Mais story menos store: quando o varejo se inspira nas startups
Logo da Story
Num evento marcado por temas como internet das coisas, inteligência artificial e carros autônomos, uma das apresentações mais empolgantes (e lotadas) que assisti no SXSW, vem do tradicional mercado do varejo. Rachel Shechtman, fundadora da Story, conseguiu criar mais do que uma loja empolgante: criou um novo modelo de negócio em um mercado, segundo ela, extremamente estático.
A Story é uma loja sediada em Nova Iorque que se reinventa totalmente a cada três semanas. Tudo novo! Do visual merchandising às mercadorias vendidas. Nem uma peçinha igual.
Quando inaugurou a loja em 2011, Rachel Shechtman se inspirou no modelo das startups. “Se elas podem lançar negócios em beta, por que isso não pode ser aplicado no mundo físico?” A loja foi lançada com o nome de Start-up Store vendendo apenas produtos de fornecedores também startups.
O modelo da Story está baseado em três premissas: O ponto de vista de uma revista, mudar como uma galeria, e vender como uma loja. Tudo está baseado em 3C’s: Content (conteúdo), Community (comunidade) e Commerce (comércio).
A visão editorial está por trás de cada “story” contada a cada três semanas. Até agora foram 28 diferentes “stories”, que vão do empoderamento feminino ao bem estar, passando por temas como amor, cores e uma parceria muito bem sucedida com a estrela do instagram Donald Robertson @Drawbertson.
De fato cada “story” se parece muito com um editorial de revista. Nesse modelo a mercadoria se transforma em conteúdo e a cada três semana a loja se torna uma nova narrativa.
Outra inspiração do mundo digital: formação de comunidade. A principal característica de uma comunidade é a conversa. Esse é o princípio da grande quantidade de eventos que a marca promove. Ao mudar na velocidade de uma galeria, a marca oferece sempre um elemento novo que a conversa permaneça viva.
Pensar o varejo como mídia é a principal visão de Rachel Shechtman. Para participar da conversa e fazer parte da comunidade, marcas como GE e P&G têm investido muito dinheiro na Story. Elas estão pagando para fazerem parte desse contexto, como se tivessem comprando uma página dupla. Marcas patrocinando uma loja de varejo não no sentido da velha ativação, mas no sentido da geração de experiências e de conteúdo.
A experiência da loja está repleta de tecnologia, mas a tecnologia está ali como plataforma de entretenimento e não como um fim. O mais importante foi a transposição do modelo mental de uma startup de tecnologia para o mundo físico.
Na visão de Rachel, a Story não pode ser mais um lugar onde se vende coisas, mas uma experiência que resulta na venda pelas descobertas, pelo contexto, pela velocidade da mudança, pelo senso de comunidade. A venda se torna uma consequência natural. Experiências por metro quadrado gerando mais vendas por metro quadrado, esse é o mantra.
No coração do SXSW, em meio a exibições de robôs e simulações de vôo da Nasa, a Story é um exemplo de que a inovação vai além da tecnologia : está no modelo mental de cada empreendedor.
Flávio Cordeiro é sócio da Binder