Marcas que miram os millennials devem diferenciar características

Em julho deste ano, a Air France anunciou a marca Joon – palavra que vem do francês “Jeune” e significa “jovem”. A escolha não é por acaso, a novidade foi pensada para quem tem de 18 a 35 anos e faz parte da geração Y, os millennials. Segundo anúncio oficial, a aérea pretende oferecer “mais do que uma viagem, mas uma experiência”. Detalhes como rotas, preços, tarifas e serviços serão relevados em setembro.

CEO da Ipsos, Marcos Calliari defende um olhar mais profundo da abordagem geracional

Além de ter uma companhia aérea para chamar de sua, os millennials estão, cada vez mais, atraindo atenção e esforço de entendimento de vários segmentos e marcas. Pesquisas e ações buscam compreender esse público e conversar com ele. Mas não dá para colocar todos os millennials no mesmo grupo.

É o que aponta o estudo global da Ipsos Millennials: Myths and Realities, feito no Brasil e em 22 outros países, que investigou o que é mito e o que é realidade sobre os nascidos entre 1981 e 1994. A pesquisa aborda temas como os millennials e dinheiro, família, educação, trabalho, sexo, casamento, tecnologia, mídia, atitudes política, religião, conteúdo, marketing, confiança e saúde.

Segundo Marco Calliari, CEO da Ipsos, as pesquisas e análises geracionais ajudam a entender alguns comportamentos e a prever tendências futuras, mas não significa que é possível explicar tudo por elas. “As características que definem os millennials são complexas e, muitas vezes, marcadas por estereótipos que nem sempre condizem com a realidade”, afirma. E as marcas precisam estar atentas a isso. O papel da abordagem geracional é tentar entender o comportamento de uma geração a partir dos estímulos e contextos sociais, políticos, econômicos e culturais que eram vigentes quando essa geração se desenvolveu. E essa análise exige mais cuidado e fugir da simplificação.

“A abordagem geracional não é apenas analisar como os jovens se comportam, mas o que afetou o desenvolvimento deles para explicar isso. O que eles viveram em seus anos formativos deixam marcas para sempre. A geração que está se desenvolvendo agora, por exemplo, a chamada Z, terá um contexto diferente. E a tendência é olhar todo mundo que se desenvolveu na internet como se fosse razoavelmente homogênea. Mas não dá para homogeneizar e ver a abordagem geracional como definidor de personalidade”, diz Calliari.

Além de investir no digital

Em março deste ano, Kasper Rorsted disse à NBC que a Adidas centraria 100% de suas atenções nos meios digitais para falar com os millennials. No Brasil, desde 2014, o investimento em digital e sua importância dentro da estratégia são crescentes no país – mas isso não se resume à internet. Felipe Savone, o gerente de marketing Adidas Brasil, avalia que “pessoas acreditam em pessoas” e destaca a aproximação da marca a influenciadores digitais, com plataformas e produtos para que eles desenvolvam materiais.

A estratégia foi usada nos Jogos Olímpicos de 2016, quando a Adidas levou influenciadores para participar do evento. “Fomos a marca mais comentada durante a Olimpíada. Exatamente por conta do nosso trabalho sempre próximo dessa geração,levamos o esporte para todos, em todas as plataformas.” Mas não basta ser visto ou falado por esses consumidores para estabelecer um elo com eles. É preciso fazer parte de seu repertório de marcas de forma mais profunda. Justamente para ser percebida como parte do seu “ecossistema” social, a Adidas se preocupa em usar a mesma língua deles. “Você precisa estar conectado a eles, fazer piadas, conversar, compartilhar experiências – falar a linguagem do consumidor, em qualquer plataforma”, reforça.

Adidas apostou em influenciadores digitais nos Jogos Olímpicos de 2016

Com mais de 50% do investimento focado no ambiente digital, as ativações e campanhas nesse meio são, hoje, o pilar da estratégia de Doritos. Além desse movimento, a empresa acredita que os millennials querem participar do dia a dia das decisões da marca e esperam um diálogo transparente, ágil e útil. A forma como as mensagens são passadas e a relevância do conteúdo são pontos-chave.

Daniela Cachich, vice-presidente de marketing da PepsiCo Brasil, conta que Doritos é uma marca ousada e fora do tradicional, e a aplicação no Brasil do posicionamento global For The Bold reforçou isso de desafiar os consumidores a serem o que eles querem ser, mesmo que signifique romper com o status quo. “Isso é algo extremamente importante para este público, que acredita na quebra de convenções para uma liberdade de expressão e de essência.”

O lançamento de Doritos Mystery, que desafiou o público ao não divulgar os sabores, faz parte disso. A campanha também teve o Doritos Mystery Shop, em que o público podia comprar caixas com itens não relevados, ou até fazer uma tatuagem de olhos vendados, sem saber o que estava sendo desenhado. Para a executiva, a experiência é importante para esse consumidor porque ele espera mais do que o produto, quer entender qual é a “verdade” da marca.

“Nada melhor do que oferecer uma experiência que exemplifique isso e torne a empatia e a associação mais fáceis e orgânicas. Outro elemento superimportante é o fato de marcas terem pontos de vista perante causas e temas que não faziam parte do repertório de comunicação”, explica. É esse o contexto de Doritos Rainbow. Recentemente, na Parada LGBT, diversas marcas foram além de uma ação pontual e buscaram provocar a reflexão sobre um mundo mais diverso e inclusivo.

Lançamento de Doritos Mystery desafio o público, algo importante para essa geração, segundo Daniela Cachich, VP de marketing da PepsiCo

O caminho para responder a essas demandas é a marca estar em constante mudança e adaptação com conteúdos que façam sentido e pelo menos escutem a opinião do público. Justamente por essa soma do digital, da flexibilidade e a necessidade de posicionamento, a comunicação unilateral, em que a companhia não ouve o consumidor, está com prazo vencido.

“Para estar na vida do consumidor, precisa manter um diálogo aberto e honesto, tem de estreitar laços e contar histórias de maneira autêntica”, reforça Savone. Outro tiro no pé com esse público é fingir ser o que não é ou oferecer mais do mesmo. “É preciso ser consistente, mas não previsível”, finaliza Daniela.