Marcio Santoro: 'Criatividade é religião'
Sócio, copresidente e CEO da Africa Creative fala sobre inspiração, negócios, família
Marcio Santoro é um dos fundadores da Africa Creative, marca adotada quando ele e seu sócio, Sergio Gordilho, se tornaram sócios da holding Omnicom, há cerca de um ano, em meio a um processo de terem uma agência própria. E também da Africa original, em 2002.
“Por que não fazem seu negócio conosco?”, perguntou o grupo americano de publicidade. Aceitaram. Com a condição de uma participação societária robusta, liberdade e tendo a criatividade como combustível e fio condutor para a proposição de ideias para clientes como Itaú, Azul, Vivo, Fibra, Vale, Natura, Pão de Açúcar, Extra e Mercedes-Benz, por exemplo.
Santoro é CEO e cuida dos processos de atendimento e gestão, enquanto Gordilho lidera a criação e o branding que gera reputação. E negócios. Em breve, vai anunciar sócios para a operação, da própria agência.
O que agrega valor ao seu dia a dia na publicidade?
Uma experiência que tem me ajudado muito é cuidar dos meus três filhos. Isso me fez ver o mundo de uma perspectiva completamente nova. O mais novo tem três anos, o do meio tem 6 e o mais velho, 13: duas meninas e um menino. Fui pai aos 40 anos. Essa imersão familiar me fez aprender e a olhar as coisas por um outro ângulo. O que considerava banal, desde comida e dormir, que são coisas básicas, à tecnologia. Conversando com meu filho, vi que ele ficou espantado quando lhe disse que celular não existia quando eu era jovem. “Como assim?”, ele perguntou. Mas isso tem me ajudado muito no nosso negócio.
Então, a sua família está te ensinando a compreender o que é uma experiência de verdade?
Está me ensinando a rever coisas que eu achava que já estavam estabelecidas. Está acelerando a revisão de conceitos. Quando paro para explicar um mundo com telefone celular e o sem esse equipamento, observo o impacto que essa transformação proporciona. Uma coisa que o negócio não pode deixar de ter é que, à medida que paramos para explicar alguma coisa, aprendemos muito. Essa humildade me faz enxergar melhor as novas formas de ver o mundo; ou seja, se reinventar. Para a propaganda, lidar com coisas tão próximas e diárias, com pessoas que estão descobrindo o mundo, também é uma forma de descoberta. Outro dia falei para meus filhos menores que estava saindo para o trabalho. Uma delas perguntou: “papai, o que é trabalho?” Como explicar para uma criança de três anos o que é isso. No meu caso, comecei a revisar o que estou fazendo. Esse exercício de estar aprendendo sempre é novo.
O esporte, que é uma paixão sua, continua na mesma intensidade nessa nova fase?
Sou mais esportista hoje do que quando eu tinha 40 anos. De novo: tive de reaprender a ter espaço na minha vida para continuar fazendo esportes, encontrar tempo para família e para o trabalho. São fases da minha vida. Quando aprendo com meus filhos isso contribui para eu parar e escutar uma pessoa com mais experiência que trabalha na agência e também os jovens que ainda não têm essa bagagem.
Como está conduzindo a Africa?
Tem uma frase do Gordilho que é a nossa essência: criatividade é a religião dele e criatividade é o meu negócio. Estamos juntos há mais de 20 anos. Essa composição, que combina a visão dele sobre mim de entender o poder da criatividade, me fez conseguir transformar isso em negócios. E ele, que é um criativo por excelência e natureza, faz todo sentido. Quando voltamos a ser sócios da agência colocamos criatividade no nome. Esse é um sinal para o mercado de que criatividade é o nosso negócio; nosso ativo. Nossa relação é bastante clara. Porque quando vemos toda a disrupção que está acontecendo, todo negócio tem seu core. O nosso é a criatividade. Em qualquer plataforma. Temos de estar abertos às mudanças. Antes a tecnologia era acessório; agora é o chassi. Porque a tecnologia roda a operação. A Africa Creative é uma empresa tech que faz comunicação. Nos últimos seis anos mudamos em 70% o perfil das pessoas, os skills etc.
O negócio é outro, inclusive, na forma de se remunerar?
Sim! Mas baseada no valor da criatividade e o impacto que isso tem no negócio. Há 22 anos a Africa decidiu que 100% do negócio seria remunerado por fee. Muita coisa mudou, mas mantivemos esse conceito. Os pitchs de mídia no exterior estão levando as agências criativas junto para dar valor à mídia. Fui visitar a State of Art, empresa de compra de mídia do Omnicom, e em uma das salas estavam criativos junto com mídias.
É um benchmark do modelo brasileiro?
Aqui mídia e criação atuam juntos. Esse é o modelo brasileiro de publicidade. Acreditamos que mídia com criação é ganha-ganha para todo mundo. Principalmente para o cliente.
A Africa é inspiração para a holding?
Sobretudo em criatividade. Por causa da tecnologia, mídia e criação vão ter de estar juntas. Não dou muito tempo para isso acontecer em outros países, como ocorre no Brasil. Sou conselheiro do Cenp e vejo que a manutenção desse modelo integrado é melhor do que estar separado.
Leia a entrevista completa na edição do propmark de 22 de abril de 2o24