Meia-entrada movimenta produtoras
Em um final de ano particularmente ruim para as promotoras de eventos, com encalhe de ingressos e faturamento em queda, empresas do setor de entretenimento estão se articulando para formar uma associação que permita alinhar agendas e debater pontos considerados cruciais pelo segmento, como a meia-entrada. O direito ao ingresso pela metade do preço tem tirado o sono das companhias, que esperam novas regras para a concessão do benefício. “A meia-entrada vai quebrar o setor de entretenimento brasileiro”, aponta Nizan Guanaes, chaiman do Grupo ABC, controlador da promotora de espetáculos XYZ Live.
Na semana passada, entrou em fase final a tramitação na Câmara dos Deputados do projeto de lei 4571/08, do Senado, que limita em 40% os ingressos para estudantes e idosos. O texto chegou na última quarta-feira (13) à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara, onde aguarda parecer. Se aprovado, dispensa deliberação no plenário por tramitar em caráter conclusivo. O texto já passou pelas comissões de Defesa do Consumidor, Seguridade Social e Família e Educação e Cultura.
As empresas do setor acompanham de perto o andamento da proposta. “O mecanismo de meia-entrada cria distorções horríveis para o mercado”, afirma Leonardo Ganem, presidente da Geo Eventos. Segundo ele, a elevação do preço dos ingressos a patamares impraticáveis pelas empresas do setor é resultado do dispositivo. Para o Lollapalooza 2013, em que 93% dos tíquetes foram comercializados com desconto, os preços foram dobrados para garantir retorno, afirma. “Quando desenho tabela de preços para tornar show viável, estipulo qual valor vou precisar de cada consumidor. Ao saber que 90% vai pagar metade disso, dobro o preço para garantir o faturamento”, justifica. “Os preços caros são por essa conta e não escondemos que fazemos tal cálculo”, diz.
A meia-entrada é apenas um dos pontos que sinalizam uma crise no setor. Além do desconto, o setor atribui a queda no faturamento a fatores como maior endividamento do consumidor e a alta do dólar nos últimos dois anos. No terceiro trimestre do ano, a Time For Fun registrou queda de 29% nos lucros da empresa, fechando o período com R$ 12,54 milhões. Entre os motivos, a empresa atribuiu a queda de 5% na venda de ingressos e ao número 14% menor de espetáculos comparado com o ano passado.
Estima-se que o setor de eventos movimente R$ 12 bilhões anualmente e que as produtoras de espetáculos representem 10% desse montante. A formação de uma entidade terá como objetivo defender os interesses do setor junto ao governo. Além do desconto, as empresas reclamam da carga tributária, que pode chegar a 45% do faturamento total das produções, e os custos com logística, como fatores que encarecem a produção.
A associação terá o papel de alinhar interesses das empresas de entretenimento, como a agenda de shows, além da construção de um banco de dados em conjunto pelas companhias do segmento. “Hoje atuamos de forma muito separada e acabamos entrando em guerra por artistas. O setor não é unido, não temos visão conjunta sobre nossa influência. Navegamos no escuro”, afirma Ganem.
As empresas que vendem tíquetes, como ShowCard, LifePass e TicketForFun, acabam de formar uma associação própria. As duas entidades devem compartilhar uma agenda comum em alguns pontos, como a taxa de conveniência.
Desconto
A concessão de meia-entrada para estudantes existe no Brasil desde a década de 1930, mas o benefício nunca foi instituído por lei federal. Uma das queixas das produtoras de shows é a falta de controle na emissão das carteiras de estudantes. O projeto de lei em análise na Câmara traz novas regras para a expedição do documento.
Se a lei for aprovada, a Carteira de Identificação Estudantil será confeccionada pela Casa da Moeda do Brasil, com padrão nacional único definido pelas entidades estudantis nacionais e passará a ser emitida por organizações específicas.