Brasil.

De qualquer forma, porém, as coisas avançam, a produção reage, o consumo – embora com maior dificuldade – também, possibilitando expectativas melhores para todos.

O Brasil é um país de muitas oportunidades e hoje começa a contrariar o enunciado de Roberto Campos, que ditou regra nas décadas de 70 e 80, influenciando as seguintes até a última: “O Brasil não perde a oportunidade de perder oportunidades”.

Aos poucos, estamos aprendendo a reverter esse quadro e 2014 pode significar muito nesse sentido.

Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2515 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 15 de setembro de 2014