Mercado de voz tem potencial no Brasil e cresce com combinação de indústrias
A lista de motivos para utilizar assistentes de voz é extensa: permite o consumo de conteúdo em atividades do cotidiano, tem potencial de alcance e múltiplas possibilidades de criação e customização de conteúdo. Tudo isso faz do áudio um canal estratégico e extremamente poderoso para empresas de mídia e mercado publicitário.
Por ser um movimento novo, ainda é necessário fazer experimentação e prototipação para testar as possibilidades da tecnologia e ferramentas como machine learning, realidade aumentada e inteligência artificial, em diferentes cenários.
Mas não são poucas as marcas que querem e já estão desenvolvendo e entregando conteúdos, serviços e experiências para o consumidor.
Somente a Alexa, lançada em português no Brasil, já tem mais de 300 skills – aplicativos – no idioma, com marcas dos mais variados segmentos. José Nilo Martins, country manager de Alexa Skills da Amazon Brasil, comenta que a experiência de voz que está ligada à emoção é uma coisa muito forte e as empresas buscam explorar de forma mais completa. Show do Milhão tem interação e a voz do Silvio Santos, a de Leite Ninho, da Nestlé, pode tocar uma música de ninar, a de Netflix para a série 3% simula o jogo da trama e tem a voz de uma atriz. Skills hoje são uma estratégia poderosa para marcas de business to consumer, para ir além do que os clientes estão habituados.”
O Google Assistente, que acaba de lançar em português o Conte Uma História, tem muitos parceiros. Essa é a primeira vertical feature que Google lança com foco em famílias no Brasil. Para valorizar a cultura local e alcançar o maior número possível de pessoas, a empresa tomou o cuidado de contemplar histórias que incluíssem contos tradicionais como Os Três Porquinhos, e do folclore local, como a Iara. A ideia é incentivar a qualidade do tempo de interação da família entre os brasileiros e promover experiências que promovam a imaginação e, experiências por voz nos permitem realizar esse tipo de incentivo.
Walquiria Saad, líder de Parcerias de Produto para o Google Assistente no Brasil, explica que em 2018, o número de projetos criados com o Actions cresceu quatro vezes, e o mercado é altamente favorável ao uso de voz. “O brasileiro tem um comportamento acima da média. O país ocupa a segunda colocação dentre os que mais realizam buscas utilizando a voz. 20% delas no celular são feitas por voz, mais de 90% dos brasileiros já enviaram mensagem por áudio e 37% já deram algum comando com o recurso no smartphone, como a função programar alarme.”
Outro ponto que reforça isso é que o Google Assistente, disponível em mais de 30 idiomas em 80 países, escolheu o português como o segundo idioma para lançar o Conte uma História. “O Brasil está recebendo bem essa tecnologia, e acreditamos que esse tipo de lançamento vai fomentar o desenvolvimento e aumentar a curiosidade das pessoas.”
Questão de negócios
Além da familiaridade, muitos executivos avaliam que essa nova possibilidade de interação e entrega de valor é um movimento que poderá muito rapidamente expandir a forma como são feitos os negócios.
Eduardo Schaeffer, diretor de negócios integrados da Globo, conta que a empresa percebeu como o assunto tem ganhado força, tanto com a popularização dos podcasts quanto com o crescente uso de assistentes de voz e dispositivos de home assistant, e acredita que o consumo tende a crescer ainda mais. “Há tempos temos acompanhando, bem de perto, o desenvolvimento do segmento de áudio no Brasil, nos preparando para entregar soluções relevantes para as diferentes plataformas e dispositivos que estão chegando e se desenvolvendo no país.” Nesse sentido, o profissional afirma que pensar em flash briefings para a Alexa era um “passo fundamental para a estratégia de relacionamento” com os brasileiros.
Luciano Abrantes, diretor de inovação da Natura, afirma que essa tecnologia tem um grande potencial de se popularizar nos mercados em que a empresa atua. “Torna-se mais uma alternativa para estreitar o relacionamento com a marca. Não por acaso escolhemos a experiência de meditação guiada como a primeira skill, pois ao promover nosso propósito – o bem estar bem – fortalecemos nossa presença no cotidiano do usuário”, diz.
Além de skills, algumas empresas já integraram em seus produtos a Alexa, como a Sony Brasil, com Sony Brasil os headphones WH-1000XM3, WH-CH700N e televisores da nova linha XB.
Luís Vieira, head de marketing e comunicação na Sony Brasil, afirma que, além de gratificante, esse movimento dá a certeza de que a empresa está no caminho certo. “Essa nova função torna a experiência do nosso consumidor mais prática e intuitiva, pois oferece comandos e permite que os usuários controlem tanto as funções da TV e dos fones de ouvido quanto os dispositivos de automação, tornando as casas e os produtos mais inteligentes.”
Fora das quatro paredes
Se dentro de casas os assistentes de voz ficam cada vez mais à vontade, fora eles também seguem ganhando alcance e impacto na forma como são pensados os veículos, por exemplo. A GM, que já tem um amplo trabalho de voz, está trazendo a Alexa para os veículos. Isso será lançado em breve nos Estados Unidos e deve vir para o Brasil mais para frente, ainda sem previsão de data. Entre as coisas que já podem ser feitas fora do Brasil com Alexa no âmbito de smart home, estão usá-la de dentro do carro para ligar luzes e abrir a garagem.
Rodrigo Fioco, diretor de marketing de produto da Chevrolet, comenta que o movimento de automatizar a facilitar funções através do comando de voz é um movimento sem volta e uma realidade crescente. “O carro tem de transportar as tecnologias que você tem em outros lugares. Wi-fi, por exemplo, você tem na sua casa, no trabalho, no aeroporto, no restaurante, precisa ter no carro. Ele é uma extensão de tudo e está ficando mais inteligente, sendo um link entre o seu mundo e você, sem precisar acessar o celular diretamente”, indica.
Além da comodidade e da funcionalidade, ele chama a atenção que nos automóveis o uso da voz tem uma conotação mais essencial: o de segurança. “Além de tudo que já é feito para manter a segurança no sistema de entretenimento – como ícones grandes e ergonomia –, o comando de voz dá um passo a mais nesse sentido. Essa tecnologia está aí para manter as pessoas concentradas no que mais importa: dirigir”.
A Chevrolet tem, em praticamente todos os modelos, o MyLink, que permite uma conexão entre o motorista e o aparelho de celular. Pelo Android Auto e o Apple Car Play, o condutor pode fazer uma série de coisas como chamadas, receber mensagens de texto, de WhatsApp, projetar sistemas de navegação, ouvir música etc. O outro é o OnStar, sistema de atendimento humano que visa ajudar o motorista. Um botão no carro aciona uma central com atendimento humano. O contato é feito pelo motorista ou automaticamentese o air bag for acionado.
Sinergia de visão
Fioco avalia que o mundo de automação é a combinação de expertises de várias indústrias. Nessa questão de comando de voz, em vez de desenvolver reconhecimento de voz em diversos idiomas e países, o melhor é se associar com tecnologias mais avançadas. Para ele, as indústrias vão caminhar de mãos dadas nesse sentido para fazer boas combinações e dar mais valor agregado para o cliente. “Precisamos nos especializar naquilo que, como indústria de automóveis, temos como função, e saber se render a parcerias que são mais construtivas, somando esforços. Não competimos com concorrentes, mas com outras experiências. Acredito muito nessa sinergia, ser expert no que a gente tem de ser, e aproveitar parcerias.”
Walquiria, do Google, endossa a visão do pensamento em parcerias e afirma que o produto final não existe sozinho. Tem um trabalho profundo do Google de engenharia, de entender a voz, mas para entregar precisamos de parceiros com conteúdo relevante. É um alinhamento de objetivos. Não buscamos empresas que queiram um hype, mas que acreditem em assistentes digitais como um futuro, como uma nova forma de contato com as pessoas e acreditem que seja estratégico. Nilo, da Amazon Brasil, reforça o ponto. “Quanto mais interessante, bem desenhada e mais rica for essa experiência, melhor”.