“McCann sem Brasil é como jogar sem Neymar”, diz diretor-geral
D’Emílio (à dir.), em Buenos Aires, compara o mercado brasileiro à alma da inovação e aposta no atual cenário de mudanças da rede
A posição da McCann não era das mais animadoras há quatro anos, quando deu início ao processo de reestruturação. Nas palavras do diretor-geral de criação para América Latina e Caribe, Chavo D’Emílio, a rede andava apática na região, desprestigiada e refém de ambiente egocêntrico. Como resultado de uma operação em que reinava o “eu criativo” e não a coletividade, a agência era considerada segura e confortável pelos clientes, mas pouco ousada, criativa e inovadora na visão da indústria. Era o sinal amarelo sendo acionado.
O executivo trouxe o relato durante o Festival Internacional El Ojo de Iberoamerica, no começo deste mês, em Buenos Aires, ressaltando que 2013 ficou marcado como momento de reestruturação na operação. A partir daí, a rede passou a olhar mais para dentro de casa para resgatar seu brilho criativo. Passados quatro anos desde a mudança, a McCann se vê em outro patamar.
Em 2016, foi eleita a rede do Ano no El Ojo, e somou quatro Grand Prix no Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, em 2017, com a garotinha destemida que encara o touro de Wall Street em Fearless Girl, da McCann de Nova York. Para o executivo, o resultado está diretamente relacionado à reestruturação de lideranças, mais focada na horizontalização do comando.
Pedra da Coroa para a rede, o Brasil está vivendo à flor da pele as mudanças que já têm sido feitas em menor ou maior escala nas demais operações na região, como Argentina, Colômbia e Peru. Com a recém-chegada de Hugo Rodrigues como chairman e CEO no lugar de Washington Olivetto, o negócio brasileiro está às vésperas de grandes transformações observadas com lupa por toda a rede, ainda que seja “um mundo em si mesma de tão grande”, como pontuou D’Emílio em entrevista ao PROPMARK.
O executivo destacou a relevância do mercado nacional, visto como “a alma da inovação na América Latina”. Fazendo paralelo entre um de nossos principais produtos de exportação, o criativo foi categórico: “A McCann sem o Brasil é como jogar sem Neymar”. “Nos últimos anos temos focado nossas energias no Rio de Janeiro, com apoio do Nico (Nicolás Romanó, diretor criativo da W/McCann), além da operação em São Paulo, há até pouco tempo liderada por Olivetto. Agora, a chegada do Hugo é parte de um processo de reorganização que a McCann já vem trabalhando há algum tempo”, afirma D’Emílio.
Renascimento e mudanças
De fato, o movimento em busca de mais criatividade e inovação pode ser observado em toda a operação na América Latina e Caribe. Em Lima, no Peru, por exemplo, Christian Caldwell, VP de criação local, destacou que o trabalho tem sido feito com objetivo de empoderar toda a equipe, para que se sintam responsáveis pelo trabalho coletivo. “Olhamos a agência de dentro para vermos se tínhamos talentos suficientes para essa grande mudança. O que ficou claro é que era preciso acordar esses talentos, recuperar a fome e acreditar que podíamos fazer a mudança”, destacou o executivo.
Responsáveis por trabalhos como The hijacked highway, maior experiência em realidade virtual do Peru, para a Sodimac, eleita a melhor ideia local no El Ojo este ano, a McCann Peru vive o momento em que não tem mais medo de falhar, como destaca seu executivo. “Era importante compartilhar com a equipe que era possível fazer a mudança. Pedimos licença para falhar e um voto de confiança para os clientes. Cuidamos do empoderamento das pessoas”.
De volta ao Brasil, D’Emílio espera cenário semelhante de renascimento e mudança. Fã do craft e direção de arte brasileiros, o criativo está com grandes expectativas sobre as novidades. “A ideia é que Hugo vá trazer tudo isso que estamos falando, esse é o pulso do momento que vivemos. O Brasil é um mundo em si mesmo, mas obviamente está conectado a McCann América Latina”, destacou. “Hugo vai ajudar muito a McCann a recuperar o lugar que deve manter no Brasil. Não tenho dúvidas”, finalizou.
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