Marcas que não se apagam, ou, a lição de Fernando Diniz
Todas as pessoas, sem exceção, sempre deveriam tomar todos e muito mais cuidados em seus comportamentos públicos. Todas. Uma das primeiras e mais importantes lições de branding. De branding pessoal.
Não importa se a ação envolve unicamente outra pessoa. Duas ou três, quem sabe, em torno de uma mesa de reuniões, ou no restaurante, ou na praça, enfim, na vida. Descuidar-se, jamais.
Pior, infinitamente pior, injustificável e inaceitável, se essa pessoa tem algum tipo de liderança formal ou informal. Aí o escorregão, o destempero e o descontrole são devastadores. Não com as pessoas ofendidas, com o ofensor; ainda que, e eventualmente, coberto de razão.
De certa forma, por sua coragem, resiliência, e tentativas de inovação, torcedores de todos os times revelavam algum grau de admiração e simpatia pelo técnico de futebol Fernando Diniz.
Depois de passagem por diferentes clubes, onde quase todos torciam para que alcançasse sucesso com suas propostas, depois de ser técnico do Fluminense, um dia, atendendo ao pedido de seus jogadores, o São Paulo decidiu contratá-lo.
Demorou em pegar, para ameaçar dar certo e, neste ano maluco e tumultuado, começou a alcançar os primeiros resultados. Mas, e com o tempo, e ainda sem a necessária consistência, o time por ele dirigido foi sendo derrotado e saindo da disputa da Libertadores da América e da Copa Brasil.
Seguiu, com pontos de vantagem, na liderança do Brasileirão. Depois começou a perder, e desandou. Até que veio o jogo com o Red Bull Bragantino, e Fernando Diniz protagonizou uma cena deplorável. Humilhou, aos berros, com imagens e som captados por diferentes plataformas, um de seus liderados, o jogador Tchê Tchê. Diante da goleada que o Bragantino começava a esboçar sobre seu time, Diniz desabafou sobre Tchê Tchê.
Vou repetir as palavras desculpando-me pela grosseria: “Tem que jogar, caralho! Seu ingrato do caralho! Seu perninha do caralho! Mascaradinho! Vai se foder…”
E assim, na segunda-feira, 1º de fevereiro deste ano, e mesmo com as chances de vencer um primeiro e importante campeonato, Fernando Diniz conseguiu destruir uma imagem construída no correr de mais de uma década e foi demitido. Atrás do suposto inovador estava um ser humano fraco, desequilibrado, grosseiro.
É isso amigos. Seja qual for a situação, não se fala o que se quer ou o que vem à cabeça impunemente.
Nossa marca, a minha, a sua, a do Fernando, a de todos os seres humanos, é a soma do conhecimento e do reconhecimento que todas as demais pessoas de nosso relacionamento fazem de cada um de nós.
E sem sermos uma marca minimamente de qualidade, não conseguiremos ir a canto algum. Melhor mesmo nem sair de casa.
E, em ficando em casa, jamais destratar os que convivem e moram com você. É por onde começam todas as cartilhas e livros que tratam do branding. Fernando Diniz quebrou o encanto. Revelou-se e revelou o Fernando Diniz que escondia.
Por muitos anos, quem sabe nunca mais, os torcedores de futebol conseguirão olhar e ver nele o que viam até minutos antes da agressão dirigida a um de seus jogadores, a um de seus liderados.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)