Marketing político, culpado ou inocente?
Antoninho Rossini
Quando editei o livro A vertigem nas urnas, de autoria do pensador e estrategista de marketing político francês Jean Jacques Séguéla, em 2007, o Brasil vivia mais uma etapa da sua endêmica crise política.
O marketing estava no olho do furacão em decorrência dos escândalos e polêmicas sobre as eleições presidenciais de 2006. Mesmo com o livro pronto para a impressão, tive dúvidas: valeria tanto esforço publicar uma obra, mesmo sendo de autoria de Séguéla, mentor de mais de dez campanhas presidenciais em vários países e ex-assessor pessoal do falecido presidente francês Francois Mitterrand?
Quem teria interesse em saber sobre marketing político, já que sua imagem estava associada a trambicagens? Na dúvida, liguei para Séguéla, que de Paris acompanhava os relatos da imprensa sobre dinheiro em cuecas, acertos de contas em quartos de hotéis, mesadas pagas a políticos e o jeitão da Justiça brasileira agir. Atento à minha indecisão, Séguéla foi direto ao ponto: “Agora é a hora para você lançar o livro. Tem tudo para despertar consciências e colocar o marketing político no seu devido lugar”.
Recebi essa observação como se fosse uma ordem. Autorizei a impressão do livro, que depois de 30 dias foi lançado na Livraria da Vila, com uma noite de autógrafo movimentada. Séguéla fez questão de vir ao Brasil para avalizar sua convicção sobre a importância do marketing político como ferramenta moderna de se construir regimes democráticos. No seu livro, Séguéla narra em detalhes estratégias, manobras, improvisos e as “pegadinhas” de uma campanha para se eleger um candidato.
Trata-se de uma obra perene de interesse para quem milita na área, um livro de ouro para quem deseja ampliar as suas competências. Mas não tem nada a ver com o que a gente vem assistindo no Brasil. Para os oportunistas, contumazes marqueteiros e consultores políticos essa leitura pode ser vista como “demoníaca”, justamente porque ela não ensina como abrir contas no exterior, como receber repasses de dinheiro por vias transversas e nem a ludibriar eleitores incautos por meio dos veículos de comunicação.
A atual crise brasileira é a mais grave de toda a sua história. Desemprego em massa, carestia, descrença nas autoridades e vergonha de ser brasileiro. Não se pode imputar a culpa somente no marketing político, mas sua dose de responsabilidade é, sem dúvida, muito grande. Deixando de lado os políticos, que de maneira geral são megalomaníacos e claudicantes em tudo, dos profissionais de marketing e consultores se espera muito mais. Supõem-se serem cultos, possuidores de leitura e sabedoria suficientes para saber diferenciar o que é bom ou não para o Brasil.
Antes de se colocarem no mercado obedecendo friamente à lei da oferta e procura, em busca de ganhos honestos (ou não), junto a candidatos e a partidos políticos, eles deveriam pensar no futuro do Brasil. Para encerrar, deixo aqui uma frase citada no livro de Séguéla, para os que desejam pensar melhor sobre o futuro: “Há sempre um futuro para quem pensa no futuro”.
Antoninho Rossini é consultor em comunicação e diretor da Editora Tag&Line (rossini@taglineconsultoria.com.br)