Marcas de alimentos e bebidas reavivam a indústria de sorvetes
Diversas marcas de sorvete lançaram no último ano as próprias versões para tradicionais chocolates, achocolatados, biscoitos e até mesmo petit suisse e bebida alcoólica
Houve um tempo em que as opções de sorvetes nos congeladores dos supermercados e casas brasileiras se restringiam aos clássicos, como creme, morango e chocolate, incluindo suas variações nos famosos napolitano e flocos. Esse tempo acabou.
O que pode ser observado agora é uma imensa variedade de sabores e versões, e grande parte desse movimento deve-se ao fato de que grandes marcas de alimentos e bebidas vêm emprestando suas características – e fiéis consumidores – à indústria de sorvetes.
As inovações fazem parte do portfólio fixo de tradicionais marcas e também compõem edições limitadas e linhas sazonais – em alta, principalmente, durante o verão.
Somente do último ano até agora, foram lançadas versões da famosa bolacha Oreo, da Mondelēz (com destaque para o “sanduíche de sorvete”) e a linha Lacta, com sabores dos chocolates Lacta ao leite, Laka, Diamante Negro, 5 Star e Sonho de Valsa, da mesma empresa.
A Nestlé anunciou a versão pote do sorvete Chambinho, conhecido por seu petit suisse com embalagem em formato de coração e o picolé de Kit Kat. A marca empresta ainda o chocolate Suflair para a campanha de verão Pode ser agora, da rede Chiquinho Sorvetes, que apresenta dois produtos: Shake Mis e Milk-Shake.
A Kibon, em parceria com a Mars, passou a produzir sorvetes em pote e picolé inspirados em Snickers e Ovomaltine. A marca conta também com picolé de Toddynho, achocolatado fabricado pela PepsiCo.
Gelato de Smirnoff Ice é a grande aposta da Gelateria Cacau Show para a temporada
Em sua primeira ação de co-branding, a Cacau Show apresentou um gelato desenvolvido com a vodca Smirnoff Ice. O produto faz parte da linha sazonal de seu tradicional Festival de Verão, que conta com outros nove sabores e estará à venda até o Carnaval. Essa é a grande aposta da Gelateria Cacau Show para a temporada, que tem como objetivo “apresentar uma nova experiência de sabor e refrescância”. Com cobertura de chocolate branco, o picolé contém bebida alcoólica e, por isso, não pode ser vendido para menores de 18 anos.
Segundo Diana Sá, head de marketing da Froneri na América Latina, essa movimentação de mercado ocorre a partir do momento em que as empresas decidem apostar nas inovações sem a preocupação em diferenciar perfis de público. “Todo mundo gosta de sorvete. Devem existir exceções, mas é raro”, brinca. “A grande questão é entender a ocasião de consumo. Geralmente quando o sorvete é utilizado como uma sobremesa após um almoço de família, por exemplo, o público tende a buscar os potes maiores e sabores democráticos, que todo mundo conhece. Já para as situações de indulgência, como assistir uma série em casa com o namorado ou namorada, as pessoas buscam algo diferente, e é aí que o setor vem crescendo”, explica.
A Froneri é uma joint venture entre a Nestlé e a britânica R&R. A empresa é responsável pela fabricação de sorvetes Nestlé em diversos continentes e atualmente produz também os sorvetes da Mondelēz.
Chambinho no pote é fabricado pela Froneri
Identificando demandas
A Häagen-Dazs, da americana General Mills, aposta na estratégia de apresentar ao mercado novidades todos os anos. Em 2018, a marca incluiu em seu portfólio o sabor Pint Peanut Butter e trouxe às cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro seus stickbars (palitos), que já faziam sucesso no exterior. “A marca está em constante evolução e é claro que a versão palito não poderia ficar de fora. Decidimos trazer essa novidade para o Brasil porque a versão palito ainda representa grande parte do mercado de sorvetes e os consumidores brasileiros adoram os lançamentos nessa categoria, principalmente os millennials, que são o público-foco da marca e procuram por produtos que proporcionam uma nova experiência de consumo e têm boa receptividade por produtos on the go. Se o sucesso do produto se confirmar nessas praças, vamos expandir as vendas para outros estados”, revela a empresa.
A Häagen-Dazs aposta também em edições limitadas inspiradas em tendências globais. Em 2017, os consumidores brasileiros puderam provar os sabores de “Flowers by Häagen-Dazs”, que combinava frutas e flores, elementos inusitados na gastronomia, para reforçar seu conceito premium.
Já a Kibon comenta que possui uma equipe dedicada a analisar e entender seu público para identificar novas tendências de consumo. “Nos últimos anos, o mercado de sorvetes tem se reinventado com novos sabores acompanhando sempre as mudanças de hábitos e atitudes dos consumidores, que estão cada vez mais exigentes. Esse posicionamento garante inovações relevantes para o público e o protagonismo e autenticidade da Kibon na categoria”, afirma Luciana Soares, gerente de marketing da marca.
A executiva ressalta ainda que lançamentos recentes estão sendo pensados também com base nas mudanças de hábitos alimentares dos consumidores. “A linha Cremosíssimo Zero Lactose é um exemplo de como os sabores tradicionais, Napolitano e Creme, foram adaptados para continuar atendendo ao paladar do consumidor junto a uma necessidade, seja para quem tem restrições alimentares ou não quer alterar a dieta”, detalha.
Diana comenta ainda que o desenvolvimento de um novo sabor é uma decisão tomada com base nas demandas do público e ideias das marcas e das empresas fabricantes dos sorvetes. “Contamos com diversas fontes de pesquisa e estudamos o que cada geração busca, quais são seus hábitos e como já normalmente customizam os sabores clássicos”, diz.
Ainda segundo a head de marketing da Froneri, atualmente a repercussão dos últimos lançamentos é positiva não apenas nas redes sociais e em feedbacks de clientes, mas também nas vendas: lançado no início do último ano, o “sanduíche” de Oreo já ocupa a primeira posição no ranking de faturamento de compras por impulso da empresa.
O segredo de toda essa receita? Tempo. “Replicar algo que já existe requer degustações para que o produto-mãe e o sorvete ofereçam experiências sensoriais similares. Entre as aprovações, desenvolvimento da fórmula e agregados (acompanhamentos, como castanhas, por exemplo) e investimento em tecnologia e maquinário, um novo sabor leva de quatro meses a um ano para chegar ao varejo”, esclarece.