Este é o título de uma matéria especial de Época Negócios, assinada por Alexandre Teixeira e Nayara Fraga. Na abertura da reportagem, o melhor retrato do caos instalado: “Como as grandes empresas estão absorvendo startups (ferrou!). Para acelerar processos de inovação e abrir novos espaços no mercado (ferrou mais ainda)”. Mas recomendo a leitura. Está tudo na matéria. Como jamais deveriam proceder ou a apoteose ao autoengano.

O pior lugar para nascer o novo é a barriga de um quase dinossauro. E assim seguem as grandes empresas, inclusive as supostamente novas, e, como nos alertou Scott Fitzgerald, “barcos contra a corrente arrastados incessantemente para o passado”. Mas posam e acreditam como se estivessem na vanguarda do futuro… Empresas “absorvendo startup”, uma impossibilidade absoluta, investindo em startup sem se meterem ou palpitarem, ainda resistem. Absorvendo acaba no segundo seguinte. Muitas vezes na mudança. Na maioria das vezes no anúncio. E “abrir novos espaços no mercado” é de uma burrice e estupidez abissal. Não se abrem novos espaços. O máximo que se pode fazer é identificar oportunidades não percebidas e, se percebidas, ignoradas ou absolutamente impossíveis de serem detectadas por olhares e cérebros contaminados.

Na introdução, a matéria ameaça trazer uma luz: “A postura tradicional de uma empresa estabelecida, grande e vertical, sempre foi a de construir em torno de si um muro tão alto quanto possível. Esse isolamento cumpria premissas estratégicas… (até aqui ok!)… isso mudou. E radicalmente. A história de relações entre as grandes corporações e as jovens companhias, as startups, é relativamente curta, mas já passa por uma mudança de paradigma. As palavras-chave que norteiam esse convívio deixam de ser “hostilidade” e “indiferença”. Elas foram substituídas por “colaboração” e até por “coabitação”, no sentido de atrair os jovens empreendedores para dentro da casa…”. Mais Que Ferrou!!! Regra Zero: jamais, em hipótese alguma, caso sua empresa deseje investir no novo, no verdadeiramente novo, considere a hipótese da proximidade. No mínimo, muitos e muitos quilômetros de distância. Qualquer contato contamina irreversivelmente. O embrião de novo gora instantaneamente. E como é que faz? Uma equipe mínima e em ambiente neutro para construir o plano. E, depois, adeus. Apenas relatórios de acompanhamento e prestação de contas.

Quando o novo se materializar e se revelar viável considera-se, ou não, a possibilidade de se internalizar o novo no velho. Em 90% das situações, a decisão será de jamais fazer isso devido aos elevadíssimos riscos de contaminação. Muito maiores do que os dos primeiros transplantes de coração. Rejeição quase que na certa. Assim, o novo deverá seguir apartado e, se conveniente e viável, prestar serviços às empresas investidoras/mantenedoras. A matéria de Época é a apologia à promiscuidade. E algumas das manifestações cheiram a bolor e ranço. De uma consultoria, “a mudança é muito rápida, e as empresas tradicionais já não podem se dar ao luxo de moderar o ritmo da inovação”. Sacou, o tema é o novo e a conversa gira em torno de “dar-se ao luxo”. Socorro!!! Ou, o título de um manual para que essa impossibilidade absoluta produza frutos de qualquer natureza: “Vencendo juntas: um guia para colaborações de sucesso entre corporações e startups”. Não existe essa possibilidade! Apenas isso!

Em síntese, encubar entrou na moda. Virou papo de velhos – não de idade, mas de cabeça – nas associações dos diferentes setores. A melhor forma de nascer e encubar o que quer que seja, para que seja novo de verdade, é o que nos ensina a natureza nas palavras de Marguerite Yourcenar: “O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios”. Tudo o mais é modismo e exibição. Diretores de empresas enrolando e ganhando tempo para a aposentadoria.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)