Mentes sustentam o impacto das campanhas em tempos de automação

Plataformas destacam como dados, automação e algoritmos otimizam processos, mas reforçam que a criatividade segue insubstituível

Em um mercado atravessado pela automação, algoritmos preditivos e decisões orientadas por dados, a sobrevivência da publicidade passa pelo investimento em um ativo insubstituível: o talento humano. Ainda que a inteligência artificial (IA) esteja transformando profundamente a forma como marcas e consumidores se conectam, lideranças das principais plataformas reforçam que é o fator humano que continuará gerando valor criativo e estratégico.

A IA tem impulsionado a personalização de experiências em larga escala, com base em análises de comportamento, preferências e contextos de navegação. “Isso permite uma compreensão mais precisa das necessidades dos clientes, com ofertas e soluções personalizadas. Além disso, a IA está sendo utilizada para criar experiências de atendimento ao cliente mais eficientes e adaptáveis”, explica Paulo Samia, CEO do UOL.

Paulo Samia, CEO do UOL | Imagem: Divulgação

Esse movimento também é visível nas ações do Google, por exemplo, onde a IA está presente em ferramentas como o Video Reach Campaigns e sistemas de recomendação no YouTube. “Essas tecnologias permitem que as marcas testem e façam correções rapidamente, melhorando o desempenho de suas campanhas”, aponta Gustavo Souza, diretor de produtos e soluções publicitárias do Google.

Gustavo Souza, diretor de produtos e soluções publicitárias do Google | Imagem: Divulgação

No LinkedIn, a IA já colabora com os usuários em tarefas como sugestões de mensagens e produção de conteúdos colaborativos. “O resultado é uma interação mais eficiente e com mais significado. Os profissionais ganham confiança na forma como se apresentam, e as marcas conseguem desenvolver campanhas mais direcionadas e baseadas em intenção, e não apenas em alcance”, reforça Ana Moises, diretora de soluções de marketing do LinkedIn.

Ana Moises, diretora de soluções de marketing do LinkedIn | Imagem: Divulgação

Padronização

Apesar das vantagens operacionais, especialistas alertam para os perigos de uma publicidade excessivamente previsível. “A IA só padroniza quando a criatividade não é colocada no centro. Por isso, na Teads, tratamos a IA como ferramenta e não como solução final”, afirma Guilherme Lima, managing director da Teads. Ele defende que os sistemas devem servir como apoio à criação  e não como substitutos. “A IA ajuda a entender padrões, mas é a criatividade humana que quebra esses padrões com ideias originais.”

A visão é compartilhada por Claudine Bayma, diretora-geral do Kwai Brasil. “A função da inteligência artificial é otimizar — e não substituir — a criatividade humana. Ela pode apoiar desde a produção de desdobramentos de peças em escala até a localização de campanhas (idioma, legendas, dublagem), mas quem traz o frescor criativo, o storytelling, o olhar sensível e a conexão é sempre o ser humano.”

Para o Pinterest, o desafio está em evitar o uso automático da tecnologia. “Sabemos que a IA nos auxilia em todas as partes das nossas vidas e, sem dúvida, na publicidade não seria diferente. Mas, vejo que é sempre bom estarmos atentos a isso para não deixarmos a humanização de lado. É claro que a tecnologia nos abre portas e encurta nossos caminhos na publicidade, principalmente quando se trata de dados e chegar em públicos que antes não imaginávamos”, destaca Rogério Nicolai, diretor de negócios da empresa no Brasil.

No caso da Deezer, o cuidado se estende à proteção de direitos autorais: a empresa lançou um sistema para detectar conteúdo gerado por IA generativa e garantir a curadoria humana em suas playlists.

Com apoio de IA, o Flow cria uma trilha personalizada com seus favoritos e sugestões da Deezer | Imagem: Divulgação

“Se a criatividade humana for deixada de lado, a IA tende a apenas reorganizar o que já existe, o que pode tornar a publicidade mais previsível e padronizada. Para que a IA generativa seja realmente criativa, ela precisaria reproduzir atributos humanos como emoção, intuição e imaginação — capacidades que a tecnologia ainda não possui”, explica Pedro Kurtz, diretor de conteúdo e operações da Deezer Américas.

Leia a matéria completa na edição do propmark de 26 de maio de 2025

*A imagem no topo é assinada por Douglas Barreto, diretor de arte da VML: “A ilustração representa a minha interpretação da inteligência artificial como um espelho expandido da mente criativa. Acredito que, no contexto da publicidade, a IA depende profundamente do nosso olhar — é por meio das nossas experiências, vivências e repertório que ela ganha sentido, direção e profundidade. Vejo a IA como um campo fértil, mas ainda em construção, no qual a curiosidade é a maior aliada. Cada nova atualização revela possibilidades que surpreendem, provocam e, ao mesmo tempo, exigem responsabilidade. Para mim, a criatividade continua sendo humana — a IA é uma ferramenta; um espelho que amplia, mas não substitui. A personalidade que damos a ela é o que realmente pode transformar o mercado e revelar novas camadas de significado”.