Mentira tem perna curta

A revista The New Yorker divulgou que a marca de roupas Hollister utilizou a técnica de storytelling para contar sua história e que, no entanto, os fatos não são verdadeiros.

Como assim, “utilizou a técnica de storytelling”?

Temos aqui dois problemas: 1) Da Hollister em mentir para seu consumidor e 2) Da New Yorker de banalizar o storytelling.

De acordo com a campanha da Hollister, a marca passou a existir em 1922 depois de uma série de encontros e desencontros, que foram inventados pela agência que criou tal campanha.

Em primeiro lugar, storytelling não é apenas você resgatar eventos numa sequência cronológica. Não vamos confundir “history” com “story”. Mas é o que muitos pensam. “Ah, mas não quero usar storytelling pois não quero ficar olhando pro passado”, é uma colocação que muitos clientes me trazem.

Dilleto e Sucos do Bem, também embarcaram nessa. Dilleto inventou um passado que não existiu e Sucos do Bem mascarou a realidade com informações mentirosas.

E mentira ou uma “meia verdade” não tem nada a ver com storytelling. Meus pais sempre me diziam: “filho, mentiras tem pernas curtas”. E o subtexto desta afirmação é que, se você mente, um dia, de um jeito ou de outro, vão descobrir.

Fico imaginando o que faz uma marca mentir ou inventar um passado que não existiu. Será que é assim que eles acham que se cria uma ficção? Ou será que eles acham que em nome do storytelling pode-se comunicar qualquer coisa? Ou seria uma forma de dizer que os “criativos” já sabem tudo ou o que vier deles é algo inquestionável, genial e ainda candidato a prêmio em Cannes?

Só que eles não sabem que já existe o Google e que storytelling não é nada novo, nem inventado por ninguém. É a mais antiga forma de comunicação existente. E todas as disciplinas de comunicação corporativa – branding, marketing, publicidade e vendas – bebem da mesma fonte: do storytelling (isso quando bem utilizado).

A “verdade” é a premissa que direciona qualquer boa história. E não vejo porque fugir dela. Neste caso, a marca Hollister foi fundada pela empresa Abercrombie & Fitch, em 2000, pelo empresário Mike Jeffries. Em junho do mesmo ano, a primeira loja da marca foi inaugurada em Columbus, Ohio. Com isso e muito mais, pode-se criar uma estratégia de storytelling capaz de engajar o consumidor sem precisar inventar fatos para deixar a história aparentemente mais bonita.

A falta de criatividade e de entendimento do que é o verdadeiro storytelling fez algum “criativo”, um dia, pensar enquanto tomava banho: “humm, já sei, vamos inventar uma história que não existe e mostrar que a marca é tradicional, coisa que ela não é, mas vai trazer tanto benefício que vale a pena contar esta mentira! Ninguém vai descobrir mesmo, então, porque não?”. Criar uma falsa história não é o mesmo que fazer ficção, pois esta, apesar de uma trama praticamente impossível, é baseada em valores universais e verdadeiros. Star Wars, uma ficção, que é verdadeira no sentido das emoções e sentimentos do lado ‘negro’ do ser humano. Uma ficção não pretende fazer com que você acredite que aquilo é verdade.

Segundo pesquisa realizada pela consultoria que deu suporte na criação no seriado “Lie to me”, o ser humano conta 3 mentiras a cada 10 minutos de conversação.

Já estou achando que as universidades ou até mesmo as escolas fundamentais deveriam ter uma disciplina que ensina as pessoas a detectarem mentiras. Eu sou candidato a dar algumas aulas.

Aliás, para finalizar este artigo, uma curiosidade: você sabia que minha empresa, a The Plot Company, foi idealizada por Aristóteles, criada por Sigmund Freud, recebeu aporte de Steve Jobs e hoje opera em todas as principais capitais do mundo, inclusive com pretensões de chegar em Marte através de uma parceria recente feita com a NASA?

Pois é, J

Joni Galvão é fundador da The Plot Company